

O Auto da Compadecida 2: as novas aventuras de João Grilo e Chicó foi adaptado por Carlos Newton Júnior, poeta, ensaísta, professor universitário especialista em Ariano Suassuna e curador da obra do autor paraibano junto à Nova Fronteira. O roteiro do filme começou a ser desenvolvido em 2020, com o apoio da família de Ariano, pelos mesmos roteiristas responsáveis pelo primeiro longa (Guel Arraes, Adriana Falcão, João Falcão e Jorge Furtado).
Dividido em 32 capítulos, o romance traz ilustrações do artista plástico Manuel Dantas Suassuna, filho do escritor (que vem ilustrando a obra de Suassuna na Nova Fronteira). O prefácio ficou a cargo de João Suassuna, produtor cultural e neto de Ariano. Para João, o lançamento do romance adaptado demonstra a vivacidade da obra do avô, um “protesto contra a morte”.
“O Auto da Compadecida 2 é um produto muito bonito. O primeiro é uma obra-prima, acabado e ‘imexível’. O que a gente quis mostrar agora é que essa chama está sempre acesa. Vovô dizia que o homem não nasceu para a morte, que o homem nasceu para a imortalidade, e a morte foi um acidente de percurso. É uma espécie de protesto contra a morte. Ele nunca vai morrer, vai sempre estar vivo. E esse livro é mais uma prova disso”, afirma João.

Dois meses antes da estreia de O Auto da Compadecida 2, em setembro de 2024, Carlos Newton começou a trabalhar na adaptação a convite da editora – sem ter assistido ao longa-metragem e sem estar “sugestionado pelas imagens”.
“Tentei preservar ao máximo os diálogos, porque o público se fixa muito neles. E criei um narrador onisciente para fazer o papel da câmera, já que no livro alguém precisa contar a história. É como se tivessem criado uma música, e eu estou fazendo o trabalho do intérprete, só que para a literatura”, compara Newton, que conheceu Suassuna no curso de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco e tornou-se próximo do dramaturgo.
Outros desafios do escritor foram adaptar o ritmo do cinema para o romance e trazer elementos para sustentar a narrativa diante da substituição da imagem pelo texto. Foi assim que ele criou uma “Taperoá afetiva”, cidade onde se passa a trama de Auto da Compadecida, a peça (na sequência para o cinema, as cenas foram gravadas em um estúdio).
“Quando eu narro, trago para uma realidade, eu descrevo a Taperoá verdadeira, trago para um campo de verossimilhança. Porque existe um tempo psicológico no filme que não é o tempo do romance. Eu estendo a narrativa, mas é a mesma história narrada literariamente. Por exemplo, quando o João Grilo faz referência ao passado dele no Rio de Janeiro, eu o coloco como narrador que conta a história para o Chicó”, afirma.
O escritor cita como referência para seu narrador onisciente o romance O sedutor do sertão, escrito por Ariano Suassuna nos anos 60 a pedido de um cineasta. O livro conta a história do anti-herói Malaquias Pavão, que se envolve com o contrabando de cachaça. “Esse livro também tem muitos diálogos, porque ele já previa a adaptação para um roteiro. Eu fiz o caminho inverso”, observa Carlos Newton.
Na adaptação, ele também recorreu à obra de Ariano para desenvolver um pouco mais alguns personagens que aparecem no filme. A trama do filme em si já traz fortes referências a Farsa da boa preguiça, peça escrita por Suassuna em 1960.
“Faço umas incursões e trago um pouco do cordel”, conta Carlos Newton. “Quando falo do amor de Chicó por Rosinha, por exemplo, falo que lembra o amor de Alonso e Marina, que vem de um cordel muito famoso. Quando descrevo o sertão, faço referência ao monstro do sertão, gravura de J. Borges. Não tive o artifício das câmeras, então precisei criar as imagens. E elas são imagens do universo suassaniano”, explica o escritor e poeta.

Carlos Newton brinca que o roteiro e o romance constituem “uma espécie de fanfic” a partir do universo de Ariano Suassuna, e espera que a obra do autor atinja novos públicos com os lançamentos recentes. “Toda vez que você coloca em evidência um grande autor, coloca em evidência a obra dele, e pode despertar o interesse dos jovens para conhecer o teatro do Ariano e até suas outras peças. Mantém a chama e renova o interesse pela obra”, afirma.
A expectativa é a mesma de João Suassuna. Convidado a prefaciar o romance adaptado, ele conta ter criado “um texto afetivo, de bastidores, de histórias e curiosidades” sobre o caminho da peça Auto da Compadecida. “Vovô escreveu o Auto em 1955, com 28 anos. Quis tratar da obra original porque ela é a base de tudo. Essa obra não só mudou a vida daquele jovem escritor, mas mudou a dramaturgia cômica da literatura brasileira. Foi um divisor de águas não só para o Ariano, mas para o Brasil”, ressalta.
João lembra também que, antes de Auto da Compadecida, seu avô “só escrevia tragédias”. “O que ele conhecia da vida até então era a aspereza”, observa. Ariano Suassuna perdeu o pai aos três anos de idade: João Urbano Suassuna morreu em uma emboscada no Rio de Janeiro, motivada por disputas políticas.
No prefácio, o neto de Ariano lembra da encenação do Auto da Compadecida no Rio de Janeiro, de como a peça, que deveria ficar três dias em cartaz durante um festival de teatro amador, foi apresentada por três meses após o estrondoso sucesso da primeira encenação. O texto conta ainda como as figuras femininas de Zélia Suassuna, artista plástica e mulher de Ariano, e da própria Compadecida foram pontos de inflexão na vida e na obra literária do autor, que chegou a pintar um mural para Nossa Senhora na lateral da casa que comprou em Recife após a encenação da peça no Rio.
“Ele apresenta a fé do personagem principal por uma mulher. Era uma coisa disruptiva para a sociedade machista da época, uma Nossa Senhora como figura central”, ressalta João.
O produtor cultural acredita que a obra de Ariano e sua derivação em O Auto da Compadecida 2 segue atual e universal ao “pintar sua própria aldeia”, como pregava o escritor russo Leon Tolstói – um dos favoritos do avô.
“Auto da Compadecida é uma obra cômica, mas de um profundo olhar social. A gente tem que manter a origem e a essência de que a aldeia que Ariano pintou foi Taperoá, mas, ao pintar Taperoá, pintou o sertão, o Brasil, e o mundo. As pessoas assistem rindo e chorando, o filme tem esse caráter nostálgico de a gente recuperar a fé no sentido amplo, o sentido da fé como o amor. É do que o Brasil e o mundo estão precisando”, defende João Suassuna.

Autores: Ariano Suassuna, Guel Arraes, João Falcão, Adriana Falcão, Jorge Furtado e Carlos Newton Júnior
Lançamento: 5 de maio
Preço: R$ 69,90
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