Fernanda Torres: conheça os livros da vencedora do Globo de Ouro
PublishNews, Talita Facchini, 06/01/2025
A atriz vencedora da premiação também é escritora, cronista e roteirista; abaixo você encontra seus livros, suas participações em outras obras e seus autores favoritos

Fernanda Torres | © Adam Chitayat / Wiki Commons
Fernanda Torres | © Adam Chitayat / Wiki Commons
Fernanda Torres fez história na noite deste domingo (5) ao vencer o Globo de Ouro de Melhor atriz pelo filme Ainda estou aqui – dirigido por Walter Salles e inspirado na obra de Marcelo Rubens Paiva –, no qual interpreta Eunice Paiva, advogada e mãe de Marcelo, que passou 40 anos procurando a verdade sobre seu marido desaparecido e assassinado pela ditadura militar no Brasil.

Torres é a primeira atriz brasileira a vencer a premiação e representou o país ao subir ao palco, algo que não acontecia desde 1999, quando Central do Brasil venceu como melhor filme em língua estrangeira e teve a mãe da atriz, Fernanda Montenegro, também entre as indicadas como melhor atriz.

Mas além do seu trabalho de atuação, Fernanda Torres é também escritora, cronista e roteirista. Ela iniciou sua carreira nas telas aos 13 anos e escreveu seu primeiro livro aos 40. Até o momento, são três obras publicadas e que o PublishNews lista abaixo.

Fim

Publicado em 2013, Fim (Companhia das Letras) é o romance de estreia de Fernanda Torres e traz um grupo de amigos cariocas às voltas com a morte e as próprias frustrações. São cinco amigos que rememoram as passagens marcantes de suas vidas: festas, casamentos, separações, manias, inibições, arrependimentos.

Álvaro vive sozinho, passa o tempo de médico em médico e não suporta a ex-mulher. Sílvio é um junkie que não larga os excessos de droga e sexo nem na velhice. Ribeiro é um rato de praia atlético que ganhou sobrevida sexual com o Viagra. Neto é o careta da turma, marido fiel até os últimos dias. E Ciro, o Don Juan invejado por todos – mas o primeiro a morrer, abatido por um câncer.

São figuras muito diferentes, mas que partilham não apenas o fato de estar no extremo da vida, como também a limitação de horizontes. Sucesso na carreira, realização pessoal e serenidade estão fora de questão - ninguém parece ser capaz de colher, no fim das contas, mais do que um inventário de frustrações.

Há graça, sexo, sol e praia nas páginas de Fim. Mas elas também são cheias de resignação e cobertas por uma tinta de melancolia.

Sete anos

Publicado em 2014, Sete anos reúne as crônicas escritas por Torres. São textos publicados em revistas e jornais, que versam sobre cinema, teatro, política ou assuntos do cotidiano, mas sempre com suas marcas características: o humor, o tom confessional, a inteligência aguda, o olhar irônico.

Desde 2007, Fernanda tem mantido assídua relação com a imprensa. Estreou na revista piauí, com No dorso instável de um tigre, um relato bem-humorado sobre o medo do ator ao entrar em cena. O texto fez sucesso na época e rendeu a Fernanda o convite para manter uma coluna quinzenal na Veja Rio, de onde saíram alguns textos presentes na coletânea, como Dercy e A dança da morte.

Pouco depois, voltou a escrever para a piauí. Os perfis de Bráulio Mantovani e Hany Abu-Assad nasceram por encomenda da revista. Em 2010, Fernanda iniciou colaboração com o caderno Poder da Folha de S.Paulo. Sua missão era escrever sobre as eleições para a presidência. Muitos dos textos sobre política incluídos em Sete anos tiveram origem nesse período. Depois das eleições, Fernanda passou a manter uma coluna mensal no caderno de cultura do mesmo jornal. Mas há um texto inédito. É o pungente Despedida, que trata da morte de seu pai.

A glória e seu cortejo de horrores

A glória e seu cortejo de horrores foi publicado em 2017 e entrou para a lista dos mais vendidos do PublishNews. A obra acompanha as desventuras de Mario Cardoso, um ator de meia idade, dos dias de sucesso como astro de telenovela até a total derrocada quando decide encenar uma versão de Rei Lear – e as coisas não saem exatamente como esperava.

Mescla eletrizante de comédia de erros e retrato do artista, o livro atravessa diversas fases da carreira de Mario (e da história recente do Brasil), suas lembranças de juventude no teatro político, a incursão pelo Cinema Novo dos anos 60, a efervescência hippie do Verão do Desbunde, o encontro com o teatro de Tchékhov, a glória como um dos atores mais famosos de uma época em que a televisão dava as cartas no país. Um painel corrosivo de uma geração que viu sua ideia de arte sucumbir ao mercado, à superficialidade do mundo hiperconectado e, sobretudo, à derrocada de suas próprias ilusões.

Mais de Fernanda Torres

Lançado originalmente em 1999, A casa dos budas ditosos (Alfaguara), de João Ubaldo Ribeiro, foi o quarto volume de uma série chamada Plenos Pecados, em que cada título era dedicado a um pecado capital. Poderoso e original, o romance de Ubaldo sobre a luxúria conquistou um número imenso de leitores e, de quebra, cutucou os moralistas de plantão.

