A Festa do Livro da USP 2024 reuniu 60 mil pessoas nos seus cinco dias de funcionamento, de acordo com estimativas do Corpo de Bombeiros – e segundo cálculos iniciais reunidos pela Edusp, responsável pela organização da feira, as editoras registraram aumentos de 15 a 20% nas vendas em relação ao ano passado, no volume de títulos vendidos.

A Festa, realizada na Cidade Universitária em São Paulo entre os dias 6 e 10 de novembro, recebeu 226 editoras, das quais 45 universitárias, com cerca de 140 mil títulos nas mais diversas áreas do conhecimento.

Neste ano, o tradicional evento – que edição após edição levanta discussões sobre o estado do mercado editorial brasileiro – viu uma iniciativa ser criada justamente para movimentar esse cenário: a Festa do Livro das Livrarias de Rua, de 1º a 14 de novembro, em diversos pontos de venda na capital paulista. De acordo com participantes consultados pelo PublishNews, foi também uma oportunidade de se aproximar de algumas editoras e debater com os clientes as formas diversas de vendas no mercado do livro. Algumas livrarias destacaram boas vendas dentro da ação, outras ressaltaram o caráter de divulgação que a Festa proporcionou.

Na USP

Nos cinco dias da Festa do Livro da USP, a Edusp vendeu 6.761 exemplares, que corresponderam a 911 títulos diferentes. Uma das discussões durante e depois do evento, como tem acontecido nos últimos anos, é sobre a possível aprovação da Lei Cortez – atualmente, o Projeto de Lei está em processo de receber emendas para ser discutido no Plenário do Senado. De acordo com o diretor comercial da Editora e organizador da Festa, Marcio Pelozio, a Lei não será um empecilho para futuras edições.

“Sobre a possível aprovação da Lei Cortez, não vemos como um empecilho, uma vez que muitas editoras já não trazem os lançamentos do ano para a Festa do Livro. Serão necessários ajustes, mas acredito na importância da regulamentação fixa para os livros recém-lançados que permitirá que o mercado tenha uma orientação única a seguir, o que não existe atualmente”, analisa.

“Muitas editoras universitárias têm políticas de desconto específicas para sua comunidade universitária e bibliotecas, assim como várias editoras comerciais aplicam descontos específicos a determinadas parcelas do público, como professores. Se a lei for aprovada, todo o mercado deverá se adequar ao que a Lei estabelece e não será um problema para a Edusp”, explica.

A Editora da Unesp também registrou bons resultados – aumento de 20% a 25% em relação ao ano anterior, que já teve boas vendas. “Então, a feira reitera a sua força e permanece sendo um elemento importante do nosso esforço comercial, que vem sendo mantido em benefício de todas as editoras, particularmente das editoras universitárias, que enfrentam, muitas vezes, dificuldades de distribuição no cenário nacional”, explica o diretor-presidente da Fundação Editora da Unesp, Jézio Hernani Bomfim Gutierre.

Para ele, a Lei Cortez não deve ter impacto significativo nesse tipo de evento. “A expectativa que nós temos em relação à implantação da Lei Cortez, como, inclusive, em relação ao mercado como um todo, eu acredito que ela vai ser muito menos significativa do que se espera, do que alguns esperam. Porque, de fato, não me parece que tenhamos, seguindo estritamente os limites impostos pela Lei Cortez, uma modificação clara do desempenho das editoras em feiras com esse perfil”, comenta.

“Não nos esqueçamos que a Lei Cortez se concentra muito em lançamentos. No caso, ao menos de editoras como a Editora Unesp, os fundos de catálogo são muito importantes. Os livros clássicos, com cauda longa, vendem extremamente bem nessas ocasiões, e, justamente por causa disso, não me parece que nós enfrentaremos alguma modificação clara relativamente ao panorama que foi enfrentado neste ano, e em anos anteriores”.

Nas Edições Sesc, houve um um percentual de aumento de 30% em volume de vendas em relação ao ano passado. A editora avaliou que a estrutura da Festa melhorou em relação ao ano passado, destacando a qualidade das tendas e do piso. “Apesar da chuva, não houve goteiras nem vazamentos. As instalações para banheiros também foram um diferencial deste ano. A Festa do Livro já apresenta grande variedade de editoras, e a Lei Cortez deve fortalecer ainda mais o setor editorial contribuindo para que a Festa fique ainda mais diversa”, diz uma nota da casa enviada ao PublishNews.

