Em 2024, um dos temas no centro das preocupações do mercado editorial brasileiro foi a Lei Cortez. Fruto (ainda) de muitos mal-entendidos inclusive para leitores e pessoas próximas ao cenário literário, a Lei ganhou nos últimos anos apoio maciço das entidades do livro e das principais lideranças do setor. Em outubro, ela foi aprovada na Comissão de Educação do Senado, depois de ter sido desarquivada em maio de 2023. Existia a expectativa de que ela fosse diretamente para a Câmara, mas houve resistência de senadores, especialmente do campo mais à direita, e um requerimento obrigou o PLS 49/2015 a ser levado para o Plenário do Senado. O projeto atualmente aguarda inclusão na Ordem do Dia. 2024 foi também ano de divulgação da sexta edição da Pesquisa Retratos da Leitura, realizada pelo Instituto Pró-Livro a cada quatro anos. A Pesquisa chegou com a informação de que houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país. Um dos destaques da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro – Ano Base 2023, divulgada em maio, foi o crescimento geral do canal de vendas “site próprio/marketplace” – ou seja, as vendas diretas das editoras para os leitores/consumidores. Em 2023, segundo a Pesquisa, o setor editorial brasileiro registrou um faturamento de R$ 4 bilhões nas vendas ao mercado. No campo das políticas públicas do livro, o ano ficou marcado pela assinatura do decreto que regulamenta a Política Nacional de Leitura e Escrita (Lei 13.696, de 12 de julho de 2018), por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Clique no Leia mais para lembrar alguns dos principais acontecimentos de 2024 no mercado do livro do país.

Leitores e leitoras, sem vocês o PublishNews não existiria. Muito obrigado pela parceria, pela leitura atenta e pelos feedbacks. A equipe do PN entra em recesso de 24 de dezembro a 1º de janeiro de 2025. A nossa newsletter e a produção diária de notícias voltam no dia 3 de janeiro. Sigamos com a missão de contribuir para o desenvolvimento do mercado editorial e para a formação de um país que tenha o livro como fiel escudeiro. Acompanhe aqui as nossas retrospectivas das principais notícias do mercado do livro neste 2024. Boas festas!

O Ministério da Educação (MEC) publicou na última sexta (20), no Diário Oficial da União (DOU), o Edital do PNLD Literário Equidade, relativo ao Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD). O edital convoca editores interessados em participar do processo, que vai adquirir obras literárias voltadas à equidade educacional e à diversidade cultural. Os prazos para participar variam de acordo com a etapa de ensino e podem ser conferidos no edital. A ideia é refletir a pluralidade da sociedade brasileira do ponto de vista de temas e autores, promovendo a inclusão no acesso ao livro literário. Os materiais selecionados vão compor o acervo de escolas de ensino fundamental e médio; escolas da educação de jovens e adultos (EJA); além de bibliotecas públicas e comunitárias. Além do edital, o MEC irá consultar, por meio de formulário online, dirigentes e secretários municipais de todo o país sobre a incorporação das obras do PNLD às práticas pedagógicas do cotidiano das instituições de ensino. A pesquisa, realizada pela primeira vez e cujo link foi encaminhado por e-mail aos gestores, poderá ser respondida até 31 de janeiro e ser acessada também pelo Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle do Ministério da Educação (Simec). Clique no Leia mais para acessar a íntegra desta nota.

Faleceu na manhã deste sábado (21), em Lisboa, Pedro Sobral, diretor editorial do Grupo LeYa e presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), aos 51 anos. A informação foi confirmada pela editora em comunicado enviado à imprensa portuguesa. Sobral andava de bicicleta quando foi atropelado por um carro. O condutor abandonou o local, mas se entregou às autoridades pouco tempo depois. Pedro chegou a ser socorrido, mas acabou não resistindo. “Uma perda com danos inultrapassáveis, não apenas para todos os que na LeYa trabalharam de perto com Pedro Sobral, mas também para aqueles que, de uma forma ou de outra, estão ligados ao setor do livro - editores, escritores, livreiros e tantos leitores com quem Pedro Sobral sempre estabeleceu laços de forte ligação. ", disse o comunicado oficial da editora. “Nós, na LeYa, tudo faremos para prosseguir o projeto conduzido, nos últimos 2 anos, por Pedro Sobral, com a mesma convicção e entusiasmo que ele colocou em cada dia. Será essa a melhor forma de lhe prestarmos homenagem e, continuadamente, de expressarmos a nossa gratidão”, continua a declaração. Clique no Leia mais para acessar a íntegra desta nota.

