
"A sua partida entristecerá seus familiares, amigos e leitores, mas esperamos que encontrem consolo, como nós, no fato de que gozou de uma vida longa, múltipla e frutífera, e deixa uma obra que sobreviverá a ele", diz a nota. "Não haverá nenhuma cerimônia pública. Nossa mãe, nossos filhos e nós mesmos confiamos que teremos espaço e privacidade para dizer adeus em família e na companhia de amigos próximos. Seu corpo, como era sua vontade, será cremado".
No Brasil, as obras de Mario Vargas Llosa eram publicadas pelos selos Alfaguara e Objetiva, do Grupo Companhia das Letras. Nas redes sociais, a editora lamentou profundamente a morte do escritor. Seu livro mais recente foi Dedico a você meu silêncio, de 2023, traduzido por Paulina Wacht e Ari Roitman. O romance, já anunciado à época como seu último trabalho de ficção, conta a história de um homem que enlouqueceu na tentativa de escrever o livro perfeito.
Também em 2023, o escritor se despediu do colunismo político, atividade que exercia no jornal El País desde 1990 – suas colunas também eram publicadas em O Estado de S. Paulo. Os artigos revelavam um afã de intervir no debate público e uma ampla curiosidade intelectual, de orientação conservadora no campo econômico e político.
Em 2010, quando as casas de apostas já não acreditavam na sua vitória, a Academia Sueca lhe atribuiu o Prêmio Nobel de Literatura, "por sua cartografia das estruturas do poder e suas afiadas imagens da resistência, da revolta e da derrota do indivíduo".
Nascido em 1936, o escritor peruano foi um dos grandes nomes do chamado boom latino-americano, movimento literário que alcançou sucesso global na segunda metade do século XX. Viveu na Europa e nos EUA, onde foi professor universitário, e desde seu primeiro livro, em 1959, manteve uma produção literária profícua e variada, sempre atenta às movimentações políticas da América Latina e ao contexto global. Além do Nobel, venceu diversos outros prêmios, como o Cervantes e o PEN/Nabokov.
Em 1969, ele publicou um de seus livros mais importantes, Conversa no Catedral, que marcou também o início de sua parceria com a agente literária Carmen Balcells. Na época, ele se mudou para Barcelona e foi durante esses anos que rompeu com o comunismo, a ideologia de sua juventude, para se iniciar no pensamento liberal, marca que manteve até o fim da vida. Foi nesse período também, início dos anos 1970, que um episódio ainda muito discutido e pouco esclarecido interrompeu sua amizade com Gabriel García Márquez.
Em 1981, ele lançou A guerra do fim do mundo, romance em que narra a história da Guerra de Canudos, mesclando personagens reais e fictícios. O autor atribuía imensa importância a Os sertões, de Euclides da Cunha, como base da história.
Mario Vargas Llosa escreveu diversos outros romances que se tornaram clássicos da literatura contemporânea, como Travessuras da menina má, Tia Julia e o escrevinhador, A guerra do fim do mundo e A festa do bode, e livros de ensaios como A civilização do espetáculo e O chamado da tribo, além do infantil Fonchito e a Lua. Foi, sem dúvida, um dos escritores mais importantes do nosso tempo.