O livro no Brasil vai mal mas isso não é notícia (afinal, o que é que não vai mal no Brasil?) e tampouco é novidade (raras vezes não estivemos em crise). A gente vai levando enquanto pode (quem pode) e vai mantendo a fé ou a pose. Só que agora está dando na vista. Espaços vazios nos shoppings onde havia livrarias e livrarias que se mantêm abertas, mas vazias de fregueses são a face escancarada da crise editorial que já é comentada nas redes, nas esquinas e na tevê.
Dois dos construtores do livro moderno no Brasil, Luiz Schwarcz e Marcos Pereira, conversaram com Pedro Bial sobre a (falta de) perspectiva e sobre a crise que, segundo o fundador da Companhia das Letras, é talvez a mais forte das suas quatro décadas de atuação. Diante da ameaça de fechamento das duas maiores compradoras de livros que, junto com o governo, eram o esteio do mercado, os editores procuraram soluções para salvar as livrarias, incluindo a remarcação do preço dos livros… para cima. Argumentaram que o preço de capa não acompanhou a inflação e que livros mais caros garantiriam margens mais robustas para as livrarias cobrirem seus custos. Faltou explicar como, a arrepio dos fundamentos da economia, um aumento de preço poderia levar a um aumento da demanda, mas a equação do mercado editorial não costuma levar em conta a variável “leitor”. Já o apelo ao governo é invariável.
Uma comitiva de editores, representados pelos presidentes da CBL e do SNEL esteve com o presidente Temer para “pedir apoio na busca de soluções para a contenção dos problemas financeiros enfrentados pela indústria editorial brasileira” e saiu com promessas de linhas de crédito e financiamento para dar sobrevida ao varejo. Por sinal, antes do encontro, esse governo, no apagar das luzes (em todos os sentidos), mostrou-se mais preocupado com soluções para a segurança, propondo desviar verbas da cultura (voltou atrás) ou do Sesc, que muitas vezes faz o que o Ministério da Cultura não pode ou não tem dinheiro para fazer. A alegação é que falta dinheiro para a segurança, concretizando a profecia de Darcy Ribeiro: “se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”.
Enquanto editores procuram manter vivo o varejo (e a agonia do mercado) e esperam o livro volte a funcionar por decreto, o leitor dá seu jeito de contornar a situação e as livrarias. Se elas eram o “lugar de mercado”, hoje importa mais o marketplace. As editoras estão vendendo mais por canais que sequer veem os livros passarem por suas prateleiras. Um atestado disso é que na Bienal do Livro de 2018, onde não se vê estande da Saraiva, ergue-se imponente um do Mercado Livre, uma das maiores “intermediadoras” entre os leitores e as editoras. Esta relação, porém, está ficando ainda mais direta e íntima: seguindo a picada aberta pelos clubes de livros por assinatura, as editoras estão reforçando a venda direta e até arregimentando leitores em grupos como o “Intrínsecos”, criado justamente por uma das editoras que mais contava com as redes de livraria para seu sucesso.
Se é forte a crise, mais forte é o livro: esse vigor se vê nas redes, nos festivais literários, nos novos formatos, nos leitores e escritores. Também se vê por aí gente nas editoras e livrarias inventando soluções, se virando. Talvez seja isso do que precisamos para virar essa página: deixar para lá uma equação que já não dava resultado e tentar outras, para, quem sabe, reescrever esse negócio do livro.
Julio Silveira é editor, escritor e curador. Fundou a Casa da Palavra em 1996, dirigiu a Nova Fronteira/Agir e hoje dedica-se à Ímã Editorial, no Brasil, e à Motor Editorial, em Portugal. É atual curador do LER, Festival do Leitor.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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