Eventos literários aproximam culturas e mercados, destaca líder editorial chinês
PublishNews, Talita Facchini, 08/08/2025
Chang Bo, presidente do China Publishing Group (CPG), conversou com o PublishNews sobre a Feira de Pequim, o mercado editorial chinês e os planos de intercâmbio entre Brasil e China

Chang Bo | © Divulgação
Chang Bo | © Divulgação

O China Publishing Group (CPG) é o maior grupo editorial comercial e profissional na China, com um foco em cultura e intercâmbio cultural. Além disso, o Grupo é composto por 40 editoras e 96 subsidiárias, que produzem anualmente mais de 20 mil títulos de livros, publicações audiovisuais, publicações eletrônicas e online, além de mais de 50 jornais e revistas.

Entre as subsidiárias do CPG, está a China National Publications Import and Export (Group) Co., Ltd. (CNPIEC), a maior empresa de importação e exportação de publicações do país, que movimenta mais de 200 mil publicações anualmente e responde por 62% da importação de livros e 30% da exportação do mercado interno.

Por trás da empresa estatal está o presidente Chang Bo, executivo responsável por administrar toda a cadeia de produção editorial da CPG. Sob sua liderança, o CPG ampliou investimentos em tecnologias avançadas de conteúdo, além de reforçar a presença institucional em eventos internacionais como a Feira do Livro de Pequim, atuando em parceria com o governo e associações do setor.

Sua imagem pública é a de moderador e propagador da estratégia de "publicação + tecnologia", comunicando iniciativas de IA e digitalização a um público global de editores.

Logo após a Feira do Livro de Pequim 2025, Chang Bo concedeu uma entrevista ao PublishNews, que você confere a seguir. No bate-papo, ele falou sobre a Feira de Pequim e seu papel no evento, divulgou números referentes à última edição da Feira e sobre mercado editorial chinês, compartilhou suas visões de negócio e adiantou algumas novidades, como a informação de que, em 2026, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) enviará sua primeira delegação à BIBF, "um marco significativo que abrirá novas e empolgantes oportunidades de cooperação para nossas indústrias editoriais", segundo Chang Bo.

PN – Quais foram os objetivos estratégicos da Feira Internacional do Livro de Pequim 2025 (BIBF 2025)? E como a feira do livro serviu como uma plataforma eficaz para a cooperação internacional?

CB – A BIBF 2025 teve como principais objetivos promover o desenvolvimento cultural, fomentar uma forte cultura de leitura em toda a sociedade, fortalecer o comércio internacional de bens e serviços culturais e compartilhar histórias da China com o público global por meio de livros. A feira do livro deste ano destacou as conquistas na publicação temática e outros grandes projetos editoriais. O evento apresentou livros excepcionais que atendem aos diversos interesses culturais e intelectuais da população, demonstrou os avanços recentes no setor e abriu novas oportunidades de intercâmbio cultural entre a China e o resto do mundo. Reuniu mais de 1.700 expositores de 80 países e regiões, apresentando 220 mil títulos de alta qualidade, com 90 mil títulos disponíveis para aquisição de direitos. Por meio de exposições e transações de direitos autorais, a feira teve como objetivo levar conteúdo e propriedades intelectuais inspirados na cultura chinesa para o mundo.

A BIBF 2025 também promoveu a cooperação internacional por meio de suas exposições e atividades de intercâmbio cultural. Seu foco global foi destacado por uma área de exposição no exterior com estandes nacionais representando 27 países, incluindo EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e Itália. Além disso, a feira apresentou conquistas na tradução de obras clássicas de e para o chinês. Serviu como uma plataforma para promover a assinatura de memorandos de entendimento sobre tradução, avançar a pesquisa acadêmica sobre a perspectiva chinesa sobre civilização, bem como sua interpretação e comunicação, e incentivar o estudo de clássicos mundiais. Os principais destaques incluíram a Cerimônia de Premiação do Prêmio Especial de Livros da China e o lançamento de seu programa de reunião de vencedores.

E, ao lançar um programa para expositores do Sul Global, a feira atraiu um público mais diversificado, destacou as conquistas da Iniciativa Cinturão e Rota e construiu novas parcerias para o intercâmbio cultural.

China Publishing Group
China Publishing Group

PN – Com tantas marcas sob o guarda-chuva do CPG, como sua equipe coordena direitos internacionais, traduções e intercâmbios culturais para garantir tanto o sucesso comercial quanto o impacto cultural?