A Lote 42 também ampliou sua participação na Festa do Livro da USP. “Neste ano, pela primeira vez, a editora ocupou duas bancadas, expandindo sua presença e levando, além de seu catálogo, títulos de editoras parceiras da Banca Tatuí que aceitaram a política de descontos”, conta o editor João Varella. “A preparação para o evento exige muita energia e empenho, mas os resultados demonstram que o esforço vale a pena. A Festa da USP é uma oportunidade única de circulação para a editora, tanto em volume de vendas quanto na aproximação com leitores. Apesar de a chuva ter reduzido o fluxo nos primeiros dias, o final de semana compensou, com movimento intenso. Além de garantir a venda de exemplares a preços acessíveis, a participação consolida a presença da editora, conectando-se a novos públicos e fidelizando leitores ao longo de quase uma década”.

Na rua

A Lote 42 e a livraria Banca Tatuí também tiveram participação ativa na organização da Festa das Livrarias de Rua. A Banca registrou resultados expressivos tanto na loja física quanto na virtual. Somando as duas, foram vendidos centenas de livros. Mais de 60% da receita no período veio de livros que estavam dentro da ação. O título mais vendido foi O livro de fazer livros, de Cecilia Arbolave, que além de ser um lançamento com desconto exclusivo da ação (o livro não foi levado à USP) teve um evento de lançamento na Banca Tatuí.

“Do ponto de vista da Lote 42, o evento mostrou-se uma excelente oportunidade para fortalecer o catálogo da editora junto às livrarias”, conta Varella. “Ainda não recebemos o retorno de todas as livrarias participantes, mas estamos com ótimas expectativas tendo em vista os primeiros acertos que nos foram enviados. O importante será fazer um grande diálogo, consolidar aprendizados e entender que melhorias serão possíveis para a edição do ano que vem. Neste ano, teve um caráter de teste. Sabemos que há um potencial enorme em um evento descentralizado, em parceria com as livrarias de rua que na prática já atuam como centros culturais”.

Em outra livraria de rua, a Banca de Livros (Rua Alagoas, 112, Higienópolis – São Paulo / SP), a ação também rendeu frutos. “Pela primeira vez em nossa loja, estruturamos um espaço em destaque e com descontos. Escolhemos fazer a ação com três editoras, assim focamos em um grupo seleto de livros e o aumento de vendas destes foi notório”, comenta o livreiro Iúri Gebara. “Tivemos boas visitas, houve clientes que aproveitaram o desconto e levaram dois, três e até quatro livros em promoção. Tivemos oportunidades de levantar a pauta dos impactos que as feiras com grandes descontos (e a Amazon) causam no mercado livreiro. Tivemos aumento de vendas, mas este não foi seguido de aumento de faturamento ou lucro. Enfim, o mais interessante para nós, além do estímulo para experimentar nova estratégia de vendas, foi afinar as relações com editoras e com clientes”.

Adauto Leva, da Livraria Cabeceira (Praça Alfredo Weiszflog, 38, Vila Romana – São Paulo / SP), destaca que o evento foi importante em termos de imagem. “Para nós a ação foi mais interessante em imagem do que em vendas. Como imagem, já imaginava que seria, e por isso esperava que atraísse a atenção das grandes editoras como de fato aconteceu. Em vendas, foi fraco. Eu não tive condição de preparar nenhum evento, e evento sempre fortalece vendas. Para os clientes, foi importante para eles conhecerem editoras e livros que normalmente não conheceriam”, afirma.

Livrarias participantes da Festa das Livrarias de Rua 2024:

• A Banca de Livros
• Bandolim
• Banca Tatuí
• Bibla
• Cabeceira
• Caraíbas
• Diálogos Embalados
• Faz de Conta
• Gato sem rabo
• Livraria da Tarde
• Livraria do Espaço
• Livraria Miúda
• Livraria Ponta de Lança
• Livraria Simples
• Nuvem
• Panapaná
• Sobinfluência
• Sentimento do Mundo.