A principal notícia do final de semana foi a morte trágica do editor português Pedro Sobral, aos 51 anos. Em comunicado, o grupo LeYa divulgou o velório ocorre nesta segunda-feira (23) em Lisboa. O diretor editorial do grupo LeYa era também o presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) desde 2021 e morreu neste sábado (21), vítima de um atropelamento. O jornal Postal publicou um tributo a Sobral, que tinha o hábito de fotografar a cidade de Lisboa pela manhã. O portal Mais Ribatejo noticiou, segundo a agência Lusa, que o condutor responsável pelo atropelamento já se apresentou às autoridades, acompanhado por um advogado. O Jornal de Aveiro divulgou que após o sinistro envolvendo o diretor, a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) passou a exigir medidas de proteção concretas para ciclistas. O editor havia proposto na semana passada, ao jornal Público, um artigo de opinião que é uma defesa da leitura em resposta a baixos índices de letramento da população portuguesa, divulgados recentemente divulgados. Por acordo com a APEL, o jornal publicou o texto. Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal, se pronunciou após o ocorrido, de acordo com o Diário de Notícias. Em outras notícias, a Ilustrada, da Folha, publicou uma reportagem que relata o aumento em 23% no preço das HQs no Brasil nos últimos três anos. Os dados fazem parte da pesquisa feita pela Nielsen BookScan. De acordo com o texto, o setor de quadrinhos também teve uma queda de 14% no número de vendas em 2023 no Brasil. O Estado de S. Paulo também colocou a nona arte em destaque, com uma lista dos melhores quadrinhos lançados em 2024. Clique no Leia mais para ler a nota na íntegra.

Antonio Scurati escreveu um livro poderoso no qual entrelaça a incrível história de Leoni Ginzburg (1909-1944), figura célebre no meio editorial italiano, fundador da editora Einaudi, intelectual e historiador, perseguido pelo regime fascista nos anos 1930 e 40 com fim trágico, com a trajetória de seus avós, que viveram mais ou menos na mesma época no conturbado cenário italiano. A melhor época de nossas vidas (Manjuba) chega ao Brasil pelo selo da editora Mundaréu com tradução de Federico Carotti, e levou os prêmios Viareggio-Rèpaci e Seleção Campiello em 2015. Scurati (Nápoles, 1969) é professor na Universidade de Comunicação e Línguas (IULM) em Milão e colunista do jornal La Repubblica. Depois de alguns trabalhos publicados e reconhecidos na Europa, em 2018 ele iniciou uma trilogia sobre o fascismo e Benito Mussolini com M. O filho do século, laureado com o Prêmio Strega 2019, a principal premiação literária italiana, M. O homem da providência (2020) e M. Os últimos dias da Europa (2022), trilogia publicada no Brasil pela Intrínseca. Neste ano em que a Feira de Frankfurt homenageou a Itália, ele foi um dos principais convidados da delegação no evento – não sem um bom par de polêmicas. Ao PublishNews, Scurati respondeu três perguntas. Clique no Leia mais para ler a entrevista.

No episódio desta segunda-feira (23) do Podcast do PublishNews, vamos retomar um dos momentos mais marcantes do ano: a Casa PublishNews na Flip 2024. Lá, tivemos discussões muito importantes de assuntos diversos do mercado editorial e do setor do livro, procurando também promover discussões e debates de temas não apenas restritos ao mercado. Com os leitores e o setor editorial abertos a maior diversidade de vozes e leituras, recebemos a mesa "Sabedoria indígena, a mais avançada das avançadas tecnologias", com Angela Pappiani (autora, lançando A jornada de Roweõ – Elo), Txai Suruí (autora, lançando Canção do amor – Elo) e com a mediação de Mayra Sigwalt (escritora e produtora de conteúdo). As autoras falaram de seus novos títulos e também detalharam as suas trajetórias pessoas e profissionais com a questão indígena no Brasil. O Podcast do PublishNews é um oferecimento da MVB, a empresa que torna os seus livros visíveis com serviços como Metabooks e Pubnet; da UmLivro, novo modelo de negócios para o mercado editorial: mais livros e mais vendas; e da Câmara Brasileira do Livro (CBL), a entidade que representa editores, livreiros, distribuidores e demais profissionais do setor. Você também pode ouvir o programa pelo Spotify, iTunes; Google Podcasts, Overcast e YouTube.