CB – Nossa estratégia principal é levar obras chinesas excepcionais a um público global por meio de uma combinação de acordos de licenciamento e copublicação internacional. Para isso, construímos uma equipe de sinólogos e tradutores profissionais especializados em diferentes idiomas. Suas traduções de alta qualidade preservam a riqueza e a nuance dos textos originais, permitindo que as obras chinesas repercutam entre leitores em todo o mundo. Promovemos o diálogo internacional por meio de uma ampla gama de atividades de intercâmbio cultural. Essas atividades incluem a realização da BIBF, a facilitação da participação de profissionais da publicação em outras feiras internacionais do livro e a organização de salões e seminários literários. Esses eventos nos proporcionam uma plataforma para interagirmos com escritores, acadêmicos e figuras-chave do setor, nacionais e estrangeiros. Eles não apenas demonstram a diversidade e a riqueza das publicações de alta qualidade da China, mas também promovem efetivamente o intercâmbio cultural e o aprendizado mútuo entre os países.

O sucesso do nosso negócio internacional de licenciamento de direitos autorais depende do trabalho de sinólogos e tradutores com amplo conhecimento da cultura chinesa. Seu trabalho vai além da tradução precisa; eles atuam como embaixadores culturais. Por meio de atividades como fóruns literários e eventos culturais, esses especialistas demonstram efetivamente o apelo da literatura chinesa para públicos internacionais, impulsionando assim seu alcance e aceitação globais. Por meio de cooperação e intercâmbio multidimensionais, o China Publishing Group não apenas alcançou significativo sucesso comercial, mas também expandiu notavelmente sua influência cultural, contribuindo para o intercâmbio cultural e o aprendizado mútuo entre a China e outros países.

PN – A América Latina, especialmente o Brasil, demonstra interesse crescente em publicações e intercâmbios culturais com a China. O China Publishing Group tem alguma iniciativa em andamento ou planejada para aprofundar ainda mais a cooperação na região?

CB – As relações entre a China e os países latino-americanos se fortaleceram significativamente nos últimos anos. A China está pronta para lançar conjuntamente cinco programas focados em cinco áreas principais: solidariedade, civilização, desenvolvimento, paz e conectividade entre os povos. O objetivo final é construir uma comunidade China-ALC com um futuro compartilhado. A cooperação política, econômica e cultural continua a se aprofundar, produzindo resultados notáveis, particularmente nos setores cultural e editorial.

O China Publishing Group sempre priorizou a cooperação com a América Latina e temos observado com satisfação o crescente interesse da região, especialmente de países como Brasil e Chile, em colaborar em iniciativas culturais e editoriais. Para promover as relações bilaterais, a BIBF implementou políticas de apoio direcionadas às editoras latino-americanas nos últimos dois anos, incluindo estandes gratuitos para editoras de destaque cuidadosamente selecionadas, além de sessões de networking empresarial e eventos culturais adaptados às necessidades da região.

O ano de 2024 foi crucial para o intercâmbio editorial entre a China e a América Latina. Um marco importante foi alcançado em novembro de 2024, quando a China foi o centro das atenções como Convidada de Honra na Feira Internacional do Livro de Santiago, no Chile.

Nos últimos anos, o China Publishing Group também enviou delegações a universidades, editoras e bibliotecas na Argentina, Peru e Brasil para aprofundar sua compreensão de suas necessidades culturais e tendências de mercado.

Também participamos ativamente de feiras internacionais de livros. Esse compromisso foi demonstrado recentemente em junho deste ano, quando nossa delegação participou da Bienal do Livro Rio. Eles se encontraram com representantes de bibliotecas locais e organizações de prestígio, como a Companhia das Letras, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Universidade Federal Fluminense. Essas reuniões resultaram em diversos novos acordos para licenciamento de direitos autorais, copublicação e intercâmbio cultural, que serão fundamentais para a expansão de nossa rede de distribuição internacional de conteúdo chinês.

No segundo semestre deste ano, nossa subsidiária, China National Publications Import & Export Group (CNPIEC), planeja liderar uma delegação de escritores chineses ao Brasil. Essa iniciativa visa ajudá-los a se conectar diretamente com os leitores locais e promover o entendimento mútuo e a amizade entre nossos países. Enquanto isso, o intercâmbio editorial entre a China e o Brasil continua a se intensificar. A BIBF está trabalhando em estreita colaboração com a CBL para explorar modelos de cooperação vantajosos para ambas as partes em áreas como licenciamento de direitos autorais, tradução e publicação, e intercâmbios profissionais. A Câmara Brasileira do Livro enviará sua primeira delegação à BIBF em 2026, um marco significativo que abrirá novas e empolgantes oportunidades de cooperação para nossas indústrias editoriais.

PN – Considerando o grande e diversificado público leitor brasileiro, como você avalia o potencial da literatura chinesa no país? Quais são as principais oportunidades e obstáculos que o país enfrenta no mercado brasileiro?

CB – O Brasil é um país grande. Seu vasto e culturalmente diverso público leitor representa uma oportunidade fantástica para a literatura chinesa. O potencial é imenso, especialmente dada a rica variedade de histórias e gêneros que os autores chineses podem oferecer. À medida que os laços econômicos e culturais entre a China e o Brasil se fortalecem, o número de brasileiros aprendendo chinês está aumentando, fornecendo uma base linguística para que a literatura chinesa alcance o público brasileiro. Para aproveitar as oportunidades, os dois lados realizarão salões literários e exposições culturais para cultivar o interesse e a apreciação pela literatura chinesa entre os leitores brasileiros.

