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Barueri quer ser Uma Cidade de Leitores
PublishNews, 19/11/2013
Barueri quer ser Uma Cidade de Leitores

A cidade de Barueri, na região metropolitana de São Paulo, quer se transformar em “Uma Cidade de Leitores”. A proposta apareceu durante a campanha que elegeu o prefeito Gil Arantes, e João Palma, atual Secretário de Cultura e Turismo, está decidido a fazer isso acontecer.

Barueri tem aproximadamente 250 mil habitantes e é muito conhecida na região metropolitana por abrigar os complexos conhecidos como Alphaville – uma série de condomínios residenciais e comerciais – que teve um enorme crescimento nos últimos anos. Nessas áreas existe já uma grande concentração de empresas de serviços, inclusive no setor de finanças. O município também é a sede de grandes complexos de logística localizados nas margens da Rodovia Castelo Branco. É uma cidade rica, embora seja evidente que os contrastes entre os moradores da Alphaville e de áreas urbanas nas periferias do município sejam tão grandes quanto em outras cidades brasileiras.

A cidade já dispõe de uma estrutura significativa na área de livros e leitura, com onze bibliotecas públicas e um Ônibus Biblioteca circulante.

Fui até Barueri atraído por uma notícia publicada na semana passada no Blog do Galeno, que anunciava o início de um censo da leitura na cidade. Funcionários das bibliotecas públicas percorrem casas e escritórios da cidade com um questionário a ser respondido pelos moradores. Quem responde pode ser cadastrado nos “Clubes de leitura” da cidade, com acesso à rede de bibliotecas. E quem quiser recebe uma placa de acrílico para colocar na porta da casa com a frase: “Aqui tem gente que lê!”.

O questionário foi preparado pela Secretaria, que recebeu sugestões do escritório local do IBGE. A aplicação segue o mesmo esquema de divisão territorial aplicado pelo instituto. Na verdade não se espera que todas as pessoas respondam ao questionário, mas que o índice de respostas alcançado seja muito significativo. Não está prevista sua aplicação nas áreas dos condomínios fechados.

Segundo declarou o Secretário João Palma, o resultado da pesquisa servirá de guia para implementação de um plano de ações municipais na área. O secretário pretende terminar a pesquisa até fevereiro, e fazer reuniões em cada um dos distritos para conversar com os moradores sobre os dados ali levantados. Esse processo deverá culminar com um seminário mais amplo, no qual as diretrizes para toda a cidade serão formuladas, apresentadas e discutidas.

O secretário João Palma não vincula essa iniciativa ao Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL, que prevê o desenvolvimento de planos estaduais e municipais. Segundo declarou, não sabia dessa iniciativa e nem conhecia o prof. Castilho, Secretário Executivo do PNLL. O contato foi lhe repassado.

“Já fiz parte do Conselho Estadual do Livro e Leitura” – disse ele – “e batalho por isso já há muitos anos. Assumi essa tarefa e vamos transformar Barueri em um município modelo de ações em prol da leitura.”

Na reunião, na qual estavam presentes alguns de seus assessores da área, várias ideias foram ventiladas, como fazer autores adotarem as bibliotecas da cidade, e a possibilidade de fazer um festival de literatura em vez de uma feira de livros. Tudo encaminhado para a assessoria com um “pensem como desenvolver isso”.

Poemômetro

A Secretaria de Cultura de Barueri já aplica alguns projetos curiosos. Faz saraus de poesias no Tetro Municipal e no parque do Museu Municipal, onde existe um “Poemódromo”, além de ter desenvolvido um curioso “Poemômetro”, “medidor das emoções de quem escuta poesia”.

É um laptop que “registra” os batimentos cardíacos de quem escuta uma montagem de trechos de poemas célebres, o “Fragmentos”. O ouvinte percebe, espantado, a variação dos batimentos cardíacos “monitorados” por sensor preso em um dos dedos. Diante do resultado, o “Poemologista” que acompanha a brincadeira emite uma receita da “Clínica de Poesias, Sonetos e Poemas”: leia mais Drummond, frequente a biblioteca pública duas vezes por semana, leia antes de dormir e coisas do tipo. E entrega um caderno com o “Fragmento” e páginas em branco para que o paciente escreva seus próprios poemas.

“Teve gente que quase foi às lágrimas acompanhando o gráfico”, sorri o Secretário.

A leitura ganha espaço?

João Palma assinala corretamente dois fatores importantes para o aumento dos índices de leitura. O primeiro é a escola, onde o processo educativo tem que ser aperfeiçoado. As duas secretarias, Educação e Cultura, têm mantido conversas para desenvolvimento de ações integradas.

“Estamos planejando uma ação de ‘hora da leitura’ com as escolas. Em determinados dias, seja qual for a matéria do horário, a primeira hora deverá ser dedicada à leitura. Pensamos na elaboração e uma lista de livros com a participação de alunos e professores, para ser lida no decorrer do semestre”.

A Secretaria de Cultura produziu também um filmete, mescla de desenho animado e depoimentos de atores e personagens conhecidos. O filme mostra vários exemplos de como a leitura contribui para a melhoria da qualidade de vida. Importante destacar que a leitura aí é tratada de modo bem amplo: ler bula para saber como tomar melhor o remédio, ler a data de validade dos alimentos para não comprar coisas vencidas, ler a placa de ônibus para saber seu itinerário e assim por diante. Esse filme está em código QR em vários materiais impressos e é projetado nos eventos de música, teatro, nos equipamentos da prefeitura.

“Como é possível as pessoas lerem alta literatura com esse alto índice de analfabetismo funcional?” comenta o secretário. Assim, segundo ele, os acervos das bibliotecas devem também abrir espaço para que todo tipo de livros esteja disponível, para atender às necessidades dos leitores. “Deve ter Guimarães Rosa para quem desejar, mas também todos os tipos de livros que os municípios desejarem”.

Iniciativas como as de Barueri vêm se repetindo pelo Brasil afora, de diversas maneiras: festivais literários, feiras de livros, aumento na demanda de bibliotecas. Essa movimentação ainda não se refletiu na última pesquisa Retratos da leitura no Brasil, mas a expectativa é de que isso aconteça nas próximas versões. Certamente, os efeitos dessas iniciativas demoram a aparecer, mas com certeza aparecerão.

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br. Em sua coluna, Lindoso traz reflexões sobre as peculiaridades e dificuldades da vida editorial nesse nosso país de dimensões continentais, sem bibliotecas e com uma rede de livrarias muito precária. Sob uma visão sociológica, ele analisa, entre outras coisas, as razões que impedem belos e substanciosos livros de chegarem às mãos dos leitores brasileiros na quantidade e preço que merecem.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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