Flip 2024 se encerra com balanço positivo da organização, queixa das independentes e sabor de nova fase
PublishNews, Guilherme Sobota, 14/10/2024
Casa PublishNews se manteve como espaço de encontro entre leitores e o mercado editorial na Rua do Comércio, uma das principais do Centro Histórico, com 79 participantes, 27 mesas/painéis e quatro happy hours

Flip 2024 reuniu cerca de 27 mil pessoas em Paraty, com 95% de ocupação da rede hoteleira | © Sara de Santis / Flip
Flip 2024 reuniu cerca de 27 mil pessoas em Paraty, com 95% de ocupação da rede hoteleira | © Sara de Santis / Flip
A Flip 2024 se encerrou neste domingo (13) confirmando a curadoria de Ana Lima Cecílio para 2025 e prevendo três datas para o ano que vem: primeira semana de agosto, ou alguma semana de outubro – a depender dos patrocínios que a Festa arregimentar nos próximos meses. Segundo estimativas da Prefeitura de Paraty e da Polícia Militar, o público foi semelhante ao de 2023, cerca de 27 mil pessoas estiveram na cidade. A taxa de ocupação da rede hoteleira foi de 95%. No Youtube da Festa, a audiência praticamente dobrou: foram mais de 53 mil visualizações nos 20 painéis do programa principal.

Nas 29 Casas Parceiras deste ano, o movimento também foi relevante, embora com algumas mudanças, a principal delas a ausência da Flipei: a Festa Pirata das Editoras Independentes decidiu fazer seu evento em São Paulo em 2024. A Casa PublishNews se manteve como espaço de encontro entre leitores e o mercado editorial na Rua do Comércio, uma das principais do Centro Histórico, com 79 participantes, 27 mesas/painéis (contando debates, entrevistas, bate-papos e sessões de autógrafos, além de pocket show e lançamentos de livros) e quatro happy hours.

No início desta edição, a Flip celebrou a aprovação de um plano plurianual no âmbito da Lei de Incentivo à Cultura, medida que traz maior seguridade para que o evento aconteça ano após ano. Segundo a organização, o custo desta edição foi de R$ 10 milhões (5 milhões já captados, com 4,4 de projeção futura).

O que se ouviu nas conversas entre as ruas de pedras da cidade é que a programação principal voltou a buscar um protagonismo depois de anos em que a agenda paralela cresceu de maneira relevante. A homenagem a João do Rio e a presença de escritores internacionais conhecidos e com boa circulação de obras no Brasil, como Édouard Louis, Mohamed Mbougar Sarr e Atef Abu Saif, devolveram à tenda principal um caráter atrativo, e a preocupação da curadoria em trazer assuntos quentes do momento – como uma mesa extra sobre a situação das queimadas no país – acabou gerando matérias interessantes nos grandes jornais e comentários entusiasmados na própria cidade durante os dias do evento. Autores como Felipe Neto e Txai Suruí também se destacaram na programação.

Auditório da Praça transmite os painéis da programação principal | © Sara de Santis / Flip
Auditório da Praça transmite os painéis da programação principal | © Sara de Santis / Flip
“A gente passou esses dias numa espécie de sonho, todo mundo inspirado pela literatura, pela experiência de estar nas ruas de Paraty. A Flip acontece no espaço público, as pessoas se inspiram e essa inspiração transforma inclusive a experiência de quem está no palco e de quem está na plateia. São muitas plateias: uma plateia dentro do Auditório da Matriz, que é um espaço concentrado, fechado, mas todas as mesas foram transmitidas para o Auditório da Praça. Sempre gratuitas, sem paredes, as pessoas na praça participando de todos os eventos. Foi maravilhoso, e eu estou muito feliz com a curadoria sensível, extremamente trabalhada, dedicada e generosa da Ana Lima Cecílio, que convidamos para fazer a 23ª Flip. Estamos muito felizes para recomeçar o trabalho. O último dia da Flip é o primeiro dia da próxima Flip”, afirma Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip.

Casa PublishNews

Além dos mais de 27 painéis – que reuniram profissionais do mercado, autores e leitores – a Casa PublishNews contou esse ano com 17 patrocinadores e apoiadores, fundamentais para o sucesso da empreitada.

Da curadoria de eventos literários à produção de audiolivros, passando por lançamentos, pocket show, debates sobre temas urgentes do setor do livro, políticas públicas de leitura, reunião de CEOs de grandes empresas, discussões sobre democracia no mercado editorial e conversas sobre a edição do livro em si, a Casa se consolida como ponto de encontro e de elaborações sobre o fazer editorial, contribuindo para a contínua profissionalização da área e aperfeiçoamento de relações entre os diferentes agentes.

Já nesta segunda-feira (14) e nas próximas semanas, o Podcast do PublishNews vai trazer algumas das mesas para um público mais amplo.