No entanto, a disseminação da literatura chinesa no Brasil ainda enfrenta desafios significativos, decorrentes principalmente de barreiras linguísticas, diferenças culturais e marketing insuficiente. O fato de o português ser a língua oficial do Brasil, juntamente com a escassez de sinólogos que falam português e o número limitado de programas de língua chinesa nas universidades locais, apresenta desafios para a tradução direta da literatura chinesa. Como resultado, a maior parte da literatura chinesa publicada no Brasil é retraduzida de outras línguas, como o inglês. Isso compromete a autenticidade dessas obras e dificulta sua ampla divulgação no país. Além disso, impulsionadas pela demanda do mercado, as editoras locais tendem a selecionar determinados escritores e obras para seus programas de tradução, o que, por sua vez, limita a divulgação da literatura chinesa no Brasil.

PN – O China Publishing Group fez progressos significativos em sua transformação digital. Quais são as principais prioridades para a próxima fase e como a IA desempenhará esse papel?

CB - Nossas subsidiárias, incluindo a CNPIEC, estão liderando a transformação digital, concentrando-se na inovação tecnológica em seus negócios principais. No centro desse esforço está a estratégia de “tecnologia + dados”, que envolve o aproveitamento de tecnologias avançadas como IA, big data e computação em nuvem para desenvolver novos modelos de negócios e impulsionar a modernização de todo o setor. Por exemplo, três subsidiárias de alta tecnologia da CNPIEC já desenvolveram modelos de negócios bem-sucedidos com aplicações comprovadas no setor:

• Novo Varejo: Este modelo utiliza a abordagem “venda primeiro, imprima depois”, permitindo a impressão de livros sob demanda. As parcerias com editoras locais em impressão e distribuição produziram resultados sólidos, e esse modelo sob demanda melhorou significativamente a eficiência da distribuição de livros chineses nos mercados internacionais.

• Nova Leitura: Este modelo transforma o conteúdo impresso tradicional em produtos e serviços que oferecem experiências de leitura imersivas e interativas. A subsidiária da CNPIEC firmou parcerias com mais de 40 editoras nacionais para criar mais de 200 séries de vídeos. Também lançou espaços de leitura do metaverso em províncias e regiões como Fujian, Guizhou e Xinjiang, ajudando ativamente a construir centros culturais públicos e a promover a leitura para todos.

• Novas Tecnologias: Este modelo concentra-se no desenvolvimento de serviços de conhecimento proprietários e soluções de Mestrado em Administração (LLM) para acadêmicos. Os resultados incluem soluções de IA da LUFFA e de escrita assistida por IA, projetadas para editoras acadêmicas e agências governamentais.

PN – Quais programas de treinamento ou intercâmbio de talentos o China Publishing Group implementou em colaboração com parceiros internacionais para promover a inovação editorial e o entendimento mútuo?

CB - O China Publishing Group alcançou resultados notáveis no fomento da inovação editorial e do entendimento intercultural por meio de programas bidirecionais de intercâmbio de editores e diversas plataformas que facilitam a comunicação internacional aprofundada entre editores.

Nos últimos dois anos, nosso programa de treinamento internacional para editores enviou jovens e profissionais em meio de carreira promissores para aprender com as principais editoras do mundo. Por meio de visitas a editoras renomadas e participação em seminários do setor, eles adquiriram um profundo conhecimento das últimas tendências internacionais do setor editorial. Isso aprimora nossa inovação de conteúdo, introduzindo novas perspectivas globais.

Para promover o entendimento mútuo, também convidamos editores internacionais para a China. Os programas do CNPIEC, como o Beijing Publishing Fellowship e o BIBF Global Youth Publishing Fellowship Program, oferecem aos editores internacionais um rico itinerário que inclui diálogos com autores, palestras com especialistas, estudos de caso e visitas a editoras líderes. Ao visitar editoras chinesas de destaque, como a People's Literature Publishing House, o CITIC Press Group e a The Writers Publishing House, os participantes obtêm insights em primeira mão sobre as políticas e os modelos de negócios que moldam a indústria editorial chinesa. Em troca, compartilham os desenvolvimentos dos mercados em todo o mundo. Esse mecanismo de intercâmbio bidirecional capacita editores chineses a inovar com uma perspectiva global, ao mesmo tempo em que ajuda nossos parceiros internacionais a obter uma compreensão genuína de como compartilhar histórias chinesas com o mundo. Isso marca uma mudança significativa da "entrega de conteúdo unidirecional" para a cocriação, injetando continuamente vitalidade em nossas parcerias editoriais internacionais.

[08/08/2025 09:00:00]