
De acordo com o editor de ficção da Arquipélago, Luís Henrique Pellanda, a editora não pretende nem ocupar um nicho específico de mercado, nem atingir um bloco homogêneo e preexistente de leitores. “Pelo contrário, a ideia é apostar, cada vez mais, na multiplicidade de propostas e de estéticas dos nossos escritores”, diz Pellanda.
Para o editor, o que uniria esses cinco autores num mesmo projeto editorial seria o fato de serem, todos eles, artistas que sentem, pensam e escrevem para a sua época e, talvez por isso mesmo, para além dela. “Queremos publicar escritores que produzam, acima de tudo, uma prosa não acomodada, para leitores que procurem na literatura novas possibilidades de compreensão do mundo.”
Duas escritoras dessa nova turma de autores da Arquipélago são estrangeiras: a argentina Luciana de Luca, de quem será publicado o seu segundo romance, O amor é um monstro de Deus, com tradução de Sérgio Karam; e Laura Ortiz Gómez, cujo romance de estreia, Indócil, será traduzido por Mariana Sanchez. Ambas serão publicadas no Brasil pela primeira vez.
Entre os brasileiros, o veterano José Castello discute a velhice, solidão e doença em sua breve e poderosa novela Devastação. Rodrigo Breunig comparece com uma experiência forte e corajosa, as 101 narrativas do seu indefinível Livro dos leitores imaginários. Quanto à Elvira Vigna, uma das ficcionistas mais importantes das últimas décadas, morta em 2017, uma particularidade: a Arquipélago publicará uma coletânea de crônicas inéditas, Morrendo de rir.
Abaixo, mais detalhes sobre os autores e seus livros.
'Devastação', José Castello
Anita Vogler é uma senhora que vive com Marli, sua cuidadora, em um apartamento de Copacabana. Seu quarto é o único palco desta breve novela de José Castello sobre o tempo, a doença e a solidão. Anita é a narradora de sua própria tragédia. Diante do espelho, entre a fúria e a fragilidade, ela desfia um monólogo em que acusa de absurdo um mundo que já não reconhece a dor e a subjetividade dos velhos.
José Castello nasceu no Rio de Janeiro, em 1951. Escritor e jornalista, mestre em comunicação pela UFRJ, é autor, entre outros, dos livros Inventário das sombras (Record), Ribamar (Bertrand Brasil), Dentro de mim ninguém entra (Berlendis) e Vinicius: o poeta da paixão (Companhia das Letras), os três últimos premiados com o Jabuti. É colunista dos jornais literários Rascunho e da Revista Pernambuco. Vive em Curitiba.
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'Morrendo de rir', Elvira Vigna
Um dos nomes fundamentais de nossa ficção contemporânea, Elvira Vigna foi também uma das vozes mais inteligentes e combativas do feminismo brasileiro. Morrendo de rir reúne, pela primeira vez, as dezenas de crônicas que a autora publicou entre os anos de 1999 e 2016 em veículos como O Estado de S. Paulo e a revista Pessoa. Na mira da cronista, as veleidades do ambiente literário, da política nacional, do meio editorial e do mundo das artes.
Elvira Vigna nasceu no Rio de Janeiro, em 1947. Escritora, editora e ilustradora, formou-se em literatura pela Universidade de Nancy e foi mestre em comunicação pela UFRJ. Escreveu, entre outros, os livros Nada a dizer, Por escrito, Como se estivéssemos em palimpsesto de putas (vencedor do prêmio da APCA), lançados pela Companhia das Letras, e Kafkianas (Todavia, vencedor do Prêmio Biblioteca Nacional). Seu livro para crianças Lã de umbigo (Antares/INL-MEC) ganhou o Jabuti. Faleceu em 2017.
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'O livro dos leitores imaginários', Rodrigo Breunig
Obra de difícil definição, que reúne contos, poemas, biografias, aforismos, parábolas, fábulas, crônicas e anedotas, o livro de Rodrigo Breunig é uma colcha de retalhos. Seu protagonista trabalha como cuidador de idosos numa casa dotada de uma vasta biblioteca. Ali, ele escreve cento e uma narrativas sobre leitores, histórias que gostaria de poder contar ao irmão falecido, na esperança de salvá-lo do suicídio.
Rodrigo Breunig nasceu em Santa Cruz do Sul (RS), em 1977. Escritor, tradutor e jornalista, é mestre em literatura brasileira pela UFRGS. Traduziu mais de 50 livros, de nomes como Jane Austen, Charles Bukowski, Agatha Christie e Jack Kerouac. Pela Arquipélago, organizou A estrada enluarada e outras histórias, de Ambrose Bierce, e Medo: contos de horror comentados por H.P Lovecraft. É autor do romance A última noite das bicicletas. Vive em São Paulo.
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'O amor é um monstro de Deus', Luciana de Luca
Tradução de Sérgio Karam

Luciana de Luca nasceu em Buenos Aires, em 1978. Cresceu no litoral argentino. Escreveu o romance Otras cosas por las que llorar (Tusquets). Também é autora de vários livros para crianças, já traduzidos para o inglês, o coreano e o português. O amor é um monstro de Deus foi finalista do Premio Fundación Medifé Filba, de 2024.
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'Indócil', Laura Ortiz Gómez
Tradução de Mariana Sanchez
Primeiro romance da colombiana Laura Ortiz Gómez. Duas imigrantes ucranianas, Vira e Olena, que trabalham como domésticas num mesmo casarão de San Telmo, em Buenos Aires, vivem uma história de amor em meio à Greve do Inquilinato, de 1907, episódio revolucionário duramente reprimido pelo Estado argentino. Política, feminismo, sexualidade, racismo e colonialismo, tudo é abordado de um modo novo nessa obra provocadora, narrada por diversas vozes.
Laura Ortiz Gómez nasceu em Bogotá, em 1986. Mestra em escrita criativa pela Universidade Nacional de Tres de Febrero, trabalhava como promotora de leitura na Colômbia. Seu primeiro livro de contos, Sofoco (Editorial Barrett), ganhou o Premio Nacional de Narrativa Elisa Mújica, em 2020, e já foi publicado em países como Espanha, Argentina, Chile, México e Itália. Vive em Buenos Aires.
“Indócil é o fogo da ternura, uma fábula alucinada, uma prosa líquida em que uma voz pode ser uma casa que se transforma em menina que se transforma no pampa que se transforma em criança maldita que se transforma em assembleia que se transforma em luta que se transforma na dor da beleza. Em amor.” – Gabriela Cabezón Cámara