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Expresso 2022
PublishNews, Gustavo Martins de Almeida, 08/09/2021
A partir da canção de Gilberto Gil que dá título (reduzido um século) a este artigo Gustavo Martins de Almeida correlaciona o tempo e as novas tecnologias: do NFT ao metaverso e à inteligência artificial

“Pães de Açúcar
Corcovados
Fustigados pela chuva
E pelo eterno vento...”
(Tempo Rei, Gilberto Gil).

O sensibilíssimo Gilberto Gil despertou a atenção, mais uma vez, em 1972, quando criou a composição musical Expresso 2222, para o então inimaginável, e hoje um pouco menos longínquo ano. Mas algumas efemérides e números fazem com que, aqui e agora, eu aborde outro expresso, dois séculos anterior, que circula ano que vem e intitula esse artigo.

A humanidade sofre processo de crescente aceleração do tempo histórico, no qual os ciclos sociais se completam cada vez mais rápido e de modo mais intenso.

A maior velocidade do fluxo do tempo aproxima as datas e o gargalo da ampulheta fica estreito para dar passagem a tanto conteúdo.

Em 2022 completam 80 anos de idade Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Paulinho da Viola! Numa outra posição geográfica Paul McCartney, Carole King, Giorgio Agamben, Manuel Castells e Calvin Klein. Na dimensão imaterial temos Tim Maia, Jimi Hendrix, Rubens Gerchman, Stephen Hawking, Eusebio, Nara Leão e Cassius Clay.

O que teria acontecido 80 anos antes dessa data no Brasil? Em 1942 a Portela foi campeã do Carnaval carioca. Carlos Drummond de Andrade publicava o livro Poesias, pela Editora José Olympio. Eclipses solares ocorrem em agosto de 1942. O Cruzeiro é lançado como moeda brasileira. É o ano do cavalo no horóscopo chinês. Foi fundado o Grupo editorial Record no Brasil.

O presidente Vargas baixa o importantíssimo Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, que institui a Lei de Introdução ao Código Civil, baliza das normas do Direito brasileiro, como especifica a atual nomenclatura.

Mil novecentos e quarenta e dois foi fértil! A epigenética, a influência externa na geração dos seres humanos, pode ser uma explicação? A ciência e a coincidência dão um apoio e tempero a possível resposta.

Em setembro de 1941, observatórios astronômicos do planeta, dentre eles o de Greenwich, Mount Wilson na California e Washington detectaram uma das maiores tempestades magnéticas já registradas na Terra. O rádio e a eletricidade começavam a ocupar intensamente o cotidiano mundial e a Segunda Guerra Mundial assustando o mundo (o Brasil declarou Guerra em 22/8/1941).

Os efeitos dessas tempestades foram estonteantes. Comunicações foram interrompidas, transmissões de jogo pelo rádio sumiram, um comboio marítimo de aliados no Mar do Norte foi atacado, pois a noite de lua nova foi iluminada fulgurantemente e tornou os navios visíveis.

Em 10 de setembro de 1941, astrônomos constataram explosões nunca vistas na superfície do Sol. Em 17 de setembro as explosões solares causaram perturbações na atmosfera e interferiram nas comunicações de rádio de alta frequência.

As descrições dos fenômenos noturnos oscilam entre fogos de artifício celestiais, pincel cósmico e luzes de neon.

A entrada dos EUA na Segunda Guerra fez supor que seriam possíveis sinais de defesa aérea. A interpretação de Bing Crosby da música Where the Blues of the Night (meets Gold of the Day), transmitida por emissora de rádio norte-americana foi interrompida por conversas de amigos sobre amores noturnos.

Se essas explosões ocorressem hoje poderíamos ter interferências no GPS (Global Positioning System) alteração de rota de satélites, de voos de aeronaves, de distribuição e energia elétrica e muito mais.

Será que a ciência que estuda as influências externas na concepção do ser humano justificaria o surgimento de tantos gênios em breve oitentões? A epigenética é mais uma vez invocada. A luz que emana desse timaço de 1942 é proporcional a explosão solar de 1941. Eles sintetizam e recriam o mundo!

O filme Era uma vez um verão (Summer of ’42) narra mais uma das relações intensas naquela época.

Voltamos para o Brasil artístico e vemos essa constelação de doces meteoros terrestres em nosso cenário. Constatar que ultrapassamos data símbolo de ficção científica (2001 uma odisseia no espaço) gera inquietação e expectativa ante o desconhecido, agravadas pela imprevisível pandemia!

Novas dimensões surgem; o metaverso, mundo paralelo, o NFT, a inteligência artificial influenciam e modificam a relação tempo/realidade. Muitas indagações surgem, mais que nunca, da influência do fator tempo em nossas vidas.

Principalmente para os artistas, a dimensão é tripla e simultânea: o presente é o agora, foi o futuro do passado (ficção científica) , e será o passado do futuro (história).

Mas o momento é de êxtase e pré-celebração; primeiras oito décadas desses iluminados; Gil, Caetano, Milton e Paulinho. Usamos o tempo para medir produção atemporal, tão fértil revertida em proveito da sociedade.

E seguem, cada um deles, com ”realce”, “régua e compasso”, “nesse info-mar”, no “apogeu da primavera”, de “mil tons geniais”, merecem “aquele abraço”, são “super-homens”, “superbacanas”, pois “ todo o dia é de viver”, e seu “coração tem mania de amor.”

Quantos momentos (bem) vividos com essas obras !

E para não dizer que não falei de Direito, cada vez que as composições musicais desses autores são executadas, reproduzidas, em rádio, CD ou Spotify, no ar, terra ou mar, os autores recebem (ou deveriam receber) a justa retribuição pelo uso do seu trabalho.


Gustavo Martins de Almeida é carioca, advogado e professor. Tem mestrado em Direito pela UGF. Atua na área cível e de direito autoral. É também advogado do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e conselheiro do MAM-RIO. Em sua coluna, Gustavo Martins de Almeida aborda os reflexos jurídicos das novas formas e hábitos de transmissão de informações e de conhecimento. De forma coloquial, pretende esclarecer o mercado editorial acerca dos direitos que o afetam e expor a repercussão decorrente das sucessivas e relevantes inovações tecnológicas e de comportamento. Seu e-mail é gmapublish@gmail.com.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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