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Dicas ao “jovem assistente editorial”
PublishNews, 09/08/2011
Dicas ao “jovem assistente editorial”

Um bom assistente editorial pode salvar autores e editores, pode salvar o emprego do chefe ou dos colegas do marketing e da imprensa. Ele conhece o livro, conhece o estilo do autor estrangeiro, do tradutor e da editora. Sabe o tamanho que o código de barras deve ter pra ser lido corretamente, quantos caracteres tem a lauda da editora e sabe como convencer os fornecedores a pegar aquele trabalho (pois sabe qual gosta do tema do livro, quem é fã de determinado autor, quem acabou de voltar de férias e precisa pagar o cartão de crédito etc.). E sabe inclusive muito mais que isso! Geralmente, esse trabalho é feito por gente muito jovem que sequer sabe quão importante é para as editoras. A coluna de hoje é feita de dicas para que esses seres especiais sofram menos e para que seus chefes e os chefes dos seus chefes possam perceber que são talentos raros e que (por enquanto) talvez seja interessante fazê-los se sentir mais realizados no trabalho.

- Não se apavore quando te disserem que seu trabalho é, basicamente, fazer o livro do início ao fim. Porque isso significa na prática que você terá que gerenciar o “passeio do livro” pelas etapas editoriais desde imediatamente depois da contratação do título até a entrega do pdf final ao departamento de produção gráfica. Você não terá que fazer tradução, copidesque, diagramação e revisões, eu juro.

- Gerenciar o “passeio do livro” não é fácil, mas cansa pouco intelectualmente se você comparar com a leitura. Mas aprenda uma coisa desde seu primeiro dia: anote tudo em algum lugar em que você vá se lembrar que anotou. Dificilmente você estará cuidando de apenas um livro e você precisará, mais cedo ou mais tarde, responder às perguntas: “Cadê o livro X? Como ele está?” Muita gente se lembra na hora e responde prontamente! Invejo essas pessoas... Se você tiver pouca memória como eu e se ainda por cima não tiver nada anotado, ou terá que perder um tempo enorme revendo todo o caminho do livro pra saber onde ele está ou, o que considero a grande vergonha do assistente, terá que ligar para o fornecedor para perguntar “Oi, fulano, meu livro tá com você?”.

- Não, o fornecedor não é necessariamente seu amigo e seu amigo não é necessariamente fornecedor. Acredite: seu amigo criterioso da Letras que “sabe tudo de gramática” e está precisando de uma grana não vai fazer uma boa revisão apenas porque é pra você. As revisões e o copidesque ultrapassam a gramática, exigem um excelente conhecimento do uso da língua escrita e não apenas das leis dela. Você pode acabar perdendo o amigo e ainda ficar com o livro ruim...

- Ah, e uma coisa que eu acho que é pouco frisada: você tem, sim, que saber ler inglês. Pode até não falar inglês, ok, mas, mesmo que sua editora não exija que você releia todo o livro internamente e você esteja apenas tirando dúvidas do copidesque ou das revisões de um livro traduzido, aposto que você vai precisar voltar ao original muitas vezes. E aposto que esse original estará em língua inglesa! Você não precisa ter uma certificação ou nada do gênero, mas quanto mais você souber inglês maiores são as chances de você salvar seu livro de uma matéria vexatória. Óbvio que se você souber francês, espanhol, alemão, italiano, farsi, russo, chinês, japonês etc. será muito bom, mas, se não souber inglês, provavelmente isso será muito, muito ruim.

- Você não vai lembrar depois! Essa dica é irmã da “anote tudo”, mas não diz respeito apenas ao tráfego. Vamos supor que você esteja analisando uma revisão e perceba que o revisor mudou “II Guerra Mundial” por “Segunda Guerra Mundial”. Se você pensa (e é bom que você pense) “Hmm, esse revisor pode ter esquecido de marcar essa alteração algumas vezes. Melhor eu fazer uma busca...”. Pegue na hora um papel e escreva BUSCAS: “II Guerra Mundial” por “Segunda Guerra Mundial”. Acredite, se você deixar para “daqui a pouco” o telefone vai tocar e será seu superior perguntando “Cadê o livro X? Como ele está?” e você terá que achar suas anotações muito rapidamente. Ok, você anota depois de falar com ele? Sua amiga vai te chamar pra almoçar, ou vai te contar algo que você vai querer saber, ou você vai ver que o diagramador enviou aquele livro urgente e você terá que imprimi-lo IMEDIATAMENTE.

