Concursos literários e contratos editoriais
PublishNews, Paulo Tedesco, 06/10/2016
De que servem os concursos literários?! Em sua coluna, Paulo Tedesco responde a essa pergunta.

De que servem os concursos literários?! Essa é uma pergunta que se repete nas conversas e oficinas sobre produção editorial das quais tenho participado. Será que o concurso funciona como uma das melhores opções para um autor se posicionar no mercado editorial tradicional? Será que vale a pena entrar para esse mercado tradicional que nos trouxe, nos últimos meses, o fechamento da Cosac Naify e iniciativas como o concurso maluco proposto pela Amazon?

Vamos por partes, e é preciso. Existem dois tipos de concursos basicamente: aqueles que têm livros e textos (romances, contos, crônicas e poesias) não publicados e obrigatoriamente inéditos em qualquer suporte, como mote principal, e os que privilegiam os já publicados, onde usualmente os candidatos são livros lançados no ano anterior e sujeitos, de acordo com cada concurso, a diferentes categorias (a exemplo do Jabuti, da CBL, em que se concorre com criação editorial e a ilustração e outros, para além do texto de um mesmo título, em múltiplas categorias).

Por orientação, dou como dica, para quem ainda está nos primeiros passos como autor, tentar os concursos de textos inéditos mais como um exercício, como uma tarefa de iniciante, do que como um objetivo a ser alcançado a todo pano. O mesmo, porém, não vale para os concursos de livros prontos, a esses, e pelo alcance das mídias alternativas e redes sociais, o resultado da divulgação e reconhecimento de uma obra, às vezes financeiro, podem ser significativos e merecem boa atenção e envolvimento.

A conquista de um concurso -- como de um contrato editorial –, porém, não necessariamente pode ser a redenção de um autor e seu livro, e talvez esse o maior dos erros: superestimar o que talvez devesse ser encarado como algo de momento da carreira de um autor ou um título, e não uma certificação irrevogável dessa carreira. Aliás, de irrevogável, somente a morte.

Nesse contexto é que entra o concurso da Amazon com a Nova Fronteira – que obriga a que se mate o ineditismo de um original de romance como critério para inscrição (verdadeiro crime editorial), em troca de um contrato editorial e prêmio em dinheiro –, e a história da Editora Cosac Naify, que se vê às voltas com dispendiosos estoques devido à sua falência como empresa.

No primeiro, revela-se o que havia dito em outro artigo: que algumas empresas tentam inovar sem se preocupar com a vida de um livro e de um autor, jogando para cima suas ideias e partindo para o vale-tudo pelo marketing barato. No segundo, em que se pensa em transformar livros em aparas de papel como solução para de custos, é que reside a pergunta: o percentual a receber desses livros a caminho da máquina de picotadoras, e que está em contrato, o autor deverá receber em papel picado também?

Concursos são bons, sempre, mas, diante de episódios como listei acima, há um único e óbvio sentimento: o autor, como centro de um sistema nada tímido, econômico e politicamente, é sempre o mais esquecido, o mais abandonado. Então, por que não se tomar as rédeas da carreira com autoedição, questionar e agir? Coloquemos em dúvidas os concursos e os contratos com editoras que, como qualquer empresa privada, podem vir a quebrar, e também os interesses reais desses concursos; relativizemos seu tamanho e suas projeções, sob pena de sermos, muitas vezes, vítimas de laureamentos e acordos nada justos. E desta forma não sejamos dragados pelo silêncio dos perdedores, como se perdedores todos fossem quando se fala em escrever um livro.

[06/10/2016 06:00:00]