Em 2004, seguindo o que se tornou uma tradição de seus romances, A casa dos budas ditosos foi adaptado para o teatro por Domingos Oliveira, num monólogo estrelado por Fernanda Torres, que assina a apresentação desta nova edição. O espetáculo permaneceu por mais de uma década em cartaz, levando as memórias de orgias, voyeurismo e sadismo dessa impagável libertina para mais de 700 mil pessoas em todo o Brasil. A casa dos budas ditosos é um clássico da literatura erótica.

Fernanda também assina a apresentação da edição comemorativa de 10 anos de O drible, de Sérgio Rodrigues. A obra é definida pelo próprio autor como “um drama familiar de páthos ancestral - a guerra entre um pai e um filho – para o qual o esporte mais popular do mundo fornece cenário e linguagem”. Desenganado pelos médicos, um cronista esportivo de oitenta anos, testemunha dos anos dourados do futebol brasileiro, tenta se reaproximar do filho com quem brigou há um quarto de século.

Os livros de formação

Quando participou do programa Roda Viva em janeiro de 2024, Fernanda Torres compartilhou algumas obras que marcaram sua infância e adolescência e autores que continuam inspirando sua vida adulta.

O tempo e o vento, de Érico Veríssimo. A trilogia ― formada por O Continente, O retrato e O arquipélago ― percorre um século e meio da história do Rio Grande do Sul e do Brasil, acompanhando a formação da família Terra Cambará. Num constante ir e vir entre o passado ― as Missões, a fundação do povoado de Santa Fé ― e o tempo do Sobrado sitiado pelas forças federalistas, em 1895, desfilam personagens fascinantes, eternamente vivos na imaginação dos leitores de Erico Verissimo: o enigmático Pedro Missioneiro, a corajosa Ana Terra, o intrépido e sedutor Capitão Rodrigo, a tenaz Bibiana.

Dom Casmurro, de Machado de Assis. Prometido para o seminário desde o nascimento, o jovem carioca Bentinho precisa encontrar um jeito de fugir da vida na Igreja e realizar seu verdadeiro sonho: casar-se com a vizinha Capitu. Uma história de paixão, obsessão e ciúme se desenrola, em uma narrativa cheia de reviravoltas, que aos poucos constrói um retrato da sociedade brasileira. Com este romance publicado em 1899, o maior nome da literatura nacional, Machado de Assis, torna-se também parte do cânone mundial. Dom Casmurro traz contundentes reflexões sobre o Brasil de sua época, ainda muito relevantes para os dias atuais, e faz isso com a narrativa repleta de ironia que é uma marca do autor.

Bouvard e Pécuchet, de Flaubert. Bouvard e Pécuchet é uma das obras mais conhecidas de Gustave Flaubert. Com suas frases lapidadas e palavras precisas, o romance atravessou o tempo sem perder seu impacto e sua força expressiva. Na narrativa estão em foco dois personagens crédulos, os escreventes, e amigos, Bouvard e Pécuchet, que com o recebimento de uma herança decidem trocar Paris pela vida no campo. O resultado é uma série de trapalhadas, narradas com humor refinado e carregado de crítica. A estrutura da narrativa mostra a própria obsessão da procura da verdade como uma roda que gira em falso, envolvendo de forma divertida e patética seus dois protagonistas e todo o saber enciclopédico do século XIX.

Thomas Mann. Fernanda começou a ler as obras do autor alemão por influência de sua mãe. Nobel de Literatura, Mann é autor de obras como Os Buddenbrook, A montanha mágica, Doutor Fausto e da novela Mário e o mágico, publicada em 2023 e que retrata ― a partir das atitudes cruéis de um obscuro ilusionista ― o gérmen do fascismo na Europa do século XX.

Extra

Em Eu me lembro (Jambô), Selton Mello – também estrela de Ainda estou aqui e O Auto da Compadecida – celebra quatro décadas de carreira e traduz memórias da família, dos amigos e a profundidade da relação do ator e diretor com a arte. A trajetória é narrada em primeira pessoa, em resposta a uma série de perguntas feitas por um time de 40 estrelas da TV, teatro, cinema e literatura.

Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele, o diretor Guel Arraes, Lázaro Ramos, Marjorie Estiano, Jeferson Tenório e Fábio Assunção são alguns dos nomes que ajudam a revelar um Selton de coração aberto: a carreira consolidada, suas dores, alegrias e uma história repleta de encontros de alma. As perguntas dos convidados abrem caminho para a intimidade que ele não costuma compartilhar publicamente. Exemplo disso são as passagens sobre a relação do ator com a mãe, Selva, acometida pelo Alzheimer e que faleceu em 2024, e a comunicação mais espiritual mantida pelos dois desde o agravamento da doença. Esse vínculo funciona como a premissa do livro, pois lembrar, hoje, é essencial para manter as memórias da infância no interior de Minas Gerais, ou nos corredores da TV dos anos 1980.

[06/01/2025 10:00:00]