Neste ano, a Casa PublishNews teve como patrocinadores CBL, Elo Editora e MVB (as três, patrocinadoras Master), Abrelivros, Alta Books, Bookwire, Carreira Literária, DBA, Drummond Livraria, Editora da Ponte, Labrador, Maralto, NESPE, Radar de Licitações e UmLivro. E apoio da Gráfica Viena e do Sesc. (Tem interesse em anunciar ou patrocinar o PN? Escreva para comercial@publishnews.com.br).

Visitantes em frente à Casa PublishNews na Flip 2024 | © Sara de Santis / Flip
Visitantes em frente à Casa PublishNews na Flip 2024 | © Sara de Santis / Flip
“Ainda estamos colhendo informações sobre o resultado da Casa PN. Mas até agora a imensa maioria de comentários e retornos foi positiva, o que nos deixa muito orgulhosos. Tivemos uma programação diversa e propositiva, um público participativo e numeroso, autores e outros profissionais do mercado compartilhando dores e delícias do setor. Um elogio muito especial e generoso veio do secretário Fabiano Piúba, que sugeriu de levarmos a Casa para outras cidades", comenta o diretor-executivo do PublishNews, Ricardo Arcon.

“Aproveito para fazer um efusivo agradecimento aos nossos patrocinadores e apoiadores, sem os quais seria financeiramente inviável manter a Casa e o próprio PublishNews, e à nossa aguerrida equipe, que colocou de pé o que planejamos. As casas parceiras enriquecem a Flip, e ficamos felizes de termos contribuído nesse sentido.”

Independentes

Uma reclamação relevante partiu das editoras independentes. As pequenas empresas pagaram cerca de R$ 3 mil para montar suas bancas na área dedicada a elas, que ficou numa área prejudicada no mapa da arquitetura geral da Flip – no fim do Areal, do lado oposto da ponte sobre o Rio Perequê-Açu. No plano inicial, as editoras ficariam logo após a ponte, mas a montagem na cidade as empurrou para o fim de um corredor que começava com um auditório e passava por uma área com comerciantes locais.

Detalhes da área das editoras independentes na Flip 2024 | © Sara de Santis / Flip
Detalhes da área das editoras independentes na Flip 2024 | © Sara de Santis / Flip
"Desde o início da negociação, a área destinada aos estandes foi apresentada como próxima à ponte que conecta o Areal do Pontal ao Centro Histórico", explica a editora da Lote 42, Cecilia Arbolave. "Nosso estande estaria virado para o rio e seria visto da ponte. Essa posição foi fundamental para nossa escolha em participar daquela área. No entanto, os estandes ficaram no fundo da praça, de costas para o rio. Entre a entrada da praça e os estandes de editoras, foram instalados painéis sobre Thomas Mann, estandes de artesanato e alimentação, o que comprometeu seriamente a visibilidade e o fluxo de visitantes. Em nenhum momento, durante o processo de negociação, foi mencionado que o espaço das independentes ficaria atrás de atividades comerciais não relacionadas ao setor editorial", explicou.

Cecilia conta que os produtores da Flip foram muito solícitos durante o evento e ajudaram como puderam para amenizar a situação. "Mas até o momento não recebemos resposta para o email que enviamos para a organização da Flip solicitando melhorias na sinalização e que fosse avaliada uma compensação pelo investimento realizado. Acreditamos que, se forem pensados alguns ajustes, a Praça Aberta tem um grande potencial para o festival", afirma.

Apesar do problema, a participação nesta edição da Flip foi positiva para a editora. "Os livros que levamos, tanto do catálogo da Lote 42 como do acervo da nossa livraria Banca Tatuí, renderam boas trocas. Temos publicações com formatos inusitados que acabam não aparecendo em outros espaços do festival e isso chamou a atenção do público".

Repercussão

O PublishNews consultou alguns editores e frequentadores da Flip sobre a edição de 2024. Algumas respostas serão incluídas ao longo do dia.

"A Câmara Brasileira do Livro parabeniza a Festa Literária Internacional de Paraty por mais uma edição que movimentou a cidade com uma rica programação. Além de reunir grandes nomes da literatura, a programação oficial e as parceiras destacaram exposições de arte, lançamentos de editoras independentes, oficinas e outras iniciativas culturais que enriqueceram a experiência", comenta o vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro, Luciano Monteiro.

"Quero destacar ainda a Casa Publishnews, cuja participação, também foi apoiada pela CBL, e que contou com mesas de debates lotadas desde o primeiro dia. As conversas abordaram literatura e livros, reunindo representantes do mercado editorial para discutir questões urgentes do setor. Estamos orgulhosos de ter participado dessa celebração plural e inspiradora", complementa Monteiro.

