Publicado originalmente em 1964, livro de Alejo Carpentier apresenta ao leitor certas constantes da arquitetura de Havana e traz 42 imagens em preto e branco do fotógrafo italiano Paolo Gasparini
A certa altura de
A cidade das colunas (Editora 34, 80 pp, R$ 69 – Trad.: Samuel Titan Jr.), ao mencionar o efeito provocado pela retirada de um tapume no centro velho de Havana, Alejo Carpentier nota de passagem: o que se descortinava aos olhos era uma “ágora entre mangues, praça entre matagais”. Nesse registro, em que um elemento primordial da pólis grega surge imerso em outra geografia, o escritor sintetiza o profundo deslocamento que a ocupação do Novo Mundo implicou, a seu ver, para a cultura do Ocidente — tema que ele mesmo não deixaria de tratar em algumas peças de ficção como
O reino deste mundo (1949),
Os passos perdidos (1953),
O século das luzes (1962),
O concerto barroco (1974) e outras mais. À primeira vista,
A cidade das colunas pretende tão só apresentar ao leitor certas constantes da arquitetura de Havana que conferiram à cidade sua feição inconfundível. O que se descobre nestas páginas, porém, é muito mais: em cinco breves capítulos, elas exemplificam com exatidão o método do escritor, no qual um anônimo mestre de obras cubano é contraposto a Le Corbusier, o tronco de uma palmeira convive com colunas dóricas, uma figura de retábulo hispânico é vizinha de um herói de Racine. Por meio desses cortes e aproximações, Carpentier promove uma subversão de valores e uma defesa luminosa da mistura e da mestiçagem que ele enxerga no cerne da experiência antilhana e, por extensão, latino-americana. Publicado originalmente em 1964 com 12 fotografias de Paolo Gasparini, o texto de Carpentier vem à luz em sua edição brasileira acompanhado por 42 imagens em preto e branco do fotógrafo italiano — contraponto gráfico certeiro para este ensaio que tem o andamento de um poema.