
"Uma das consequências da pandemia de Covid foi que todos passamos por um processo de reavaliar nossas vidas, incluindo instituições, e a única certeza é que tudo continua mudando", comentou a presidente da CNPIEC, Lin Liying. "Desafios e oportunidades vêm ao mesmo tempo. Agora, o futuro é também aberto para a nossa imaginação, inclusive como organização da Feira".
O mercado chinês também demora para se recuperar dos efeitos das mudanças dos últimos anos – segundo a OpenBook, o setor editorial chinês teve um auge de faturamento em 2019, de cerca de US$ 14 bilhões, e, no ano passado, foi de cerca de US$ 12,5 bilhões.
Como destacado nos fóruns realizados ao longo dos últimos três dias, as vendas via plataformas online – como o TikTok, o Xiaohongshu e o WeChat – estão rapidamente se tornando o principal canal de vendas do país, já respondendo por cerca de dois terços do total de venda de livros na China – o que lhes dá enorme poder de barganha e capacidade de pressão nos preços.
Uma das visões da Feira de Pequim é a de autores e autoras fazendo lives nos estandes das editoras para comercializar os livros.
Para os editores, descontos que chegam na casa dos 60% são obviamente um problema, mesmo com grandes volumes de vendas. Mais recentemente, diversas casas boicotaram um “festival de vendas” da plataforma eletrônica JD.com, que chegou a oferecer 80% de desconto em títulos – esse é o segundo maior evento de compras do ano na China, ficando atrás apenas de um feriado em novembro. Influenciadores também enfrentam severas críticas do setor por praticarem descontos hiper-agressivos (oferecendo livros a valores como 1 yuan, R$ 0,75, na busca por audiência).
Inovação na indústria do livro
Outro tópico que dominou os fóruns realizados nos últimos dias – incluindo o Beijing International Publishing Forum 2024, realizado nesta sexta-feira (21) – foi o uso de inteligência artificial como ferramenta de inovação da indústria editorial.
Por conta da forte presença de editoras de livros científicos e acadêmicos na Feira (como Springer Nature, Cengage e De Gruyter Brill, entre diversas outras casas ligadas a universidades), as discussões também focaram em questões de pesquisa científica, e alguns consensos parecem se formar: inteligência artificial não é (pelo menos por enquanto) autor; é mais do que necessário estabelecer novos padrões éticos e regulações; é preciso abraçar a tecnologia para promover mudanças produtivas dentro do setor do livro.
A presença das casas editoriais acadêmicas também se relaciona com políticas recentes do governo chinês de estimular a pesquisa e se tornar líder global na área. Em 2023, por exemplo, a China ultrapassou os EUA e se tornou a principal fonte de contribuição para revistas de ciências.
Para o presidente da Associação dos Editores da China, Wu Shulin, é importante destacar que o mundo vive um momento de inovação tecnológica e de atualização de conhecimentos. “É preciso entender que o papel da inovação é espalhar conhecimento”, disse, na palestra central do Fórum.

Na sua visão, as editoras chinesas precisam estar atentas e abertas às transformações das editoras em outras partes do mundo, além de pensar no desenvolvimento de suas próprias inovações. Sobre a questão da propriedade intelectual, foi assertivo. “Na China, nós protegemos a propriedade intelectual, e acreditamos que isso equivale a proteger a inovação. Assim, a indústria editorial pode se tornar uma das líderes nessa discussão”.
A presidente da International Publishers Association (IPA), Karine Pansa, se mostrou satisfeita com o esforço de inovação mostrado pelos colegas chineses. “Não podemos esquecer que os leitores ainda amam livros físicos, portanto é nosso papel também encontrar modos de produção mais sustentáveis – diferentes papéis e tintas, possibilidade de imprimir menos cópias e produzir os livros mais próximo dos leitores, por exemplo”, comentou.
Veja fotos do terceiro dia da Feira Internacional do Livro de Pequim:





*O repórter viajou a convite da Feira Internacional do Livro de Pequim.