Ainda, a pandemia: Feira Internacional do Livro de Pequim age para contornar efeitos dos últimos anos
PublishNews, Guilherme Sobota, 21/06/2024
Número de expositores ainda está distante do período pré-pandêmico, mas esforços de internacionalização procuram acertar diferenças

Evento em Pequim busca se reaproximar dos números pré-pandemia | © BIBF
Evento em Pequim busca se reaproximar dos números pré-pandemia | © BIBF
Um evento em recuperação: a sexta-feira (21) na Feira Internacional do Livro de Pequim viu corredores mais vazios do que nos dias anteriores, embora milhares de visitantes não-profissionais sejam esperados no final de semana. Como outras feiras ao redor do mundo, Pequim realiza três dias voltados para profissionais da indústria e dois com visitação aberta ao público em geral. Nos últimos anos, o evento – organizado pela Corporação de Importação e Exportação de Publicações Nacional da China (CNPIEC) – ajustou suas datas e mudou o local, para o Parque Olímpico da cidade, na busca de dar um adeus definitivo para os efeitos da pandemia. Em 2024, foram 1,6 mil exibidores, 17% a mais do que em 2023, mas uma quantia ainda distante dos números de 2019, quando 2,6 mil organizações e empresas do mundo todo marcaram presença.

"Uma das consequências da pandemia de Covid foi que todos passamos por um processo de reavaliar nossas vidas, incluindo instituições, e a única certeza é que tudo continua mudando", comentou a presidente da CNPIEC, Lin Liying. "Desafios e oportunidades vêm ao mesmo tempo. Agora, o futuro é também aberto para a nossa imaginação, inclusive como organização da Feira".

O mercado chinês também demora para se recuperar dos efeitos das mudanças dos últimos anos – segundo a OpenBook, o setor editorial chinês teve um auge de faturamento em 2019, de cerca de US$ 14 bilhões, e, no ano passado, foi de cerca de US$ 12,5 bilhões.

Como destacado nos fóruns realizados ao longo dos últimos três dias, as vendas via plataformas online – como o TikTok, o Xiaohongshu e o WeChat – estão rapidamente se tornando o principal canal de vendas do país, já respondendo por cerca de dois terços do total de venda de livros na China – o que lhes dá enorme poder de barganha e capacidade de pressão nos preços.

Uma das visões da Feira de Pequim é a de autores e autoras fazendo lives nos estandes das editoras para comercializar os livros.

Para os editores, descontos que chegam na casa dos 60% são obviamente um problema, mesmo com grandes volumes de vendas. Mais recentemente, diversas casas boicotaram um “festival de vendas” da plataforma eletrônica JD.com, que chegou a oferecer 80% de desconto em títulos – esse é o segundo maior evento de compras do ano na China, ficando atrás apenas de um feriado em novembro. Influenciadores também enfrentam severas críticas do setor por praticarem descontos hiper-agressivos (oferecendo livros a valores como 1 yuan, R$ 0,75, na busca por audiência).

Inovação na indústria do livro

Outro tópico que dominou os fóruns realizados nos últimos dias – incluindo o Beijing International Publishing Forum 2024, realizado nesta sexta-feira (21) – foi o uso de inteligência artificial como ferramenta de inovação da indústria editorial.

Por conta da forte presença de editoras de livros científicos e acadêmicos na Feira (como Springer Nature, Cengage e De Gruyter Brill, entre diversas outras casas ligadas a universidades), as discussões também focaram em questões de pesquisa científica, e alguns consensos parecem se formar: inteligência artificial não é (pelo menos por enquanto) autor; é mais do que necessário estabelecer novos padrões éticos e regulações; é preciso abraçar a tecnologia para promover mudanças produtivas dentro do setor do livro.

A presença das casas editoriais acadêmicas também se relaciona com políticas recentes do governo chinês de estimular a pesquisa e se tornar líder global na área. Em 2023, por exemplo, a China ultrapassou os EUA e se tornou a principal fonte de contribuição para revistas de ciências.

Para o presidente da Associação dos Editores da China, Wu Shulin, é importante destacar que o mundo vive um momento de inovação tecnológica e de atualização de conhecimentos. “É preciso entender que o papel da inovação é espalhar conhecimento”, disse, na palestra central do Fórum.

Wu Shulin, presidente da Associação de Editores da China | © BIBF
Wu Shulin, presidente da Associação de Editores da China | © BIBF
Outro ponto destacado é que a inovação é um fator central na qualidade das publicações. “Ela é o vetor de crescimento. Desde centenas de anos atrás, inovações tecnológicas são aplicadas na indústria do livro, e agora temos a oportunidade de desenvolver novas formas de produção e divulgação, baixar custos e aumentar as margens. É preciso abraçar as transformações tecnológicas para promovermos desenvolvimento”, afirmou. Para ele, os modelos tradicionais de vendas, por exemplo, estão se tornando inviáveis, e a tecnologia pode ajudar a transformar esses processos.

Na sua visão, as editoras chinesas precisam estar atentas e abertas às transformações das editoras em outras partes do mundo, além de pensar no desenvolvimento de suas próprias inovações. Sobre a questão da propriedade intelectual, foi assertivo. “Na China, nós protegemos a propriedade intelectual, e acreditamos que isso equivale a proteger a inovação. Assim, a indústria editorial pode se tornar uma das líderes nessa discussão”.

A presidente da International Publishers Association (IPA), Karine Pansa, se mostrou satisfeita com o esforço de inovação mostrado pelos colegas chineses. “Não podemos esquecer que os leitores ainda amam livros físicos, portanto é nosso papel também encontrar modos de produção mais sustentáveis – diferentes papéis e tintas, possibilidade de imprimir menos cópias e produzir os livros mais próximo dos leitores, por exemplo”, comentou.

Veja fotos do terceiro dia da Feira Internacional do Livro de Pequim:

Karine Pansa, editora brasileira presidente da International Publishers Association | © BIBF
Karine Pansa, editora brasileira presidente da International Publishers Association | © BIBF

Esforço de internacionalização busca atrair mais visitantes | © BIBF
Esforço de internacionalização busca atrair mais visitantes | © BIBF

Visitantes na Feira Internacional do Livro de Pequim nesta sexta | © BIBF
Visitantes na Feira Internacional do Livro de Pequim nesta sexta | © BIBF

Novas transformações, antigos hábitos de leitura | © BIBF
Novas transformações, antigos hábitos de leitura | © BIBF

Evento tem um andar inteiro voltado para editoras e instituições chinesas; pavilhões internacionais ocupam espaço relativamente menor | © BIBF
Evento tem um andar inteiro voltado para editoras e instituições chinesas; pavilhões internacionais ocupam espaço relativamente menor | © BIBF

*O repórter viajou a convite da Feira Internacional do Livro de Pequim.

[21/06/2024 05:50:00]