Marina Colasanti morre aos 87 anos no Rio de Janeiro
PublishNews, Guilherme Sobota, 28/01/2025
Em 2024, a escritora foi a Personalidade Literária da 66ª edição do Prêmio Jabuti e finalista do Prêmio Hans Christian Andersen 2024, a mais importante distinção da literatura infantil no mundo

Marina Colasanti, fotografada em 2021 | © Alessandra Colasanti / FTD
Marina Colasanti, fotografada em 2021 | © Alessandra Colasanti / FTD
Referência incontornável quando o assunto é literatura infantojuvenil, Marina Colasanti morreu nesta terça-feira (28), aos 87 anos, em sua casa no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pela FTD e pela Global, editoras que vinham publicando a maior parte de suas obras. De acordo com o g1, o velório será no Parque Lage, onde a escritora morou. A cerimônia ocorre das 9h às 12h desta quarta-feira (29).

Em 2024, a escritora foi a Personalidade Literária da 66ª edição do Prêmio Jabuti e finalista do Prêmio Hans Christian Andersen 2024, a mais importante distinção da literatura infantil no mundo – em 2023, ela venceu o o Prêmio Machado de Assis, considerado um dos mais importantes prêmios literários do país, concedido pela Academia Brasileira de Letras a nomes que se destacam pelo conjunto da obra.

Com mais de 70 obras publicadas por diferentes editoras (além da FTD e da Global, Record, Melhoramentos e Ática tinham livros seus no catálogo), direcionadas tanto ao público infantil quanto adulto, Marina é um dos grandes nomes da literatura brasileira dos séculos 20 e 21. Além de escritora, foi também jornalista, artista plástica e tradutora.

"Não deveríamos ter de nos acostumar a perder alguém tão singular como Marina Colasanti", escreveu a Global Editora nas redes sociais. "Sua escrita atravessou gerações, encantou leitores e trouxe à tona a delicadeza do cotidiano e a profundidade das emoções humanas. Marina nos deixa um legado literário que continuará a iluminar o mundo com sua sensibilidade e genialidade. A Global Editora lamenta profundamente essa perda irreparável e se solidariza com os familiares, amigos e leitores que foram tocados por suas palavras".

Emocionado, Luiz Alves Júnior, fundador da Global, lamentou a perda: “Entre as maiores escritoras vivas, hoje perdemos uma grande amiga e uma brilhante escritora, sem igual em todas as suas obras! Hoje, o mundo da literatura perde uma de suas maiores vozes, mas seu trabalho seguirá eterno".

“Conheci Marina na década de 80", conta a agente Lucia Riff ao PublishNews. "Ela era tudo – amiga da vida inteira, autora maravilhosa, parceira – uma luz, um farol, um exemplo. Ela entrou para a agência tão logo abri o escritório – lá se vão 34 anos. Na agência, estamos sem chão”, afirma.

"Imensa, profunda tristeza", lamentou o presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi. "Acabo de saber da morte da admirável escritora e amiga radical Marina Colasanti. Uma perda para a legião de leitores, que reuniu vida afora, a partir de suas qualidades tanto gêneros literários. Uma das maiores escritoras do Brasil e da Itália. Triste".

O Ministério da Cultura (MinC) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL) também lamentaram a morte da autora. "A CBL se solidariza com os familiares, amigos e leitores de Marina Colasanti, celebrando sua vida e obra, que são um presente eterno para a cultura brasileira e mundial", disse a Câmara. Já o MinC manifestou sua solidariedade "à família, amigos e toda a comunidade cultural, que hoje se despede de uma grande escritora".

Vida

Marina Colasanti nasceu em 1937, na cidade de Asmara, capital da Eritreia. Posteriormente, viveu em Trípoli, na Líbia, e na Itália, mudando-se em 1948 com a família para o Brasil, onde residiu o resto da vida, no Rio de Janeiro.

Antes de consolidar-se como uma das grandes escritoras do país, Marina construiu uma carreira multifacetada em diversas áreas. Iniciou-se ainda jovem no Jornal do Brasil, onde deu início a uma longa e inovadora trajetória como jornalista e cronista. Trabalhou em revistas femininas da Editora Abril, desenvolveu atividades na televisão, onde editou e apresentou programas culturais, atuou como publicitária e traduziu renomados autores estrangeiros – do inglês, francês e italiano para o português.

Seu primeiro livro, Eu sozinha (Global), foi publicado em 1968. Desde então, Marina não parou de escrever, consolidando uma carreira literária de grande sucesso, com obras de poesia, contos, crônicas, romances e literatura infantojuvenil, além de ensaios sobre temas diversos. Ela também ilustra grande parte de sua obra, resgatando sua primeira formação como artista plástica.

Seus livros são objeto de inúmeras teses e trabalhos acadêmicos e foram publicados em países como Estados Unidos, Espanha, Argentina, Colômbia e Cuba. Aos 80 anos, recebeu no México, em 2017, o Prêmio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil, um dos mais importantes da área.

“Marina Colasanti é uma artista completa, cuja sensibilidade e rigor literário moldaram obras que tocam profundamente leitores de todas as idades. Seu olhar poético e universal desafia fronteiras e tempos, revelando uma capacidade única de traduzir questões complexas em narrativas acessíveis. Homenageá-la como Personalidade Literária é celebrar não apenas sua trajetória, mas o impacto duradouro de sua obra na cultura e na educação literária do país", disse o curador do Prêmio Jabuti, Hubert Alquéres, na homenagem do ano passado.

Ela era casada com o também escritor Affonso Romano de Sant'Anna e deixa uma filha, Alessandra Colasanti. Sua outra filha, Fabiana, morreu precocemente em 2021 em decorrência de um câncer. “Confesso que envelhecer não é das coisas mais fáceis, é bonito, emocionante, faz parte da vida, mas têm sido muitas as despedidas", disse Marina ao Estadão em uma entrevista em 2023. "E nesse contexto, o que me resta, é a iminência preciosa do momento presente”.

[28/01/2025 11:10:00]