Com dois painéis interrompidos, último final de semana d'A Feira do Livro começa discutindo memória
PublishNews, Beatriz Sardinha, 21/06/2025
Dia contou com invasão inédita no Palco Petrobrás, homenagens a Machado de Assis, Antonio Cicero, relatos da Guerra do Paraguai e a importância da memória na formação de leitores

© Beatriz Sardinha
© Beatriz Sardinha
No sábado (21), A Feira do Livro teve inicialmente uma movimentação tranquila e visitantes puderam aproveitar as atrações que trabalharam temas como memória, futebol e a formação de leitores no Brasil. A discussão da memória foi retratada sob diversas óticas: comemoração da ressonância da obra de Machado de Assis, fragmentos históricos da Guerra do Paraguai, homenagens ao poeta Antonio Cícero e as narrativas negras no presente e no passado. Ao longo do dia, o público lotou a Praça Charles Miller.

Hélio de Seixas Guimarães © Flávio Florido
Hélio de Seixas Guimarães © Flávio Florido

Primeira atração do palco principal d’A Feira teve como tema uma homenagem ao aniversário de 186 anos de Machado de Assis, com Hélio de Seixas Guimarães, crítico literário e organizador de mais de 20 obras do autor. "A obra de Machado apresenta um universo literário muito peculiar, é um texto que tem uma abertura para coisas que você não compreende numa primeira leitura. E a cada leitura você tem uma nova descoberta. Coletivamente, as leituras de Machado de Assis vão mudando", disse. O crítico menciona também a existência de uma guinada crítica na leitura da obra do autor, que antes tinha seus romances como retrato da época, sem necessariamente a carga de crítica social que se vê hoje.

O painel seguinte no Palco Petrobrás teve Beatriz Bracher, autora que recompôs acontecimentos históricos da Guerra do Paraguai a partir de fragmentos de fontes históricas em uma trilogia de livros que está sendo publicada pela Editora 34. Durante sua fala, a autora de Guerra — I - Ofensiva paraguaia e reação aliada novembro de 1864 a março de 1866 comentou sobre questionamentos se ela se consideraria autora: "São os meus olhos selecionando a história que vai ser contada. Isso tudo faz parte de uma estratégia literária e eu me considero sim autora". Ela e o mediador Joca Reiners Terron abordaram as peculiaridades de dar voz à figuras mortas e como trabalhar isso dentro da narrativa: "Não é uma vampirização, mas uma 'vivificação dessas pessoas'. Eu tive dúvidas de quando era ficção, quando era relato", afirma.

© Reprodução Youtube d'A Feira do Livro
© Reprodução Youtube d'A Feira do Livro

No começo da tarde, às 13h45, ocorreu uma homenagem ao poeta e filósofo Antonio Cicero, falecido em novembro de 2024. Visivelmente emocionados no palco, Arthur Nogueira, Alice Sant’Anna, Marina Lima e Bruna Beber recitaram poemas e letras do autor. Um fato inédito na Feira foi uma invasão e interrupção do painel no Palco Petrobrás. Após a retirada do invasor do palco, Bruna Beber seguiu com a leitura do poema que selecionara. A atração foi a mais lotada do dia, com ampla ocupação do auditório e também concentradas na praça Charles Miller. Mais tarde haveria ainda outra interrupção no palco, no término do encontro com Leonardo Fróes, um passante interrompeu o painel. Quem mediava a mesa era Schneider Carpeggianni, que afirmou que "aquela breve interrupção não apagava a ótima hora do encontro".

Ao mesmo tempo em que o poeta fluminense falava no palco principal, Bel Santos Meyer e Silvana Jeha trataram das conexões entre vivências negras e da memória literária na formação de leitores no tablado literário do espaço Motiva. O tema da ausência de memória da história foi um dos tópicos mais interessantes da conversa.

As palestrantes apontaram justamente sobre como a falta de registros de memória influencia a formação de leitores, e Bel apontou que "o jeito tem sido ficar com a antena completamente ligada e criar situações para que essa ausência não aconteça". Ela citou a oficina de escrevivências realizada em Parelheiros com Conceição Evaristo e alertou para a necessidade de todos serem pessoas que "leem junto", e não que apenas reconhecer que o Brasil não lê, sem necessariamente agir em conjunto. "Me pergunto constantemente o que cada um de nós pode fazer para poder ganhar um leitor", diz.

Espaço Rebentos

© Beatriz Sardinha
© Beatriz Sardinha

Novidade da quarta edição d'A Feira, o Espaço Rebentos atraiu bastante público no sábado desde cedo. Logo pela manhã, às 11h, o espaço teve a autora Cidinha da Silva e o quadrinista Marcelo D'Salete discutindo cultura afro brasileira. "Na minha experiência em escolas, quando a gente pergunta para adolescentes de que religião eles são, aqueles que praticam religiões de matrizes africanas como Umbanda e Candomblé deixam de falar, por medo de serem discriminados dentro de seu próprio ambiente", disse o artista.

A Feira

O domingo, último dia de programação d'A Feira do Livro tem nomes como começa com dois jogos de futebol entre autores na Mercado Livre Arena Pacaembu. Ao longo do dia, no Palco Petrobras, a escritora Cidinha da Silva faz uma homenagem a Sueli Carneiro; o ator e escritor Lázaro Ramos, ao lado do teólogo carioca Ronilso Pacheco, debate negritude, história e sociedade no Brasil atual; e Neide Rigo fala sobre como se alimentar melhor nos dias de hoje.

A Feira do Livro 2025 é uma realização da Associação Quatro Cinco Um, organização voltada para a difusão do livro no Brasil, da Maré Produções, empresa especializada em exposições de arte, e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais. O evento tem apresentação exclusiva da Petrobras, patrocínio Prata da Prefeitura de São Paulo e da Motiva, por meio de seu Instituto, patrocínio Bronze do Itaú Unibanco, e apoio do Instituto Ibirapitanga, Pinheiro Neto Advogados e enjoei.

[21/06/2025 11:15:03]