‘O mercado editorial digital no Brasil foi impactado de forma relevante pela pandemia da covid-19’
PublishNews, Leonardo Neto, 11/11/2020
Constatação do consultor austríaco Rüdiger Wischenbart está no relatório ‘Digital consumer book barometer’ realizado em parceria com a Bookwire

Para Marcelo Gioia, o que aconteceu em dois meses de pandemia demoraria dois anos em situações normais | © Vicenzo de Bernardo / Shutterstock
Para Marcelo Gioia, o que aconteceu em dois meses de pandemia demoraria dois anos em situações normais | © Vicenzo de Bernardo / Shutterstock

No fim de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou que o mundo vivia uma pandemia. Um novo vírus se tornava motivo de um alarme global. Poucos meses depois, a doença já tinha atingido mais de um milhão de pessoas e o número de mortes é ainda hoje crescente. Sem um remédio eficaz e nem uma vacina, poucas medidas restaram se não o isolamento social. O comércio fechou as portas em boa parte do mundo. E o impacto disso na economia foi catastrófico. Essa trama, todos que viveram 2020 já conhecem.

Por aqui, o varejo tradicional de livros apresentou maior queda em abril, quando a Nielsen registrou tombo de 49% no faturamento de livrarias, supermercado e lojas de autoatendimento apurado com a venda de livros. Aos poucos, o setor vem se recuperando, como aponta o Painel do Varejo de Livros no Brasil.

Mas ainda restava pelo menos uma pergunta: “qual o impacto disso nas vendas de livros digitais?”. Tendo essa questão em mente, a Bookwire e o consultor austríaco Rüdiger Wischenbart criaram o Digital consumer book barometer, relatório que analisa a dinâmica do mercado de e-books em três períodos: pré-isolamento (29/12/2019 – 14/03/2020), durante o isolamento (15/03/2020 – 31/05/2020) e pós-isolamento (1º/06/2020 a 16/08/2020). Para o estudo, foram processados cerca de 1,6 milhão de registros.

Uma das principais conclusões é que há mudanças relevantes no comportamento do consumidor deste formato ao longo dos oito primeiros meses de 2020. Rüdiger explica: "Vimos que no Brasil a crise serviu de catalisador na aceleração de uma tendência já existente em direção à transformação digital. O mercado editorial digital no Brasil foi impactado de forma relevante pela pandemia da Covid-19”.

O relatório mostra que há crescimento relevante nas vendas entre o pré-isolamento e o isolamento, com um pico entre abril e maio. Mas mais importante do que isso: o crescimento se sustenta nos períodos seguintes, criando um patamar de vendas superior quando comparado a 2019, como mostra o gráfico abaixo.

As campanhas de gratuidade – muito comuns no início do isolamento – tiveram grande repercussão nos números e são responsáveis por picos de crescimento. A boa notícia é que as promoções impulsionaram as vendas subsequentes, aumentando as receitas. Ou seja, caiu o número de downloads, mas os níveis de faturamento não caíram.

O relatório mediu também o impacto das campanhas de marketing nas vendas. Embora os grandes esforços de marketing tenham sido concentrados nos dois primeiros meses da pandemia, os resultados foram mais perenes. Mesmo com a diminuição do ritmo das campanhas, as vendas continuaram em ascensão. O relatório ressalta que isso pode mostrar que a pandemia em si criou novos leitores e trouxe aqueles que já leem constantemente para mais perto do formato digital.

“Em um curto período de tempo as editoras brasileiras reagiram criativamente em março de 2020, quando a pandemia atingiu o país, com ações promocionais de gratuidade e descontos agressivos, com a intenção de servir seus leitores com a oferta de conteúdo a ser consumido durante o lockdown. E isso valeu muito a pena, porque desde então o volume de unidades distribuídas tem crescido imensamente e temos acompanhado um crescimento sem precedentes. O que talvez aconteceria em dois anos, aconteceu em dois meses”, defendeu Marcelo Gioia, diretor da Bookwire Brasil.

O crescimento, no entanto, não é homogêneo quando se olha para categorias e subcategorias específicas. O ensino a distância pode explicar o crescimento de 227% na categoria infantojuvenil após o pico do isolamento. Nesta categoria, as vendas explodiram no período de lockdown, mas conseguiram se manter estáveis mesmo depois. O relatório atribui esse fenômeno ao fechamento das escolas: “Os pais passaram a depender mais da tecnologia para educação e entretenimento, e assim mais e-books foram adquiridos”.

Não Ficção apresentou crescimento de 154% no pico do isolamento graças às campanhas de bem-estar e de cuidado pessoal.

No Brasil, Rüdiger teve apoio de Isadora Cal, gerente de análise de dados da Bookwire. O relatório não mapeou as vendas de livros no formato áudio, somente e-books foram considerados no estudo.

Clique aqui para baixar a íntegra do relatório.

[11/11/2020 10:00:00]