II Expedição: Encontro de Editoras Experimentais Acadêmicas debate políticas de edição e publicação de livros
PublishNews, Redação, 20/09/2024
Evento é promovido pelo Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense com apoio da Faperj

Nos dias 26 e 27 de setembro, o Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF) sediará o II Expedição: Encontro de Editoras Experimentais Acadêmicas. Com o tema “Políticas de edição e publicação de livros”, o evento reunirá especialistas, pesquisadores e profissionais do mundo editorial para discutir o papel dos livros na contemporaneidade.

A proposta do II Expedição é refletir sobre a constituição, formulação e circulação da produção de sentidos sobre livros, considerando que o livro não está presente de forma evidente no curso de Letras e também não é objeto dominante no curso de Comunicação, isso não quer dizer que ele não seja valorizado. Talvez se espraie tanto que não haja condições, na contemporaneidade, de fincá-lo a um ou outro campo. Essa discussão, iniciada no evento anterior em 2020, transcende os limites disciplinares e se estende a áreas afins como Comunicação Social, Biblioteconomia e Design. O objetivo do evento é ampliar a abrangência de atuação e promover a troca de experiências coletivas.

A programação do II EXPEDIÇÃO inclui quatro mesas com palestrantes:

Dia 26/09/24, quinta-feira

  • Mesa 1: “Hábito de leitura: políticas educacionais, economia da atenção e jornada de trabalho”

Allison Leão (UEA), Beatriz Feres (UFF), Mário Feijó (UFRJ) e Renata Flavia da Silva (UFF), com mediação de Iuri Pavan (UERJ).

A Retratos da Leitura no Brasil registra que o número de leitores de livros está estacionado na casa dos 50% desde, pelo menos, o ano de 2007. Entre os impedimentos mais citados para o hábito da leitura, tanto na Retratos como em outras pesquisas, estão a falta de tempo e o preço de capa, e o livro, que já não era uma das principais atividades de lazer citadas pelos respondentes, tem perdido mais espaço para as redes sociais e o streaming. Diante desses dados, é importante se perguntar: existem políticas estruturais de formação de leitores e incentivo à leitura? Historicamente sob sucateamento, a escola pública brasileira tem a estrutura necessária para formar leitores? Qual é o lugar que o ensino de literatura e o incentivo à leitura de fruição ocupam na formação da classe trabalhadora? Como a leitura pode superar o vício em telas? Pensando que a leitura é uma atividade que demanda tempo de descanso e tempo de lazer, deveríamos estar pautando a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1?

  • Mesa 2: “A formação de trabalhadores do livro em tempos de neoliberalismo e uberização”

Leandro Müller (NESPE), Leonardo (Buggy) Araújo da Costa (UFC), Liciane Corrêa (UFRJ) e Thiago Mio Salla (USP), com mediação de Marília Barcellos (UFSM/PUCRS).

Segundo a série histórica da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, o setor encolheu 40% desde 2006. Os efeitos dessa retração já são velhos conhecidos: demissões em massa, salários baixos, sobrecarga de trabalho, pejotização, formação de grandes conglomerados etc. Com um ritmo de produção cada vez mais acelerado, o tempo para a leitura aprofundada e a concepção criativa de um livro tem caído drasticamente. Já é mais do que comum que editores não sejam os primeiros interlocutores a ler um original, e tem se normalizado que nem mesmo o leiam a fundo ou integralmente antes de publicá-lo. Paralelamente a isso, trabalhadores formais se veem obrigados a prestar serviços como frila para complementar renda, e trabalhadores autônomos precisam continuamente diversificar suas habilidades e aumentar a carga de trabalho para continuar na ativa. Diante dessas condições, como a universidade e, principalmente, os laboratórios de edição devem se preparar e preparar seus alunos para o mercado de trabalho?

Dia 27/09/2024, sexta-feira

  • Mesa 3: “Bibliodiversidade: utopia ou tarefa?”

Felipe Queiroz (UERJ), José Muniz Jr. (CEFET-MG), Marília de Araujo Barcellos (UFSM/PUCRS) e Nathanael Araujo (UNICAMP), com mediação de Luciana Salazar Salgado (UFSCar).

Apesar de ser um assunto sempre em pauta no setor editorial, parece não haver consenso sobre o que é bibliodiversidade. Para alguns, é um compromisso com a inclusão e promoção de livros e autores alternativos ou contra-hegemônicos no catálogo de uma editora, livraria ou biblioteca. Para outros, é simplesmente a maior oferta de ISBNs em pontos de venda ao consumidor. Para terceiros, é uma política pública (a ser instituída) de regulação do preço do livro e de fortalecimento de pequenas e médias editoras e livrarias diante do grande capital, muitas vezes estrangeiro. Afinal de contas, o que é bibliodiversidade e como é possível pô-la em prática? A lógica da mercadoria permite a bibliodiversidade? Ela é possível em um mercado tomado por grandes conglomerados? Qual é o seu papel na superação das estruturas de dominação?

  • Mesa 4: “Onde vivem os livros, onde morrem os livros”

Davi Pessoa (UERJ), Eliane Hatherly Paz (UFRJ), Luciana Salazar Salgado (UFSCar) e Mariana Tavares (UFF), com mediação de Phellipe Marcel da Silva Esteves (UFF).

Em março de 2024, a Amazon retirou do ar seu catálogo de livros digitais devido a um impasse na negociação com a distribuidora alemã Bookwire, a maior em atuação no Brasil. A medida durou poucos dias (poucos para quem?), mas reacendeu a discussão sobre os perigos de um monopólio que avança cada vez mais sobre o setor editorial brasileiro e as consequências disso para a produção e circulação da arte e do conhecimento. Nesta sessão, pretendemos pensar na cadeia de armazenamento e deslocamento do livro enquanto objeto. Para isso, incentivamos os participantes a abordarem a questão dos arquivos das editoras – em toda a sua responsabilidade de mapear as diferentes versões dos manuscritos –, da logística na cadeia de produção – que muitas vezes inviabiliza, por exemplo, a atuação de editoras experimentais –, da contemporaneidade dos canais de venda – em livrarias físicas, sebos e também nos megaestoques das lojas virtuais (livrarias?) – e, enfim, das bibliotecas enquanto lugar de catalogação, guarda, recebimento de doação e também descarte. Esta sessão não deixa de se questionar também sobre a relação livro-antropoceno-capitaloceno.

O Expedição também prevê a apresentação de diferentes comunicações, cuja programação está disponível neste link.

Serviço:

O que: II EXPEDIÇÃO: Encontro de Editoras Experimentais Acadêmicas

Tema: Políticas de edição e publicação de livros
Quando: 26 e 27 de setembro de 2024
Onde: Universidade Federal Fluminense (UFF) – Rua Prof. Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/n - São Domingos – Niterói / RJ
Comissão Organizadora, composta por Iuri Pavan (SELB-UERJ), Marília Barcellos (PE.COM_UFSM) e Phellipe Marcel da Silva Esteves (GAL/Arquivo dos Livros-UFF).
O apoio para o evento vem da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).

[20/09/2024 11:40:00]