Três Perguntas do PN para Luciana Barreto, autora de 'Discursos de ódio contra negros nas redes sociais'
PublishNews, Guilherme Sobota, 07/12/2023
Jornalista e âncora da CNN Brasil lança seu novo livro pela Pallas nesta quinta-feira (7) em São Paulo

A jornalista Luciana Barreto, âncora da CNN Brasil | © Belmira Comunicação
A jornalista Luciana Barreto, âncora da CNN Brasil | © Belmira Comunicação
"Racistas encontraram no ambiente digital um caminho aberto para manutenção e ampliação de ideias supremacistas sem que sejam responsabilizados": a jornalista e âncora da CNN Brasil Luciana Barreto lança nesta quinta-feira (7), em São Paulo, o seu novo livro Discursos de ódio contra negros nas redes sociais (Pallas). O lançamento ocorre na Livraria Martins Fontes (Rua Dr. Vila Nova, 309, Consolação, São Paulo / SP), a partir das 18h30.

O objetivo do livro, fruto do seu mestrado no CEFET/RJ, é "documentar a dimensão digital do racismo no Brasil", segundo o prefácio de Flavia Oliveira. Barreto então conta a história do ódio racial no Brasil, e depois se debruça sobre "a apropriação da liberdade de expressão pelo discurso de ódio".

Luciana Barreto respondeu a três perguntas do PublishNews.

PublishNews – É possível dizer que o ambiente digital e sem amarras das redes sociais fez renascer um tipo de racismo – ainda mais odioso e escancarado?

Luciana Barreto – Sim, é um ambiente bem pior mas não porque exista um grau de racismo mais ou menos odioso. Acredito que, como dizia Abdias Nascimento, as estruturas racistas da sociedade brasileira “se transformam, se modificam, se enriquecem, mudam de tática e estratégia, mas a estrutura do racismo permanece a mesma coisa, desde o tempo da escravidão até hoje.” A fala do Abdias é muito explicativa para este momento. Racistas encontraram no ambiente digital um caminho aberto para manutenção e ampliação de ideias supremacistas sem que sejam responsabilizados. Cabe abrir um parênteses aqui para dizer que temos legislação mas ainda lidamos com muitas lacunas nas relações de países e grandes empresas de tecnologia. O importante, como trago no livro, é entender que o ambiente digital está fortalecendo ideais supremacistas que já existiam entre nós.

– Você aborda no livro essa experiência do Teaching Tolerance. Há no Brasil experiências semelhantes? Quais seriam ações possíveis no país para mitigar e eventualmente colocar fim a esse "racismo digital"?

O Teaching Tolerance é o motivador do livro. Conheci este projeto nos Estados Unidos em 2016. É um programa do estado do Alabama. Trata-se de uma plataforma com uma vasta programação de ensino e apoio aos professores e comunidade para combater o discurso de ódio. O programa existe há mais de três décadas e tem um trabalho importante contra o ódio, grupos de supremacia branca e intolerância. Eles distribuem material didático, fazem treinamentos, possuem um museu, dão apoio jurídico a vítimas. Fiz essa introdução para responder que não havia nada parecido por aqui. Transformei meu encantamento em vontade de pesquisar mais e jogar luz sobre caminhos que podemos trilhar no combate ao ódio no Brasil.

– Recentemente, você entrevistou Conceição Evaristo na Casa PublishNews na Flip. Como foi essa experiência? Você já tinha entrevistado a Conceição? O que mais te chamou atenção nas respostas dela?

Eu posso dizer que sou uma pessoa de sorte porque já entrevistei Conceição Evaristo muitas vezes. Inclusive, pude acompanhar toda a explosão da literatura dela no Brasil. A primeira vez que conversei com Conceição, Ponciá Vicencio, seu primeiro livro, tinha sido publicado não havia muitos anos. Eu me lembro exatamente da sensação de me sentar ao lado dela já naquele momento e sentir a força que vem do discurso que ela, sabedora disso, sempre pronuncia com calma, pausadamente. Durante a Flip, tive vontade de chorar quando vi o entorno da Casa PublishNews lotado, pessoas se aglomerando na chuva, agachados em qualquer brecha, buscando um cantinho que fosse para ao menos ouvir. Quando entrei com a Conceição, os aplausos não paravam. Um filme passou pela minha cabeça. Aquela mulher carrega a sabedoria ancestral, nos brinda com literatura carregada de saberes. É uma honra para nós sermos contemporâneos da Conceição Evaristo.

[07/12/2023 09:40:00]