Isolar a Turquia é apoiar Erdoğan, dizem escritores turcos em Frankfurt
PublishNews, Leonardo Neto, 16/10/2017
O PublishNews acompanhou a entrevista que o diretor da Feira do Livro de Frankfurt fez com Asli Erdogan, a escritora turca presa por ir contra o regime do ditador Recep Tayyip Erdoğan

No ano passado, quando Heinrich Riethmüller, presidente da Associação Alemã de Editores e Livreiros, fez seu discurso na cerimônia de abertura da Feira do Livro de Frankfurt, ele leu uma emocionante carta enviada por Aslı Erdoğan, escritora turca presa por ir contra o regime de Recep Tayyip Erdoğan. O presidente fez um apelo no fim do seu discurso em que pedia às autoridades europeias – na plateia estavam os reis Philippe, da Bélgica, e Guilherme Alexandre, dos Flandres – que fizessem pressão para que não só Asli, mas todos os escritores e jornalistas turcos presos por irem contra o governo de Erdoğan fossem libertos.

Juergen Boos entrevista Asli Erdoğan, Can Dünder e Burhan Sönmez durante a Feira do Livro de Frankfurt | Leonardo Neto
Juergen Boos entrevista Asli Erdoğan, Can Dünder e Burhan Sönmez durante a Feira do Livro de Frankfurt | Leonardo Neto

Um ano se passou e, em 2017, Asli Erdoğan, já fora da prisão, embarcou para Frankfurt onde foi entrevistada por Juergen Boos, o diretor da Feira.

A libertação de Asli, no entanto, não foi motivo de comemoração. Na conversa, ela alertou: “nós que estamos aqui soltos somos uma minoria”, disse se referindo aos jornalistas Can Dündar e Burhan Sönmez, que também participaram do encontro. “A maioria continua nas prisões. Isso coloca nos nossos ombros uma responsabilidade muito grande. Temos que continuar lutando”, completou a escritora.

De novo, os escritores deram o recado para a Comunidade Europeia. A Europa não devia ser um clube fechado. Vocês devem estar mais abertos para novas ideias. Isolar a Turquia é apoiar Erdoğan”, disse Dündar.

A luta dos escritores e também da feira ao abrir espaço para que eles se pronunciassem é em nome da democracia e da liberdade de expressão. “A democracia é algo que a gente precisa proteger. Sem uma esquerda [como quer Erdoğan], você não pode ter uma sociedade democrática. Eu fui para a cadeia por que escrevi sobre as atrocidades que o governo turco cometeu. Nós temos que contar essas histórias”, disse Asli.

O assunto ganhou eco na coletiva de imprensa que marcou o encerramento da feira, no último domingo. Na ocasião, Riethmüller declarou: "a sociedade enfrenta grandes questões e desafios e isso foi, de novo, muito presente na feira. Agora, como nunca antes, editores e livreiros precisam estimular o debate e promover o diálogo e o discurso político. Nos últimos dias, a indústria do livro demonstrou, mais uma vez, a sua vitalidade e a sua diversidade. Isso também foi um chamado claro à liberdade de expressão e ao pluralismo, para uma sociedade aberta e tolerante, de Frankfurt para o mundo".

Desde que uma tentativa de golpe foi impedida pelo governo de Erdoğan, mais de 50 mil pessoas foram presas. Estima-se que 180 delas são jornalistas ou escritores.

[16/10/2017 09:00:00]