Livros considerados "artísticos" apresentam algumas particularidades editoriais e mercadológicas. O PublishNews conversou com livreiros, editoras e livrarias que trabalham com livros de arte, arquitetura, fotografia, de artistas e também fotolivros, para ter um panorama mais abrangente de como é a situação do setor dentro do mercado editorial e reuniu as obras mais vendidas entre arquitetura, fotografia e arte no último ano.
Esses títulos apresentam algumas particularidades, quando comparados a de outros gêneros: o público nichado das obras e o alto preço dos livros, por exemplo, são alguns dos desafios que autores e editoras nacionais destacam do mercado editorial brasileiro.
Há tempos que o preço do livro é pauta no setor por conta da Lei Cortez, aprovada em outubro na Comissão de Educação do Senado. O preço do livro constitui um ponto ainda mais delicado entre livros de arte, por conta da pluralidade editorial e criativa que os exemplares podem ter. Especificamente no caso de fotolivros, é possível explorar profundamente as dimensões e materiais das obras. Capas de papelão, brochura, impressão offset, são apenas alguns dos elementos que contribuem dentro do argumento artístico de cada uma das obras.
Livro como forma de exposição artística
No Brasil, a livraria Lovely House (Av. São Luís, 187 – São Paulo / SP), no centro de São Paulo, é especializada na venda de títulos de fotolivro. Em agosto de 2024, a livraria foi responsável por organizar a quarta edição do IMAGINÁRIA_, festival que, de acordo com a organização, marca uma ascensão do fotolivro nas últimas décadas, como meio de experimentação, circulação e democratização da fotografia e das artes visuais. O evento teve programação gratuita de atividades que vão de mostras especiais, oficinas, premiações, feira e espaço de troca de fotolivros. A edição de 2024 contou com apoio da Lei Paulo Gustavo.
José Fujocka, cofundador, curador e organizador dos eventos da casa de livros e editora Lovely House detalha que já houve casos em que curadores internacionais descobriram artistas brasileiros após visitar a livraria localizada na República. "O fotolivro é uma forma de você expor o seu trabalho. Isso aconteceu até mesmo comigo. Por meio de um dos meus livros, fui convidado a fazer uma exposição no Canadá", contou ao PublishNews
Otávio Nazareth, editor da Editora Olhares, comenta sobre o público muitas vezes nichado desses livros e eventos: “Os livros de arte tendem a ser livros de nicho, mas às vezes um nicho pode gerar bons resultados e, dependendo da relevância, até mesmo furar a bolha. Por exemplo, livros de artistas ou arquitetos com trabalhos mais conhecidos ou livros introdutórios de história da arte”, explica.
Essa maior ousadia artística também está atrelada a esses títulos comumente terem menores tiragens, justamente pelo foco estar mais na confecção de um exemplar singular, do que em grandes tiragens comerciais. A Bookinfo coletou dados referentes às vendas de exemplares de arte, fotografia e arquitetura no Brasil. Mas por que coletar informações sobre títulos de arquitetura? À primeira vista parece confuso colocar livros de arquitetura no mesmo grupo que livros de arte, de fotografia e fotolivros. No entanto, esse segmento apresenta muitas intersecções com os temas de livros de artes sendo, inclusive, objeto de diversos títulos, como é o exemplo do lançamento A cidade das colunas (Editora 34), em que o autor Alejo Carpentier apresenta ao leitor constantes da arquitetura de Havana, capital cubana, e traz 42 imagens em preto e branco do fotógrafo italiano Paolo Gasparini. Confira as listas:
Dez livros mais vendidos de arquitetura no Brasil no último ano:
- Hygge (Sextante) — 2818
- A psicologia das cores (Olhares) — 1234
- Ambientes que inspiram (Gente Autoridade) — 959
- Se a cidade fosse nossa (Paz & Terra) — 611
- Metrópole (Companhia das Letras) — 380
- Manual do Arquiteto Descalço (Bookman) — 351
- Cidades para pessoas (Perspectiva) — 334
- Branca é a cor do luto (Record) — 295
- Móvel moderno no Brasil (Senac São Paulo) — 265
- Oscar Niemeyer 1907-2012: the once and future dawn (Taschen) — 159
Dez livros mais vendidos de fotografia no Brasil no último ano:
- Amazonia - Sebastião Salgado (Taschen) — 1145
- Brazil (Konemann) — 1117
- Brazil (Konemann) — 850
- Genesis - Sebastião Salgado (Taschen) — 615
- Horizonte ampliado (Olhares) — 381
- Povos originários (Tordesilhas) — 315
- A prática da iluminação perfeita (Alta Books) — 294
- Endurance (Nova edição) (Companhia das Letras) — 291
- Leia isto se quer tirar fotos incríveis (Olhares) — 289
- 123 dicas de fotografia (Alta Books) — 267
- Ilumine, fotografe, retoque (Alta Books) — 255
Dez livros mais vendidos de arte no Brasil no último ano:
- Como desenhar coisas fofas (Editora Sextante) — 7663
- O caminho do artista (Editora Sextante) — 4020
- O livro da arte (Globo Livros) — 1962
- O livro do cinema (Globo Livros) — 1902
- BFF Club - Sereias (Editora DCL) — 1321
- Vamos colorir - selva (Girassol) — 1255
- Livro de colorir antiestresse - Lettering para relaxar (Todolivro) — 1233
- Ano Todavia 2024 (Todavia) — 1173
- BFF Club - Fadas (Editora DCL) — 1140
- Onde está Wally? (MARTINS FONTES) — 1131
Dados referentes às editoras de livros de arte, fotografia e arquitetura no Brasil revelam que não há, na maioria dos casos, um amplo domínio de uma única editora. De forma geral, analisando as três categorias, editoras como Sextante, Taschen, Konemann e Olhares se destacam.
Editoras estrangeiras e livros brasileiros
Algumas editoras estrangeiras se especializaram em fazer esse tipo de livro visando a distribuição internacional, o que permite uma conta mais favorável para algo que destinado a um mercado específico seria menos viável: "Me parece que livros estrangeiros sobre o trabalho de artistas ou arquitetos brasileiros são, de certa forma, pontos fora da curva, em geral com nomes ou obras que têm potencial de gerar interesse mais amplo do que apenas para o mercado brasileiro, seguindo a lógica dessas empresas”, comenta Octávio.
O caso citado pelo editor da Olhares é exatamente o da Lars Müller Publishers, editora fundada em 1983 e com base em Zurique, na Suiça. A casa conta com diversos títulos que tangem o Brasil de variadas formas, seja em conteúdo, seja em autoria. Em papo com o PN, Lars Müller comenta que seu interesse pelo país é bastante influenciado pela amizade do sueco com o artista brasileiro Leonardo Finotti.
Para além de seu caso individual, ele analisa que o interesse de editoras estrangeiras não está especificamente em autores brasileiros, mas sim na arquitetura brasileira. Ele afirma que o Brasil foi foco de seu trabalho pela primeira vez quando publicou Brasilia Chandigarh - Living with Modernity, com o fotógrafo Iwan Baan, em 2010.
Ele comenta que ainda que não possa afirmar sobre toda a situação no país, que conta com o grande contingente populacional, especialmente quando comparado ao mercado europeu, "qualquer audiência especializada é limitada e a preção sobre os preços é constante", complementa. José, da Lovely House comenta que problemas econômicos mundiais foram os principais responsáveis pelo encarecimento das publicações e que isso, associado ao trabalho bastante manual desses títulos, torna a questão mais complexa para livros de artista e para fotolivros.