Uma genealogia da escrita de diários
PublishNews, Redação, 11/09/2024
Livro de Julia Wähmann investiga como o registro da palavra é parte fundamental da construção da memória

Ao revisitar seus diários de infância e adolescência – “um oceano de constrangimento” –, as lembranças ora cômicas ora angustiantes da pandemia – “até aqui, tenho três cadernos inteiramente destruídos” – e diários de personalidades célebres e anônimas, a escritora cria um mosaico sobre o gênero literário notadamente confessional, que, como crônicas efêmeras, capturam um estado de espírito e o retrato de uma época. A esses vestígios, somam-se reminiscências dos relatos de seu avô escritos durante sua participação na Segunda Guerra Mundial. Como em um feed literário, Julia Wähmann muda de tema como quem vira a página do livro Triste cuíca (janela+mapa lab, 112 pp, R$ 64,90), e intercala passagens do passado recente com histórias registradas em tempos históricos e por personagens distintos, que se revelam a partir de notas do efêmero. Ao adentrar pela janela indiscreta de diários aleatórios, com suas verdades íntimas e inconfessáveis, traça uma genealogia do gênero, criando um meta diário. Nesse flagrante de frações do tempo, a autora descreve a vida acontecendo em sua mais ordinária banalidade. E, no momento seguinte, vislumbra o núcleo da dramaticidade da vida, aquele instante da história em que ninguém sabe, apenas a posteridade saberá julgar.

[11/09/2024 07:00:00]