
Stefano lidera a produtora independente Breu Filmes, que tem como objetivo produzir histórias originais e de impacto, trazendo também representatividade negra e queer. Em 2025, ele lança seu sexto livro, Santo de casa (Record), em que trabalha a autoficção na história de uma família que precisa lidar com a morte trágica de seu patriarca. Ele é autor também de Homens pretos (não) choram (HarperCollins), O beijo do rio (HarperCollins), Nunca vi a chuva (Record) e O segredo das larvas (Galera).
Stefano respondeu a três perguntas do PN.
PN — Queria começar te pedindo para comentar o título do livro e como a a reflexão sobre a memória se relaciona à sua trajetória?
SV — O Santo de casa conta a história do Zé Maria, que é um patriarca de uma família e ele é atacado e morto por uma onça. A partir disso, a família precisa organizar o velório desse pai, e é uma família com irmão que não se vêem há muitos anos e agora eles vão ter que se enfrentar nesse momento difícil, de luto. E acontece que o Zé Maria era um cara muito querido fora de casa, mas dentro dela ele podia ser um diabo. Então ele era um santo na rua e dentro de casa um diabo. Daí vem o título.
Eu convivi com a violência doméstica durante muitos anos da minha vida e passei muito tempo tentando elaborar como esse tipo de violência atravessou a minha família. Meu pai podia ser um homem muito violento, mas ele também era uma pessoa muito querida pelas pessoas. E quando eu perdi meu pai em 2020, precisei lidar com a complexidade do luto.
E isso é o que acontece quando morre uma pessoa que você ama, mas que te atravessou violentamente muitas vezes. Por exemplo, está permitido não chorar? Não sentir nada?
Esse livro é uma tentativa minha de elaborar os meus processos.

SV — Quando eu escrevo, sempre penso nas possíveis adaptações para o audiovisual. Tem um cara que eu acho que poderia ser o Zé Maria, que é o Carlos Francisco, que trabalha no filme Marte 1. Ele é incrível, também vi o trabalho dele no filme Estranho caminho e acho ele um sucesso. E tem a Betina também de Santo de casa, que é uma mulher trans, gosto muito da Alice Marconi, imagino um pouco ela como a filha do Zé Maria.
PN — Você já publicou livros por diversas editoras, de diferentes perfis e tamanhos. Acha que isso te ajudou a se desenvolver como autor?
SV — Esse é um assunto sensível, porque é uma manobra de mercado que não é fácil de fazer. Já publiquei pela HarperCollins, já publiquei por editoras menores, já me autopubliquei, hoje estou sendo publicado pela Record, e também em outro selo, porque já tive livro publicado pelo Galera. Acho que cada projeto pede um caminho diferente. A escrita tornou-se um ofício para mim, é uma profissão. Eu já tenho seis livros publicados, os direitos autorais começaram a ser interessantes para mim. Então ficou algo sério, digamos assim. Eu preciso ser publicado. Então é preciso criar estratégias para permanecer no mercado e é um desafio lidar com editoras diferentes porque às vezes a relação entre elas não é simples.
SERVIÇO
Rio2C
Data: 27 de maio a 1˚ de junho
Local: Cidade das Artes (Av. das Américas, 5300 — Rio de Janeiro / RJ)
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*A repórter viajou ao Rio de Janeiro a convite do Rio2C.