Assim como Bill Gates, o ex-presidente dos EUA Barack Obama também criou o costume de compartilhar no final de cada ano os seus livros, músicas e séries favoritos. Neste ano, foram dez livros que, segundo ele, ficaram em sua mente muito tempo depois de terminar de lê-los. “Confira-os nesta temporada de férias, de preferência em uma livraria ou biblioteca independente”, aconselhou Obama em sua rede social. A primeira obra é Geração ansiosa (Companhia das Letras), de Jonathan Haidt, também indicada por Gates este ano. O livro investiga o colapso da saúde mental entre os jovens ― e oferece um plano urgente para uma infância mais saudável e livre de telas. A lista continua com o novo livro de Sally Rooney, Intermezzo (Companhia das Letras), uma história sobre luto, amor e laços familiares e que tem como personagens os irmãos Peter e Ivan Koubek; e Patriot, autobiografia do advogado, ativista e político russo Alexei Navalny. Principal opositor do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ele começou a escrever a obra logo depois do envenenamento quase fatal em 2020. É a história completa de sua vida: sua juventude, seu chamado ao ativismo, seu casamento e família, seu compromisso em desafiar uma superpotência mundial determinada a silenciá-lo e sua convicção total de que a mudança não pode ser resistida — e virá. O livro será publicado por aqui pela Rocco. O vencedor do Booker Prize 2024, Orbital, de Samantha Harvey, também está na lista. A obra, que será publicada pela DBA Literatura no próximo ano, se passa em um único dia na vida de seis astronautas e cosmonautas a bordo da Estação Espacial Internacional. Clique no Leia mais para conferir a lista completa.

A Pottermore Publishing – editora de audiolivros e e-books da série Harry Potter, de J.K. Rowling, e títulos associados do mundo mágico – relatou na última quinta (19) que teve um ano recorde. A empresa relatou na Companies House que as receitas no ano – contadas até 31 de março de 2024 – aumentaram em £ 0,6 milhões para £ 48,8 milhões - aproximadamente R$ 368 milhões - (2023: £ 48,2 milhões) e os lucros antes dos impostos também aumentaram em 21% para £ 11,4 milhões (2023: £ 9,4 milhões). "A Pottermore teve um ano recorde graças às suas fortes parcerias comerciais com as vendas dos e-books e audiolivros de Harry Potter agora estabelecidas em um padrão mais regular após os picos durante a pandemia de Covid", diz o relatório. A trajetória financeira da empresa foi volátil após a pandemia, com lucros caindo 40% em 2022 antes de melhorar muito no ano passado. O relatório da Companies House frisa também que foi também um ano com menos lançamentos de conteúdo e que o custo das vendas caiu para £ 32,6 milhões ante os £ 35,3 milhões em 2023, incluindo comissões e royalties. A Pottermore Publishing disponibiliza seu catálogo por meio de uma rede de distribuição global, incluindo parceiros de varejo e biblioteca online, incluindo Amazon, Apple, Audible, BookBeat, Google e Yoto, entre outros. Clique no Leia mais para conferir a íntegra desta nota.

A edição de dezembro do jornal Cândido debate as transformações, variações e nuances regionais da língua portuguesa que constroem a profundidade do idioma e da literatura brasileira. A repórter Bianca Weiss conversou com linguistas, professores e comunicadores para entender a complexidade do idioma no Brasil. Na retranca, a redação selecionou algumas obras que demonstram a vivacidade linguística do português. O escritor, tradutor e professor Caetano Galindo, autor de Latim em pó (Companhia das Letras), concede uma entrevista ao jornalista Lucas de Lima, sobre questões do idioma dentro do espectro educacional, cultural e sociopolítico, ampliando o debate da reportagem principal. Dalton Trevisan, falecido no último dia 9, aos 99 anos, está na pensata de Luiz Felipe Leprevost, diretor da Biblioteca Pública do Paraná (BPP), que revela suas percepções acerca do legado literário do escritor. Clique no Leia mais para ler a nota na íntegra.

