
No início do dia, os editores Jiro Takahashi e Cecilia Arbolave discutiram a produção editorial e gráfica brasileira. Uma das conclusões do debate foi que as novas formas de impressão abriram espaço para iniciativas editoriais independentes inovadoras e ousadas, que hoje funcionam como espaços de experimentação e vanguarda. Cecilia é uma das fundadoras da Lote 42, editora paulistana cuja dedicação à qualidade e criatividade gráfica definiu tendências para outras empreitadas semelhantes.
“Houve uma melhoria muito grande para a diversidade”, disse Jiro sobre as facilidade tecnológicas, como a impressão digital. “O caminho para coisas ousadas e inovadoras está no mundo dos independentes”.
Idealizador da Coleção Vagalume – entre muitos outros feitos no setor do livro no país –, Jiro contou como deu início à coleção depois que identificou falhas e ausências do ensino de literatura na sala de aula (ele era professor de língua portuguesa para o ensino fundamental). Ele também disse sentir falta de uma maior integração entre setores de mídia amplamente populares, em especial os videogames, com o mercado editorial: “há histórias e oportunidades ainda não exploradas nesse campo”.

Crônica
Mais tarde, no Palco Petrobras, Humberto Werneck e Luís Henrique Pellanda debateram a importância e a aclimatação da crônica no país. Segundo os autores, o gênero, muitas vezes considerado menor, permite observações agudas sobre transformações sociais e políticas, mas sem perder sua característica e linguagem literária.

Já Luís Henrique Pellanda – autor do recente A crônica não mata (Arquipélago), entre outros livros – refletiu sobre como o cronista pode servir como uma espécie de termômetro do seu tempo. “A política move a nossa vida pública, social e conjunta. Vivemos no Brasil há alguns anos uma ebulição política que atrapalha tudo, inclusive a saúde do cronista e de todo mundo. Registrei durante 15 anos a cidade de Curitiba, que se transformou de maneira negativa num dos centros do debate político brasileiro, por conta da Lava Jato. Quem não estava lá, não é capaz de imaginar a toxicidade do ambiente nesses anos. Sem falar nenhuma vez os infelizes nomes de [Sergio] Moro, Deltan [Dallagnol] ou Lava Jato, consegui registrar como a vida na cidade piorou nesse tempo. Sem falar em política diretamente, passei a ser xingado na rua, fui hostilizado em lugares que frequentava, até com as minhas filhas pequenas. Mesmo assim, como cronista, consegui manter meu trabalho nos trilhos”, compartilhou.
O vício nos livros
À tarde, o espanhol Jorge Carrión e o português Afonso Cruz falaram sobre suas experiências com a leitura e com os objetos-livro em si, bem como com as livrarias.
"Não gosto da ideia do livro como investimento capitalista, me dá uma certa repulsa", disse Carrión, autor de Livrarias (Bazar do Tempo) e Contra Amazon (Elefante). "Se o mesmo livro tem uma edição de bolso que custa mais barata, é essa a que eu compro", disse. O escritor também defendeu uma regulação do desconto dos lançamentos de livros, legislação em vigor em vários países, como a Espanha – no Brasil, a Lei Cortez, que limita os descontos nos primeiros doze meses após o lançamento de um livro, está para ser discutida e votada no Plenário do Senado.
A Feira
No sábado (21), penúltimo dia d’A Feira do Livro, a programação do Palco Petrobras traz Marina Lima, que homenageia seu irmão, o compositor e poeta Antonio Cicero; o cineasta Ugo Giorgetti e o escritor Mario Prata conversam sobre literatura e futebol; e o podcast Foro de Teresina, da revista piauí, se apresenta ao vivo. Ainda no Palco Petrobras, haverá conversas com a autora Beatriz Bracher, e com o poeta Leonardo Fróes.
Para o público infantil, o paleontólogo Luiz Eduardo Anelli explora as características de dinossauros brasileiros em bate-papo no Espaço Rebentos. Já no Tablado Literário Mario de Andrade, o escritor e roteirista Antonio Prata fala sobre suas colunas na Folha e seus livros.
Também em destaque, o Auditório Armando Nogueira recebe encontros com o economista e ensaísta Eduardo Giannetti; e com a historiadora Mary Del Priore; já Marilene Felinto, jornalista e escritora pernambucana, recebe para o lançamento de seu novo romance, Corsária (Ubu).
O domingo (22), último dia do evento, começa com dois jogos de futebol entre autores na Mercado Livre Arena Pacaembu. Ao longo do dia, no Palco Petrobras, a escritora Cidinha da Silva faz uma homenagem a Sueli Carneiro; o ator e escritor Lázaro Ramos, ao lado do teólogo carioca Ronilso Pacheco, debate negritude, história e sociedade no Brasil atual; e Neide Rigo fala sobre como se alimentar melhor nos dias de hoje.
No Espaço Motiva Tablado Literário, Mary Del Priore fala sobre envelhecimento; no Auditório Armando Nogueira, a poeta, tradutora e ensaísta Marília Garcia conversa sobre poesia com a também poeta e tradutora Bruna Beber em um episódio ao vivo do podcast 451 MHz. Bela Gil e Daniel Kondo apresentam seu lançamento infantil Florisbela (WMF Martins Fontes) no Espaço Rebentos. Conrado Hübner Mendes fala sobre autoritarismo no Tablado Literário Mário de Andrade; e Waldete Tristão e Elizabeth Cardoso conversam sobre infâncias negras, dignidade e imaginação no Tablado Literário das Bancadas.
A Feira do Livro 2025 é uma realização da Associação Quatro Cinco Um, organização voltada para a difusão do livro no Brasil, da Maré Produções, empresa especializada em exposições de arte, e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais. O evento tem apresentação exclusiva da Petrobras, patrocínio Prata da Prefeitura de São Paulo e da Motiva, por meio de seu Instituto, patrocínio Bronze do Itaú Unibanco, e apoio do Instituto Ibirapitanga, Pinheiro Neto Advogados e enjoei.