"A Flip foi realizada em um período climático mais favorável do que em 2023. Embora tenha chovido em um dos dias e o calor presente, foi bem menos quente e chuvoso", diz o editor Daniel Pinsky, da Labrador e da Contexto. "No entanto a proximidade com as datas da Feira de Frankfurt fez com que menos profissionais do mercado editorial comparecessem. Não tenho números exatos, mas também tive a impressão de um público geral menor. Apesar desses pontos negativos, foi mais uma excelente Flip para a Labrador. Tivemos seis autores em mesas na Casa Publishnews, cinco em mesas em outras casas, eu participei de uma, além de um sarau com dezessete autores e um café da manhã com nossos convidados. Ao todo contamos com cerca de vinte e seis autores presentes, fizemos bons contatos e reforçamos a marca. A Flip tem tudo a ver com a Labrador e participar da maior festa literária do Brasil, em um lugar icônico como Paraty, é sempre um prazer".

Para Maíra Nassif, editora da Relicário, mais uma vez a experiência na Flip foi positiva. "Desde 2017 temos autores na programação oficial e, mesmo que nesta edição tenha sido diferente, marcamos presença na Casa Paratodos pelo sexto ano, onde ajudamos a compor uma programação paralela de muita qualidade. Já bastante conhecida pelo público que frequenta a Flip, e bem localizada no Centro Histórico, a casa composta pelos colegas da editora Nós, Dublinense, Tabla, Revista Cult, Ercolano, Quelônio e Seiva recebeu centenas de pessoas e trouxe ótimos resultados para todos nós.”

Entidades estrangeiras

A 22ª Flip contou com o apoio de entidades representantes de países estrangeiros na composição de algumas mesas do Programa Principal.

A participação da escritora Ana Margarida de Carvalho foi apoiada pelo Instituto Camões. A autora participou da mesa 8, “A paz e o gesto”, às 10h da sexta-feira, dia 11, em uma conversa sobre a vida da mulher narrada por ela mesma, mediada por Adriana Ferreira Silva. Da mesma mesa participou Lisa Ginzburg, autora de Cara paz (Nós, 2023), com apoio do Istituto Italiano di Cultura.

O Consulado Francês apoiou a participação de Édouard Louis, que integrou a mesa 18, “anatomia do futuro”, com mediação de Paulo Roberto Pires. No sábado, dia 12, às 19h30, o autor falou sobre sua obra autoficcional, pela qual passam temas como desigualdade, preconceito e uma formulação contínua de si e de nós.

Números da Flip 2024

  • Taxa de ocupação das pousadas: 95% (fonte: Secretaria de Turismo)
  • Estimativa de pessoas em Paraty: 27-30 mil (fonte: Polícia Militar e Prefeitura)
  • Números do Youtube: 53.206 (2024) x 25 mil no Youtube 2023 x 18 mil no YouTube 2022 600 mil contas impactadas no Instagram

Leis de incentivo

  • Aprovado na Lei Rouanet: R$ 15 milhões
  • Captado via Lei Rouanet até o momento: R$ 5 milhões
  • Outras captações até o momento: R$ 4,4 milhões (projeção)
  • Custo da 22ª Flip: R$ 10 milhões

Parceiros

Entre espaços, pousadas, editoras, embaixadas e iniciativas da praça aberta, 285 parceiros que este ano estavam especialmente animados com programação própria.

  • Número de espaços parceiros: 29
  • Pousadas parceiras: 32
  • Editoras parceiras: 29, sendo: 8 Artístico, 18 Educativo e 3 Pés de Livro
  • Editoras com selo Livraria Flip: 21
  • Embaixadas e consulados: 3

Praça aberta:

  • Editoras independentes: 29
  • Autores/as independentes: 120
  • Ocupa Paraty: 22

Educativo

  • Público total: 5.500 pessoas

“Vimos um Educativo mais consolidado, com uma programação que acompanhou o processo da formação que fazemos com os educadores durante o ano e que contribui para escolher autores e obras que interessem a eles, às crianças e suas famílias”, diz Belita Cermelli, Diretora de Cultura e Educação da Flip. “Foi muito bonito ver a tenda lotada todos os dias com a cidade ali representada tanto pelos convidados quanto pelo público, e ver a programação de volta à Ilha das Cobras com a Casa Flipeira, que inauguramos neste ano”, completa.

A Flip é um projeto realizado pelo Ministério da Cultura e Governo Federal, com concepção da Associação Casa Azul, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com patrocínio master do Instituto Cultural Vale; patrocínio ouro do Itaú Unibanco, CCR e Suzano; patrocínio prata da Maqmóveis, Sesc, Eletronuclear e O Globo; patrocínio bronze do Sebrae e Globo Livros. Apoio institucional: Iphan, Secretaria Municipal de Cultura de Paraty, Museu do Território, Secretaria de Turismo do Estado do Rio de Janeiro.

[14/10/2024 10:36:50]