- Sério. A memória e a organização são fundamentais para essa profissão. Se você usa substâncias que te deixem sonolento ou sem memória por muitas horas, considere parar.

- Você sempre quis trabalhar com livros porque ama literatura, acha que a literatura de um país é dos tesouros mais preciosos? Cuidado! Nem todas as editoras trabalham com ficção, se você quer trabalhar com livro mesmo, talvez tenha que passar bons anos trabalhando em livros técnicos ou não ficção até conseguir que seu currículo seja lido pela editora dos seus sonhos. Mas, mesmo na editora dos seus sonhos, o trabalho do assistente editorial tende a ser muito mais burocrático do que criativo, porque as editoras, e as empresas de um modo geral, precisam de lucro e para isso precisam ganhar mais do que gastar. Formatos, tipos de papel, quantidade e tipos de tinta, diagramação não variam como você imagina e nem sempre suas opiniões serão ouvidas, pois as editoras já sabem como fazer barato

- Uma parte do último tópico: A literatura brasileira. Você acha que entrará em contato com a nova Clarice Lispector ou o novo Drummond e pensará o texto deles com eles e mesmo que ganhe pouco financeiramente sua alma terá o aprendizado de uma vida a cada livro feito? Tire isso da sua mente porque poderá frustrá-lo em definitivo. Há (eu gosto de acreditar nisso) quem viva isso, mas não é frequente e não é, mas não é meeesmo, em cada livro. Descubra na sua editora de onde vieram os autores nacionais que foram ou estão sendo publicados, depois leia parte da pilha de originais de autores nacionais que chegam toda semana e, por fim, telefone para os autores dos livros em que você está trabalhando e explique que, se não entregarem o texto final até amanhã, o lançamento na feira X que o faria ganhar 1000 pontos de status não poderá acontecer. Depois disso, diga você o que acha da literatura brasileira contemporânea. (Sim, estou generalizando.)

- O progresso natural do assistente editorial é se tornar editor. Não, simplesmente não. Há editoras que investem na “prata da casa”, mas isso não é obrigatório e, inventando estatísticas, posso dizer que, a cada assistente que vira editor, quatro viram frilas de tradução, copidesque ou revisão, três mudam de profissão e um continua assistente por anos e anos e anos.

- O que vale a pena? Bem, depois que você tira todo o deslumbre, as coisas legais começam a aparecer: você de fato entra em contato com um autor que enriquece de maneira única sua alma, você aprende a melhorar um texto, aprende a guiar o trabalho de seus frilas e pode se tornar até um coach deles, lê um ou outro livro que jamais compraria, mas que acaba enriquecendo profundamente sua vida, aprende centenas de coisas todos os dias, tem conversas impagáveis sobre literatura (e artes ou intelectualidades no geral) e sobre os autores que você jamais imaginou que fosse ter em um trabalho etc.

Vale a pena! Quase sempre... ;)

Cindy Leopoldo é graduada em Letras pela UFRJ e pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela UFF. Em 2015, cursou o Yale Publishing Course e, em 2020, iniciou a especialização em Negócios Digitais, da Unicamp. Trabalha em editoras há uns 15 anos. Na Intrínseca, onde trabalhou por 7 anos, foi criadora e gerente do departamento de edições digitais e editora de livros nacionais. Atualmente, é editora de livros digitais da Globo Livros.

Escreve quinzenalmente, só que não, para o PublishNews. Sua coluna trata de mercado editorial, livros e leituras.

Acesse aqui o LinkedIn da Cindy.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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