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Amazon vai comprar a Saraiva. De novo.
PublishNews, Carlo Carrenho, 28/06/2017
Carlo Carrenho explica seu ceticismo em relação ao rumor publicado n'O Antagonista

A primeira loja física de livros da Amazon, localizada em Seatte nos EUA | CC By-SA 2.0, SounderBruce
A primeira loja física de livros da Amazon, localizada em Seatte nos EUA | CC By-SA 2.0, SounderBruce

Honestamente, já perdi a conta de quantos boatos sobre a compra da Saraiva pela Amazon eu já ouvi. Rumores sobre a aquisição a maior rede de livrarias brasileira pela maior livraria virtual do mundo já corriam à boca pequena mesmo antes de a Amazon abrir seu e-commerce no Brasil ou de lançar suas primeiras lojas físicas nos EUA.

Agora, o boato renasce mais uma vez, desta vez nas páginas virtuais do polêmico site O Antagonista que publicou ontem, terça-feira (26), a seguinte nota, que reproduzimos na íntegra:

“A Amazon quer comprar a Saraiva. O negócio é avaliado em cerca de 200 milhões de dólares. A rede brasileira tem mais de 100 lojas espalhadas pelo país. Com a transação consolidada, os clientes da Amazon poderão retirar produtos comprados pelo site nas unidades da Saraiva.”

A publicação do rumor fez as ações da Saraiva dispararem quase 22% na Bovespa, conforme o PublishNews noticiou, e colocou os whatsapps dos profissionais do livro em polvorosa no fim da tarde de ontem, enquanto a notícia d’O Antagonista viralizava pelos meios editoriais.

Correndo o risco de morder minha língua no futuro, estou convencido neste momento de que tudo não passa de mais um boato. É claro que é possível que as empresas estejam conversando e mesmo explorando possibilidades. Aliás, conversas de fato aconteceram no passado entre as duas empresas, mas não houve avanços. Também acredito ser possível que alguma negociação menor esteja em andamento, mas sou cético em relação à notícia que a Amazon estaria adquirindo a Saraiva.

Entre os vários motivos nos quais embaso minha opinião, aponto aqui os principais:

1 – O valor da transação é baixo

O valor apontado pela nota d’O Antagonista não me parece coerente. O site, aliás, não deixa claro a que os 200 milhões de dólares se referem exatamente. Seria o resultado do valuation da empresa? Seria o valor líquido de compra em uma possível aquisição onde o comprador assumiria a dívida? De qualquer maneira, R$ 660 milhões – equivalente à quantia mencionada em dólares – me parece baixo. A Saraiva faturou R$ 1,891 bilhões em 2016 e, ainda que seu ebitda não tenha passado dos R$ 32 milhões, um valuation de R$ 660 milhões é bastante baixo. Ainda que somemos a dívida líquida ajustada da empresa, que era de R$ 198,6 milhões no final de 2016, ou mesmo a dívida bruta que já batia em R$ 321,6 milhões no fim do ano passado, chegaríamos a um valor inferior a R$ 1 bilhão. Tal cifra me parece um valor baixo para uma empresa com o faturamento da Saraiva, ainda que sua lucratividade seja baixa.

2 – A entrega nas lojas é nonsense

O segundo motivo que me leva a duvidar da notícia publicada é a conjectura de que a Amazon usaria as lojas da Saraiva como ponto de retirada de produtos comprados on-line. Isto não faz absolutamente nenhum sentido. A Amazon preza pela eficiência e por colocar o cliente acima de tudo – é uma empresa customer-centric, como gosta de afirmar –, e jamais complicaria a vida de seus consumidores com entregas em lojas físicas. Até porque a empresa já alcançou uma eficiência razoável em sua logística de entregas no Brasil. Além disso, nem nos EUA as lojas da Amazon são usadas como pontos de entrega de produtos. Ou seja, a afirmação de que as lojas da Saraiva seriam usadas para retirada de produtos comprados no site da Amazon me parece completamente descabida.

3 ­– A Amazon negou a notícia

Normalmente, quando questionada sobre algum rumor ou plano de ação, a Amazon costuma devolver aos jornalistas o mantra “Não comentamos planos futuros” ou alguma outra resposta cliché e sem conteúdo. Mas, desta vez, quando o PublishNews contatou a assessoria de imprensa da Amazon, a resposta foi categórica e veio por telefone e e-mail. “Este rumor é infundado”, disparou a empresa. A postura enfática da negação da Amazon é mais um forte elemento que me faz duvidar da veracidade dos fatos publicados.

Há ainda outros motivos para meu ceticismo, como o fato de a gigante de Seattle nunca ter adquirido livrarias ou de que suas lojas físicas são meras extensões do seu e-commerce e não livrarias no sentido mais tradicional da palavra. Ou então o fato de que a Amazon seguramente está focada no desenvolvimento de outros negócios no Brasil, como audiolivros ou novas linhas de produtos não editoriais.

Como disse, assumo o risco de morder a língua se, nas próximas semanas, dias ou horas, o boato se mostrar verdadeiro. No entanto, até agora só vejo motivos para duvidar dele. Só lamento não ter comprado umas ações SLED4 da Saraiva ontem de manhã para vendê-las ao fim do pregão em uma lucrativa operação de day trade. Mas tudo bem. Sempre haverá outras oportunidades. Afinal este não será o último boato de que a Amazon vai comprar a Saraiva.

Carlo Carrenho é o fundador do PublishNews no Brasil e co-fundador do PublishNews na Espanha. Formado em Economia pela FEA-USP, especializou-se em Edição de Livros e Revistas no Radcliffe Publishing Course, em Cambridge (EUA). Atualmente trabalha na área de desenvolvimento internacional de novos negócios para a Word Audio Publishing International na Suécia e é advisor da Meta Brasil e da BR75 no Brasil. Como especialista no mercado de livros, já foi convidado para dar palestras e participar de mesas em países como EUA, Alemanha, China, África do Sul, Inglaterra e Emirados Árabes, entre outros. É co-curador da conferência profissional Feira do Livro de Tessalônica.

Carlo é paulista, morou no Rio, e atualmente vive em Estocolmo, na Suécia. É cristão, mas estudou em escola judaica. É brasileiro, mas ama a Escandinávia. Enfim, sua vida tende à contradição. Talvez por isso ele torça para o Flamengo e adore o seriado Blue Bloods.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

Tags: Amazon, Saraiva
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