Após temporada no Rio de Janeiro, com indicações a prêmios, o monólogo Eu sou um Hamlet faz sua estreia em São Paulo, trazendo Rodrigo França no papel do icônico personagem de Shakespeare. A temporada começa no dia 9 de janeiro de 2025, às 20h, no Sesc Pinheiros (Rua Paes Leme, 195 – São Paulo / SP). Sob a direção de Fernando Philbert, o espetáculo oferece uma releitura contemporânea da obra do bardo, com tradução assinada por Aderbal Freire-Filho, Wagner Moura e Barbara Harrington. A adaptação, fruto da colaboração criativa entre Jonathan Raymundo, Fernando Philbert e Rodrigo França, reforça a parceria dos dois últimos, já consagrada no espetáculo Contos negreiros. As apresentações seguem até 22 de fevereiro, de quinta a sábado às 20h. Os ingressos custam de R$ 15 a R$ 50. A montagem utiliza as falas de Hamlet para refletir sobre um mundo violento e segregado, lançando luz sobre as questões da sociedade atual e a condição de humanidade de um homem negro no Brasil. Ao incorporar um ator negro, a peça amplia os dilemas do clássico, trazendo a consciência da realidade ao personagem. Clique no Leia mais para ler a nota na íntegra.

Como narrar a trajetória de Ariano Suassuna, um dos maiores nomes da cultura brasileira? Pela vida? Pela obra? Pelo passado? Pelo presente? E quem é capaz de abarcar a totalidade de um sujeito que mudou a história da arte brasileira? Pensando nestas questões, o pesquisador Anderson da Silva Almeida, doutor e mestre em história pela Universidade Federal Fluminense (UFF), organizou a obra Ariano Suassuna no teatro da vida (CRV, 354 pp, R$ 79,45). Com extenso trabalho no campo de pesquisa, Anderson já foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura, em 2018, na categoria Biografias e vencedor do Prêmio Memórias Reveladas, do Arquivo Nacional, em 2010. A obra é lançada no ano em que se completa 10 anos da morte de Ariano no contexto dos 60 anos do Golpe de 1964. Além disso, Ariano Suassuna: no teatro da vida também chega ao mundo na ocasião do lançamento do filme O Auto da Compadecida 2, esperada continuação de um dos maiores clássicos do cinema nacional. Segundo o organizador, o livro representa a realização de um desejo de conhecer mais profundamente a atuação de um grande intelectual no período da ditadura e o movimento cultural por ele criado, o Movimento Armorial, que reverberou principalmente no Nordeste uma tentativa de se construir o que ele chamou de “cultura erudita brasileira”, com inspiração na chamada “cultura popular” e o que seriam suas raízes ibéricas e árabes, principalmente.

A vida de Frantz Fanon se lê como um verdadeiro thriller da descolonização. É também o testemunho essencial das convulsões políticas e intelectuais do século XX, cujas consequências chegam até nós. Após combater na Europa e no Norte da África durante a Segunda Guerra, e tendo estudado medicina na França, Fanon, um jovem psiquiatra carismático e talentoso vindo da Martinica, publica Pele negra, máscaras brancas com apenas 27 anos: uma obra profética que com o tempo se tornará um clássico incontornável do pensamento antirracista. Num texto que preza pela clareza e erudição exemplares, A clínica rebelde (Todavia, 576 pp, R$ 109,90 – Trad.: Érika Nogueira Vieira) é a melhor e mais profunda apresentação da vida e obra de Frantz Fanon. Traçando com minúcia o extraordinário destino de seu personagem, o autor mostra por que o revolucionário negro é cada vez mais importante nos dias de hoje. Fanon teve uma vida dedicada ao pensamento e à ação. Contraditória, como mostra Adam Shatz, mas cada vez mais essencial.

Durante a escravidão e as primeiras décadas do pós-abolição, diversos homens e mulheres que atuavam como jornalistas, advogados, artistas, padres, médicos, engenheiros, poetas, escritores e educadores pensaram e escreveram sobre o Brasil. Essa produção, na maioria das vezes invisibilizada pelo racismo, propôs utopias, criticou as desigualdades e refletiu sobre diversas dimensões da vida pública brasileira. Organizada por Iamara Viana e Flávio Gomes, a obra Vidas impressas (Selo Negro Edições, 280 pp, R$ 99,90) visa jogar luz sobre o pensamento e as ações desses intelectuais negros e negras. Que estratégias utilizaram para se fazer reconhecidos? Que caminhos tiveram de trilhar para burlar um sistema opressor, que buscava apagá-los da história? No livro, que reúne pesquisadores de todo o Brasil, o leitor encontrará interpretações originais sobre personagens negras e negros dos séculos XIX e XX e sobre suas contribuições em diversos campos. Do conhecidíssimo Luiz Gama ao primeiro beato negro do Brasil, passando por nossa primeira médica negra e por uma de nossas maiores escritoras, os textos aqui presentes descortinam um passado histórico rico em conhecimento e resistência. Fotos e ilustrações compõem a obra.

