Morre o poeta e filósofo Antonio Cicero
PublishNews, Redação, 23/10/2024
Membro da ABL, ele tinha 79 anos e vinha tratando problemas neurológicos decorrentes do Alzheimer; ele deixou uma carta para que fosse divulgada após sua morte

Faleceu nesta quarta (23), o poeta e filósofo Antonio Cicero, aos 79 anos. Nos últimos anos, ele recebeu o diagnóstico do Alzheimer e vinha tratando problemas neurológicos decorrentes da doença. Sua morte ocorreu por meio do procedimento de morte assistida, em Zurique, na Suíça, onde ele estava ao lado do marido Marcelo Pies.

Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Cicero sofreu com o exílio na época da ditadura militar, mas se tornou um dos poetas mais renomados do Brasil colaborando, por exemplo, com letras de algumas das principais canções de sua irmã mais nova, Marina Lima. Também foi responsável por O Último Romântico, com Lulu Santos e Sérgio Souza, entre diversos outros sucessos.

Publicou, entre outros livros, A poesia e crítica (Companhia das Letras / 2017), Poesia e filosofia (Civilização Brasileira / 2012) e Porventura (Record / 2012).

Nas redes sociais, diversas pessoas lamentaram sua morte, como o escritor Francisco Bosco. “Estou devastado, mas, como sempre nessas horas, é preciso agradecer à vida por ter nos presenteado com uma figura humana tão maravilhosa”, disse em um post nas redes sociais.

A última aparição de Cicero foi na última quinta (17), na sede da ABL. No dia seguinte, ele embarcou para a Europa, ao lado do marido, e visitou Paris para se despedir da cidade que amava.

Segundo O Globo, em comunicado a pessoas próximas, Marcelo Pies relatou que o poeta vinha planejando a eutanásia há um tempo, já que vinha sofrendo muito com os sintomas provocados pela doença.

Antonio Cicero deixou uma carta, com o marido, para que fosse divulgada após sua morte:

Queridos amigos,

Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.

Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.

Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação. A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas — senão a coisa — mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.

Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.

Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!

[23/10/2024 10:00:00]