Três Perguntas do PN para Iara Biderman
PublishNews, Monica Ramalho, 07/11/2025
'Sou do tempo em que jornalista não é notícia', analisou a jornalista e crítica de arte, na entrevista que você pode ler em seguida
Iara Biderman © Renato Parada
Iara Biderman © Renato Parada
A jornalista e crítica de arte Iara Biderman venceu essa semana um importante prêmio literário com o seu livro de estreia, Tantra e a arte de cortar cebolas, lançado pela Editora 34, em junho de 2024. A obra encabeçou a lista dos escolhidos na categoria Conto (Prêmio Clarice Lispector), do Prêmio Biblioteca Nacional, que garante um regalito em dinheiro, no valor de R$ 30 mil, além de toda a visibilidade que o galardão confere aos ganhadores.

Editora da revista Quatro Cinco Um, referência no jornalismo literário brasileiro, e com mais de 40 anos de carreira, Iara também dança e transita com precisão e leveza entre o olhar analítico e a escrita de ficção. Ela nasceu e mora em São Paulo (SP), a metrópole onde tudo acontece no país.

Em conversa com o PublishNews, Iara falou sobre a surpresa do prêmio, do nascimento tântrico de seus contos tão singulares - experimento que iniciou há cerca de cinco anos -, e do desafio de manter a escrita viva entre tantas pautas, pilhas de livros recebidos diariamente e prazos alucinados de redação. "Sou do tempo em que jornalista não é notícia", analisou, na entrevista que você pode ler em seguida:

PUBLISHNEWS -– ⁠O seu livro Tantra e a arte de cortar cebolas acaba de ser reconhecido com o Prêmio Biblioteca Nacional. Como essa notícia dialoga com sua trajetória de jornalista e crítica de arte — alguém que sempre analisou a criação alheia e agora é analisada? Você se via no páreo por esse prêmio? E o que ouviu dos leitores que mais gostou?

IARA BIDERMAN – É a primeira vez que estou do outro lado do balcão, ainda estou me acostumando – sou do tempo em que jornalista não é notícia. E realmente, não esperava por esse prêmio. Ganhar um Clarice Lispector da Biblioteca Nacional é um luxo, mas nem cultivei muito a fantasia de ganhar (isso a gente sempre tem) porque não me via no páreo.

PN – ⁠Nos contos do livro, há uma escrita que parece mediar o gesto cotidiano e o simbólico — cortar cebolas, por exemplo, vira quase um ritual. Como o livro nasceu? O nome é instigante pra caramba! Como veio esse batismo?

IA – Foi um nascimento tântrico, longuíssimo. São contos que fui escrevendo ao longo de cinco anos, mais ou menos, e que em determinado momento percebi que tinha um livro ali. Não só uma reunião de textos dispersos, mas uma linha narrativa, com contos que conversam bastante, na forma e conteúdo. O título do livro é de um dos contos – pensei nesse título assim que escrevi o primeiro parágrafo.

PN – Você está à frente da edição da Quatro Cinco Um, revista fundamental para quem aprecia de verdade a literatura. Como essa rotina de editora interfere na sua escrita literária? E o que os contos te ensinaram sobre o trabalho de peneirar os livros que merecem espaço na edição impressa?

IA – Rotina de redação interfere em muita coisa, é preciso um esforço consciente para não deixar de lado todo o resto da vida fora do trabalho (sim, existe vida fora da redação). Mas também, acho que em todos esses anos de jornalismo, aprendi a trabalhar no caos. E, para quem escreve ficção, estar na Quatro Cinco Um, imersa nessa diversidade de livros, ajuda muito.

[07/11/2025 11:46:53]