![Para Marcelo Gioia, o que aconteceu em dois meses de pandemia demoraria dois anos em situações normais | © Vicenzo de Bernardo / Shutterstock Para Marcelo Gioia, o que aconteceu em dois meses de pandemia demoraria dois anos em situações normais | © Vicenzo de Bernardo / Shutterstock](https://www.publishnews.com.br/estaticos/uploads/2020/11/jkColtVuO9QXFNiHBWyeWlwlPxfW5DVApM4bZenC8GWi9bPU71v0bo9ZdzjvHaH3BRbwmWmwLidNRyji.jpg)
No fim de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou que o mundo vivia uma pandemia. Um novo vírus se tornava motivo de um alarme global. Poucos meses depois, a doença já tinha atingido mais de um milhão de pessoas e o número de mortes é ainda hoje crescente. Sem um remédio eficaz e nem uma vacina, poucas medidas restaram se não o isolamento social. O comércio fechou as portas em boa parte do mundo. E o impacto disso na economia foi catastrófico. Essa trama, todos que viveram 2020 já conhecem.
Por aqui, o varejo tradicional de livros apresentou maior queda em abril, quando a Nielsen registrou tombo de 49% no faturamento de livrarias, supermercado e lojas de autoatendimento apurado com a venda de livros. Aos poucos, o setor vem se recuperando, como aponta o Painel do Varejo de Livros no Brasil.
Mas ainda restava pelo menos uma pergunta: “qual o impacto disso nas vendas de livros digitais?”. Tendo essa questão em mente, a Bookwire e o consultor austríaco Rüdiger Wischenbart criaram o Digital consumer book barometer, relatório que analisa a dinâmica do mercado de e-books em três períodos: pré-isolamento (29/12/2019 – 14/03/2020), durante o isolamento (15/03/2020 – 31/05/2020) e pós-isolamento (1º/06/2020 a 16/08/2020). Para o estudo, foram processados cerca de 1,6 milhão de registros.
Uma das principais conclusões é que há mudanças relevantes no comportamento do consumidor deste formato ao longo dos oito primeiros meses de 2020. Rüdiger explica: "Vimos que no Brasil a crise serviu de catalisador na aceleração de uma tendência já existente em direção à transformação digital. O mercado editorial digital no Brasil foi impactado de forma relevante pela pandemia da Covid-19”.
O relatório mostra que há crescimento relevante nas vendas entre o pré-isolamento e o isolamento, com um pico entre abril e maio. Mas mais importante do que isso: o crescimento se sustenta nos períodos seguintes, criando um patamar de vendas superior quando comparado a 2019, como mostra o gráfico abaixo.
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O relatório mediu também o impacto das campanhas de marketing nas vendas. Embora os grandes esforços de marketing tenham sido concentrados nos dois primeiros meses da pandemia, os resultados foram mais perenes. Mesmo com a diminuição do ritmo das campanhas, as vendas continuaram em ascensão. O relatório ressalta que isso pode mostrar que a pandemia em si criou novos leitores e trouxe aqueles que já leem constantemente para mais perto do formato digital.
“Em um curto período de tempo as editoras brasileiras reagiram criativamente em março de 2020, quando a pandemia atingiu o país, com ações promocionais de gratuidade e descontos agressivos, com a intenção de servir seus leitores com a oferta de conteúdo a ser consumido durante o lockdown. E isso valeu muito a pena, porque desde então o volume de unidades distribuídas tem crescido imensamente e temos acompanhado um crescimento sem precedentes. O que talvez aconteceria em dois anos, aconteceu em dois meses”, defendeu Marcelo Gioia, diretor da Bookwire Brasil.
O crescimento, no entanto, não é homogêneo quando se olha para categorias e subcategorias específicas. O ensino a distância pode explicar o crescimento de 227% na categoria infantojuvenil após o pico do isolamento. Nesta categoria, as vendas explodiram no período de lockdown, mas conseguiram se manter estáveis mesmo depois. O relatório atribui esse fenômeno ao fechamento das escolas: “Os pais passaram a depender mais da tecnologia para educação e entretenimento, e assim mais e-books foram adquiridos”.
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