Três Perguntas do PN para Edyr Augusto
PublishNews, Beatriz Sardinha, 15/07/2025
Jornalista, escritor e dramaturgo foi um dos convidados d'A Feira do Livro, na Praça Charles Miller, em São Paulo (SP)

Edyr Augusto Proença é jornalista, radialista, escritor e dramaturgo. Nascido em Belém, no Pará, Edyr tem a exploração da urbanidade de Belém como um dos principais temas literários em sua obra. Ele esteve n'A Feira do Livro, realizada em junho em São Paulo (SP), no painel Cena do crime, com Raphael Montes, para conversar sobre as camadas do romance de suspense e policial, além das adaptações de seus livros para o audiovisual.

Ele é autor de cinco livros de poesia e estreou em prosa em 1988, com o romance Os éguas (Boitempo). Desde então, publicou Moscou (2001), Casa de caba (2004), Selva concreta (2007), Pssica (2015), Belhell (2020), e o livro de contos Um sol para cada um (2008), todos pela editora Boitempo.

O PublishNews aproveitou o evento para lhe fazer três perguntas.

PublishNews – De que forma a sua experiência com o jornalismo influenciou nas suas obras policiais, seja na escrita ou no conteúdo?

Edyr Augusto Proença – Minha família é toda jornalista. Meu avô, meu pai, meus irmãos, nós somos cinco filhos e quatro jornalistas. Então, o jornalismo tomou conta da minha vida desde cedo. Meu pai trabalhava numa assessoria de imprensa e todo dia ele chegava com os jornais do Rio e São Paulo para nós lermos. Foi lá que eu li os grandes cronistas, todos os famosos mineiros, o Nelson Rodrigues, toda essa turma maravilhosa. Isso influenciou diretamente na minha profissão. Eu me formei em jornalismo e também fui professor da UFPA de jornalismo. Eu escrevi e ainda escrevo. Hoje eu publico mais crônicas e contos na internet e participo de uma revista chamada Uruá-Tapera, que é de uma jornalista de Belém, a Franssinete Florenzano. Mas o jornalismo fez parte da minha vida inteira e a influência que isso tem sobre a minha escrita é grande, porque eu trabalhei não só com jornalismo impresso, como também na televisão, mas sobretudo no rádio. Minha vida toda foi dentro do rádio, 50 anos trabalhando com o rádio e no rádio fazendo de tudo, sobretudo jornalismo.

PN – Existe, na sua visão, algum evento contemporâneo que nenhuma filosofia e nenhum romance policial conseguiriam prever? Algo tão bem roteirizado que parece ficção?

EAP – O Marcelo Mirisola, um grande escritor, uma vez me disse algo que eu não esqueci. Ele disse: "ficcionistas, cuidado, a realidade é uma concorrente". Excelente. Não há como discutir isso, não há, a realidade está aí na cara da gente, né? Para os escritores, o que há de diferença é o escritório. Porque de alguma maneira nós estamos contando notícias que saíram no jornal ontem ou anteontem, mas a maneira de contar é que é a grande diferença – aí facilita a vida dos ficcionistas

PN – Como você faz para não perder o que ocorre à sua volta?

EAP – Acho que, primeiro, o escritor é um observador do mundo, um observador de pessoas, é o que eu sou. O momento exato de escrever é o de decodificar. De alguma maneira, esse catálogo imenso de imagens e de pessoas vem e começa a falar e o escritor vai dando nome a esse, àquele, vai fazendo pessoas. É engraçado isso, não é? Porque depois de fazer essas pessoas e personagens, se inicia uma pesquisa exatamente sobre o que ele está fazendo. Nisso também entra o poder de observação. Tudo que acontece em minha volta, eu me interesso. E isso muitas vezes não me deixa dormir.

[15/07/2025 10:00:00]