Martin Luther King Jr. é dos “pais fundadores” dos EUA. Essa ideia, que à primeira vista pode soar excêntrica, ganha consistência ― e se torna até tímida ― com a leitura da biografia King: Uma vida (Companhia das Letras, 624 pp, R$ 139,90 – Trad.: Denise Bottmann), fruto de pesquisa exaustiva e baseada em arquivos do FBI só agora liberados pela Casa Branca. Aliás, podemos ir mais longe e ver King como um dos fundadores da própria democracia liberal moderna. Neste livro, Jonathan Eig recusa a narrativa do herói determinado a lutar até a morte por justiça e liberdade e nos mostra King de perto: no recesso do lar, com a família e amigos; na sua intimidade, com suas dúvidas e atribulações mais pessoais; e em perspectiva, contra o pano de fundo de sua atuação política nacional e internacional. Assim, descobrimos que o equilíbrio emocional e a retidão moral projetados por sua figura pública contrastavam com distúrbios psíquicos, vícios mundanos e desvios de conduta na vida privada. Em tempos de acirrada discussão sobre a crise da democracia ― e seu possível destino ― revisitar a vida de King à luz de suas contradições é exercício instigante, inspirador e, sobretudo, necessário. O livro venceu o Prêmio Pulitzer.

Joel Rufino dos Santos: Humanista, inquieto, um homem livre (Moderna, 56 pp, R$ 87) é a biografia de um dos maiores intelectuais da cultura negra no Brasil. Não por acaso a obra do escritor e jornalista Luís Pimentel é especialmente voltada para o público juvenil, um dos preferidos e foco do trabalho do historiador, romancista e ativista. No livro, com ilustrações de Rodrigo Andrade, que mergulhou em cada detalhe da trajetória do biografado, Pimentel apresenta um panorama da vida de Joel Rufino, do nascimento, em 1941, até a vida adulta, passando por sua atuação política, acadêmica e literária. O autor construiu o trabalho a partir de entrevistas com o próprio Joel, que chegou a aprovar o texto final pouco antes de falecer, em 2015. Quase dez anos depois, a obra chega ao público pela Moderna. “Os admiradores de Joel Rufino merecem essa biografia. Mas podemos acrescentar: todo mundo merece conhecê-lo”, declara Luís Pimentel no prefácio.

Clarice Lispector entrevista (Rocco, 420 pp, R$ 109,90) chega às livrarias em uma nova edição, com capa dura e 35 novas entrevistas, entre as 83 que compõem o volume. Elas foram produzidas paras as revistas Manchete (1968-69) e Fatos & Fotos: Gente (1976-77), e o livro De corpo inteiro (1975), que reuniu entrevistas previamente publicadas na Manchete e no Jornal do Brasil. A presente edição ainda traz um texto de apresentação inédito assinado pela professora britânica Claire Williams, chefe do Departamento de Literatura e Cultura Brasileira do St Peter’s College, Universidade de Oxford, e especialista na obra clariceana. Entre as novidades, estão bate-papos da escritora com o ensaísta Austregésilo de Athayde, o paisagista Burle Marx, a cantora Maysa e Elke Maravilha, formando, em sua diversidade, um painel representativo do pensamento de grandes personalidades brasileiras da época. O livro também traz informações sobre seu método de trabalho. É sabido que Clarice preferia fazer anotações à mão a usar gravador nessas entrevistas, que aconteciam geralmente no seu apartamento, na casa ou no escritório do entrevistado, ou ainda no restaurante Antonio’s, no Leblon. Com o seu olhar arguto, capaz de capturar nuances que escapam do lugar-comum, Clarice revelou aspectos pouco conhecidos dos seus entrevistados, mas também deixou escapar valiosas informações pessoais e sobre seu processo criativo.