O que tem acontecido de novo no mercado inglês?
PublishNews, Iona Stevens, 1º/11/2016
Depois de Frankfurt, Iona, nossa ex-editora e atual colunista sobre o mercado inglês, resolve traçar um panorama do que anda acontecendo na Terra da Rainha

Enquanto brasileiros e alemães desciam até o chão na festa da Bookwire em Frankfurt (eu confesso que não fui até o chão. Era o terceiro dia de feira, se descesse até o chão lá ficaria o resto da noite) eu pensei por um momento que estava em Paraty, mas logo me assustei, pois lá se vão quase três anos que cheguei na Big Smoke. O que também quer dizer que lá se vão três anos que prometi uma coluna sobre o mercado inglês. Visto aqui as galochas da humildade, peço desculpas, e vamos lá ver os últimos lances da indústria britânica.

Frankfurt Book Fair

Acompanhei o Diário de Frankfurt da Marcela Prada Neublum [a marinheira de primeira viagem que o PublishNews convidou para relatar suas impressões sobre a Feira do Livro de Frankfurt] com saudosismo. Fiquei me lembrando de quando fui pela primeira vez (queria tanto ir de novo pela primeira vez), quando queria chorar quando errava o pavilhão da reunião, ficava correndo de um lado para o outro no sapato lindo mas doloroso. Emendava drinks, jantar, festa e Frankfurter Hof. Hoje meu pensamento se resume a ‘LivrosLivrosLivrosLivros + room service e Grey’s Anatomy em alemão.’

Vi várias ‘Girls’ esse ano, seguindo a Girl on the train: capas escuras com figuras femininas de costas e título em cor neon. E também uma onda sobre Hygge (que eu até agora não entendi do que se trata direito). Mas não vi nenhuma histeria em massa nessa feira por algum título ou tendência: thrillers psicológicos, women’s fiction, romances históricos, gente buscando do mais comercial ao mais highbrow, teve de tudo mesmo. Uma calma bem-vinda após o frenesi ‘livro erótico com capa cinza e zoom num objeto’ e o ‘absolutamente tudo pra colorir’. Senti o mercado aberto (para não dizer ‘à caça’) do novo, do diferente, do próximo boom.

De volta ao UK:

Brexit

A pergunta que não quer calar: e o Brexit? Bom, a verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer. A única coisa que sabemos é que foi uma idiotice sem tamanho que terá consequências para a economia como um todo. Pessoalmente, não acredito que haverá um efeito específico na indústria do livro no Reino Unido. Isso não significa que eu esteja otimista, afinal, em momentos de crise, o livro é um dos primeiros produtos que roda. Por enquanto, acho que há apenas dois pontos a ficar de olho:

Fuga de talentos: o Bookseller publicou semana passada um artigo falando sobre o medo das editoras de não conseguir mais contratar (e de perder) os melhores talentos. Mas isso também é um efeito geral, que todas as indústrias terão de enfrentar.

Câmbio: a queda da moeda significa preços mais competitivos quando vendemos no mercado internacional. Por outro lado, significa custos maiores para as editoras, então o resultado final, por enquanto, continua sendo uma incógnita.

BookGig

O BookGig é uma das iniciativas mais legais que vi recentemente no mundo do livro (sim, sou suspeita, mas é realmente ‘publisher-agnostic’).

Sabe o SongKick? Aquele site onde você segue seus artistas preferidos, vê que shows vão acontecer perto de você, tem link para comprar ingresso etc? Mesma coisa, só que para autores! Como assim não existia algo assim para livros?

Por favor alguém aí desse lado do Atlântico pense em abrir uma franquia no Brasil. Afinal, não conheço nenhum lugar no mundo com mais feira de livro e festa literária! Está lançado o desafio [PublishNews, I’m looking at you].

Super Thursday

A ‘Super Quinta’ é um fenômeno curioso do mercado inglês: por uma confluência de calendário, logística, publicidade e astros - todos mirando nas vendas natalinas – a Super Thursday acontece todo ano em outubro, quando uma penca de livros são lançados no mesmo dia.

É o tiro de largada das editoras para corrida de vendas até o natal. A maioria dos autores são nomes de peso, a ideia é mesmo atrair os leitores e entrar nas listas de presentes de fim de ano.

Este ano, a Super Thursday caiu na semana de Frankfurt e, talvez por isso, a repercussão não tenha sido tão grande quanto a dos anos anteriores. Jamie Oliver, Phil Collins, Patricia Cornwell, Ali Smith, entre outros, estão entre os concorrentes ao tão almejado #1 Christmas Bestseller (porém acho que todos sabemos que este ano ele será da JK Rowling).

Outra data que eu acho super divertida – e tããão inglesa – é o sábado que segue o Black Friday, chamado Civilised Saturday: após perder a dignidade nas lojas, no sábado vamos todos sentar numa poltrona confortável, tomar um chá e comprar um bom livro para esquecer a baixaria consumista da sexta.

Até a próxima gente, mandem sugestões e comentários!

ttfn

Iona

Ps: ttfn = ta ta for now.

Tags: Reino Unido
[01/11/2016 09:00:00]