
Com quase 25 anos de casa e à frente do departamento de design da Record, Iaccarino é referência no mercado editorial brasileiro. Só nos últimos cinco anos, foram sete prêmios no LAD Awards. Em 2023, o projeto gráfico feito a giz, inspirado nos botequins e terreiros do Rio, do livro Sonetos de birosca e poemas de terreiro (José Olympio, 2022), de Luiz Antonio Simas, rendeu medalha de prata no International Design Awards (IDA) e garantiu o Prêmio Aloísio Magalhães, concedido pela Biblioteca Nacional.
O currículo do designer inclui também distinções do Prêmio Jabuti e da Bienal Brasileira de Design Gráfico (ADG), além de um reconhecimento internacional no International Design Awards (IDA), que celebra profissionais de diferentes áreas do design em todo o mundo. Ele não brinca em serviço.

Entre seus trabalhos mais marcantes estão a criação da identidade visual da obra de Carlos Drummond de Andrade e capas de grandes sucessos editoriais, como Tudo é rio (Record, 2021), de Carla Madeira, e A biblioteca da meia-noite (Bertrand Brasil, 2021) de Matt Haig, com acabamento fosforescente. Iaccarino também foi o responsável pelo projeto gráfico de boxes premiados com a obra de autores de peso como Albert Camus, Hermann Hesse, Umberto Eco e Graciliano Ramos.
Da produção mais recente, chamam a atenção o Box Hemingway, a supracitada capa da biografia Lou Reed: O rei de Nova York e a identidade visual do clube de leitura de Gabriela Prioli e Leandro Karnal. Um percurso que revela, em cada lançamento e condecoração, a excelência de um dos principais nomes do design editorial brasileiro, que conversou com o PublishNews de um hotel.
PUBLISHNEWS - Você já criou mais de mil capas de livros - muitas delas premiadas. Quando uma ideia nasce, geralmente o que vem primeiro? Qual foi a capa mais desafiadora que já criou — e por quê?
LEONARDO IACCARINO - Não existe uma fórmula. Os processos costumam ser diferentes. Às vezes um insight, às vezes uma interpretação visual da leitura do livro, uma provocação… Cada processo é único. Diria que toda capa é desafiadora. Cada página (ou tela) em branco no início do processo é sempre um frio na barriga. Mas percebo que os projetos mais desafiadores são os de coleção e identidade visual. São projetos mais complexos, que precisam conciliar a unidade do conjunto com a peculiaridade de cada livro. E quando se trata de um sistema extenso, com muitos títulos, o desafio costuma ser ainda maior. Citaria como exemplos desafiadores as identidades que projetei para Gabriel García Márquez, Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade.
PN - Existe um projeto de capa que você considera um divisor de águas na sua carreira (por ter rendido um novo emprego, uma promoção, um prêmio ou uma superação própria)? Como faz para mesclar, em seus trabalhos, apelo comercial e experimentação estética preservando a essência do livro?
LI - Em 2003, no início de carreira, fiz a capa de um livro de negócios chamado Saia da sua caixa com uma linguagem mais experimental, longe dos padrões deste nicho editorial. A inusitada solução chamou atenção e o projeto foi selecionado para o anuário de design da How Magazine, nos EUA, assim como para Bienal brasileira de design. Isso fez com que eu entendesse, desde muito cedo, que para elaborar um bom projeto é preciso coragem e arriscar é necessário. A capa de A anatomia de Gray (2011), na qual fiz intervenções manuais, rendeu o primeiro lugar no Prêmio Jabuti. Esses dois exemplos me mostraram que experimentar é preciso - me deram a certeza de que a liberdade exploratória é necessária para um trabalho consistente. E sobre mesclar criação e venda, procuro honrar o conteúdo do livro de forma não óbvia. Tento equalizar o que o livro tem a dizer com o que eu tenho a dizer sobre o livro. Acrescentar algo através do meu olhar, uma interpretação, um questionamento. Um equilíbrio entre respeito e atrevimento.
PN - O design editorial brasileiro evoluiu muito desde que você começou a trabalhar na área? O que significa para você ganhar – pela quinta vez consecutiva! – o LAD Awards com a capa da biografia do Lou Reed?
LI - O design editorial brasileiro sempre foi muito inventivo. Temos um nível altíssimo, com inúmeros profissionais que não devem nada aos grandes mercados internacionais. A sequência de prêmios serve pra mostrar uma consistência no que estamos produzindo. Que estamos no caminho certo, concebendo produtos inovadores e bem pensados para o mercado editorial brasileiro. De certa forma, é um atestado de reconhecimento da minha forma de trabalhar, e isso é muito gratificante. Me emociona quando sei que leitores são tocados pelo meu olhar, que meus projetos são convites a imersão no universo literário. Quando me perguntam se eu não canso de fazer ‘a mesma coisa há quase 30 anos’ minha resposta é sempre: ‘Nunca é a mesma coisa’. Cada livro é sempre uma nova porta para o desconhecido, uma nova gestação e um novo parto. Aí reside a beleza do meu ofício.