Publicidade
Principais críticas de Carla Akotirene aos aparelhos jurídicos brasileiros
PublishNews, Redação, 09/04/2024
Carla Akotirene apresenta audiências em 'cenas colonais', em que atores e atrizes jurídicos performam nas audiências de custódia

É fragrante fojado dôtor vossa excelência (Civilização Brasileira, 336 pp., R$ 64,90) concentra as principais críticas de Carla Akotirene aos aparelhos jurídicos brasileiros, aqui representados pela Vara de Audiência de Custódia do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia. As audiências de custódia são uma oportunidade de as pessoas presas em flagrante delito manifestarem os motivos da detenção e as condições de tratamento a que são submetidas pela forças policiais e judiciais. Esse tipo de audiência é um direito assegurado por lei ao flagranteado e, em tese, deveria resguardar a oportunidade de autodefesa da pessoa acusada de crime. Em sua abordagem original, Carla Akotirene apresenta essas audiências em “cenas colonais”, nas quais atores e atrizes jurídicos – juízes, defensores públicos, procuradores e policiais -, performam nas audiências de custódia como se seguissem um ritual preestabelecido. Nessas “cenas coloniais”, a antiga ordem escravocrata, em que senhorios brancos arbitram sobre vidas negras, continua sendo a regra da nova “democracia”. Esses atores e atrizes sofrem a pressão vertical da opinião pública sobre a legalidade das prisões, conferindo fé pública aos policiais executores da prisão em flagrante e impondo aos acusados suas diligências. As audiências de custódia, segundo Carla Akotirene revela em É fragrante fojado dôtor vossa excelência, são definidoras dos números extravagantes de encarceramento da população negra no Brasil. Com pouca margem para exercerem a autodefesa e muitas vezes mal instruídos sobre seus direitos, muitas dessas pessoas são fichadas e marcadas pelo sistema prisional por meio de provas plantadas, ou seja, flagrantes forjados. Esse tipo de indução de crime por parte das polícias não é incomum, como as entrevistas que Akotirene fez com os flagranteados indicam. Sua atuação junto aos aprisionados transforma a pesquisa de campo – fruto de anos de lida com o sistema penitenciário na Bahia – em sabedoria.

[09/04/2024 07:00:00]
Matérias relacionadas
Publicada originalmente em 1958, esta obra fundamental do pensador baiano Alberto Guerreiro Ramos representa um marco ao aplicar intuições filosóficas para estudar as complexidades da realidade nacional
Hamilton dos Santos busca explicar que as ideias do filósofo continuam vivas e dialogam com uma realidade social com a qual ele mesmo sequer poderia sonhar
Obra discute o preconceito por trás de reconhecimento facial, filtros para selfies, moderação de conteúdo, chatbots, policiamento preditivo e outras aplicações que usam sistemas de inteligência artificial na atualidade
Leia também
Em 'A jornada de Mary', a autora desdobra as várias camadas da traição
Em 'O templo dos meus familiares', Alice Walker apresenta povos cuja história é antiga e cujo futuro ainda está por vir
Em 'Viver depressa', a autora-personagem lida com a morte do marido, imaginando o que poderia ter acontecido de diferente e salvado sua vida