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O amanhã chega quando?
PublishNews, Volnei Canônica, 26/07/2016
Em sua estreia como colunista do PublishNews, Volnei Canônica analisa o recém-anunciado projeto Bibliotecas do Amanhã

Na última quinta-feira (21), o Governo Federal Interino anunciou que os empreendimentos Minha Casa, Minha Vida terão bibliotecas comunitárias e farão parte do Projeto Bibliotecas do Amanhã.

Como sempre trabalhei em prol da leitura e das bibliotecas, fico feliz e acho uma importante iniciativa. Mas também por estar nesta área há alguns anos não posso deixar de chamar atenção para alguns pontos.

Conforme divulgado no site do Ministério da Cultura, o ministro Marcelo Calero salienta que, “o Projeto Bibliotecas do Amanhã é um projeto que foi desenvolvido pela prefeitura do Rio de Janeiro e que agora a gente pretende levar para todo o Brasil e que consiste na modernização e novos projetos educativos para as bibliotecas públicas Brasil afora”.

Tenho um certo incômodo quando usamos a palavra “amanhã” para a área da Cultura e Educação. Sempre fomos chamados de “País do Futuro”, construímos “museus do amanhã”, “bibliotecas do amanhã”, “escolas do amanhã”, como se precisássemos pensar no futuro. Precisamos pensar no PRESENTE! Sofremos muito por falta de ações consistentes no hoje para construir o amanhã. A certeza que tenho é que pelo desejo de um amanhã, não são feitas ações estruturantes e sustentáveis para promoção da leitura no hoje. O amanhã que se transforme em HOJE!

Fui buscar mais informações sobre o projeto Bibliotecas do Amanhã, no município do Rio de Janeiro. Como consta no próprio site da prefeitura, o projeto teve a sua primeira biblioteca inaugurada em março de 2016. Eu estive na inauguração. A Biblioteca Popular do Rio Comprido – Annita Porto Martins “é a primeira Biblioteca do Amanhã – projeto que visa desenvolver um novo conceito de promoção do acesso à leitura e de formação de leitores, integrando o acervo bibliográfico a linguagens artísticas diversas, à produção cultural e às comunidades do entorno. Com o acervo atualizado para atender a faixas etárias diversas. Sala de eventos com 30 lugares”.

Sem tirar o mérito do projeto, afinal são apenas quatro meses de existência e implantado em apenas uma biblioteca, mas que tem previsão de inaugurar mais duas em setembro, talvez seja um pouco precipitado implantá-lo pelo Brasil afora. A própria Prefeitura do Rio de Janeiro ainda não divulgou dados para que possamos dizer que esse projeto é um case de sucesso e precisa virar uma política nacional para as bibliotecas.

Outra questão importante para refletirmos são os diferentes papéis dos entes federativos na implantação das bibliotecas públicas. O Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), criado em 1992 e que integra a Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Ministério da Cultura, tem atuado fortemente com os Sistemas Estaduais e Municipais com mapeamento, diretrizes, formação e investimento – por meio de editais de modernização e de valorização de boas práticas. Nestes últimos anos, o SNBP avançou muito na possibilidade de colocar os entes em diálogo. Ainda falta muito investimento financeiro, não só nos equipamentos, mas em formação e em novos modelos de bibliotecas.

Na gestão da Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB) anterior à minha, o SNBP fez movimentos importantes em parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates e outros parceiros pensando modelos de gestão. Nunca um único modelo! Conseguimos, na minha gestão, firmar um Termo de Intenção, assinado pelo ministro Juca Ferreira com a Fundação Gates, com o objetivo de fortalecimento das Bibliotecas Públicas e de repensar o seu papel social. Tudo isso já está em curso e em discussão com os Sistemas Estaduais de Bibliotecas Públicas (inclusive, há exatas duas semanas, aconteceu um encontro no Rio de Janeiro). O projeto possibilitará que os estados, em diálogo com a sua comunidade, criem modelos de gestão mais adequados, atendendo à demanda da sua sociedade.

É importante deixar claro que na área das bibliotecas, o SNBP / DLLLB tem HOJE uma ação estruturante e sustentável acontecendo. Não vejo a necessidade de importar um modelo para o AMANHÃ. Temos cenários distintos no Brasil e as bibliotecas públicas não carecem apenas de acervo, mobiliário e atividades. Por isso, não dá para pensar num programa padrão para todas as bibliotecas e enviar como pacote fechado.

No Brasil, temos exemplos de Bibliotecas Públicas que são inspiradoras. Temos as bibliotecas parques do Estado do Rio de Janeiro; o sistema de bibliotecas como as do município de São Paulo; as bibliotecas no Acre; as bibliotecas em Minas Gerais e Belém do Pará, onde a população tem papel protagonista nas atividades. Essas são algumas dentre as muitas bibliotecas públicas que fazem um ótimo trabalho em nosso país.

Cabe ao SNBP / DLLLB dar diretrizes mínimas para a constituição de bibliotecas, sejam elas públicas, temáticas, comunitárias etc. Existe muito trabalho a ser feito para mudarmos a realidade de que 70% da nossa população não frequenta biblioteca. O Governo Federal precisa colaborar com os estados e municípios para que eles repensem seus investimentos na área da promoção da leitura. A construção dos planos municipais e estaduais do livro, leitura, literatura e bibliotecas é um importante passo para mapear as demandas de ações e investimentos.

Para quem é da área, ou pelo menos acompanha, sabe que não necessitamos de um projeto que, como disse antes, tem seus méritos e conheço a seriedade das pessoas que estão à frente dele. Precisamos que cada vez mais o SNBP seja fortalecido para dar apoio aos estados e municípios. Já vimos em gestões anteriores a distribuição de kits de livros, equipamentos e cartilhas do que fazer, que podem ter contribuído momentaneamente para a área, mas que não tem a capacidade de fazer as mudanças necessárias.

Vale lembrar que sob o SNBP / DLLLB existe a Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles que, com muito esforço, deve reabrir em agosto, após ter ficado dois anos fechada. Esta biblioteca precisa ser um espaço de experimentação e de conceito para todas as bibliotecas brasileiras. Mas sobre a BDB, como carinhosamente é chamada, falamos outra hora. Ela merece uma coluna só para ela.

Como disse antes, existe um caminho estruturado para repensar as bibliotecas públicas e que já está em curso. Não vamos reinventar a roda porque a tendência é sempre ficar mais quadrada. Tem um ditado chinês que sempre uso e acho que cabe nesta reflexão: “antes de querer mudar o mundo, dê três voltas em sua própria casa.”

Para a próxima coluna vou falar sobre a diferença entre bibliotecas comunitárias e bibliotecas instaladas nas comunidades e a importância delas existirem no Programa Minha Casa, Minha Vida.

Um por todos e todos por um Brasil de leitores!

Volnei Canônica é formado em Comunicação Social – Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul, com especialização em Literatura Infantil e Juvenil também pela Universidade de Caxias do Sul, e especialização em Literatura, Arte do Pensamento Contemporâneo pela PUC-RJ. É Presidente do Instituto de Leitura Quindim, Diretor do Clube de Leitura Quindim e ex-diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, do Ministério da Cultura. Coordenou no Instituto C&A de Desenvolvimento Social o programa Prazer em Ler. Foi assessor na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Na Secretaria Municipal de Cultura de Caxias do Sul, assessorou a criação do Programa Permanente de Estímulo à Leitura. o Livro Meu. Também foi jurado de vários prêmios literários.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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