Uma primeira queda de energia havia ocorrido mais cedo, que a Enel atribui a um raio em um dos fios. A energia ficou em fase, e um conserto foi programado pela concessionária. A previsão inicial era retornar às 21h, mas a energia voltou apenas 23h.
O prefeito de Paraty, Luciano Vidal, orientou a quem se sentir lesado a procurar o Procon da cidade. “Lamentavelmente, o que está acontecendo hoje em Paraty, nós já estávamos alertando o governo federal, nós fomos umas das primeiras cidades a denunciar a Enel à Anel e ao Ministério de Minas e Energia”, disse o prefeito nas redes sociais. “No ano passado estive pessoalmente em Brasília. Qualquer tipo de chuva falta energia. Entramos com ação civil pública, cerca de um mês atrás, o juiz da comarca de Paraty deu uma multa de R$ 1 milhão à Enel por desrespeito às demandas da cidade”, explicou. “Estamos sofrendo em plena Flip, com visitantes do Brasil todo e do mundo”, lamentou.
Nas ruas, o clima era de insatisfação – reclamações que se repetem nas redes sociais. “Gente, Flip em novembro não tem condições de se repetir. Um calor insuportável na cidade, muita chuva e falta de luz”, disse uma frequentadora nas redes do evento. Outra foi ainda mais incisiva: “parar de fingir que é um evento sustentável e de ‘todos’... Se não pensar na situação climática (inclusive nas chuvas) e na estrutura, não tem como. É para quem pode pagar e ficar no ar”. “Voltem para julho!”, clama outra.
O PublishNews perguntou à Flip se haverá um posicionamento oficial da Festa sobre o assunto e aguarda uma resposta.
Casa PublishNews
Na Casa PublishNews, os painéis do dia foram concorridos, mesmo com o calor que chegou a bater em 39ºC próximo ao meio-dia.
No painel Entraves e horizontes para o mercado do livro no Brasil, o secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura, Fabiano Piúba, compartilhou mais de uma novidade. Uma delas é que bibliotecas dos sistemas municipais e estaduais passarão a receber livros do PNLD Literário a partir de um decreto que deve ser assinado pela Presidência ainda neste ano. Também em 2023, deve ser assinado o decreto de regulamentação da Política Nacional da Leitura e Escrita (PNLE), a Lei 13.696 de 2018.
A diretora-executiva da Câmara Brasileira do Livro, Fernanda Garcia, compartilhou como a instituição vem agindo em termos de “advocacy”, como uma interface entre o setor editorial e o campo político. “Recebemos demandas o tempo todo, e ultimamente temos um consenso do mercado por exemplo em relação à Lei Cortez. Estamos em Brasília frequentemente. São mais de 600 projetos monitorados”, falou.
“A gente tem a missão de tornar o Brasil um país de leitores”, concluiu. O livreiro e editor Alexandre Martins Fontes compartilhou suas ideias expressas no “Manifesto em favor das livrarias” e voltou a ressaltar a importância da Lei Cortez.
“Não há uma livraria capaz de expor toda a sua produção editorial. Todas as livrarias fazem escolhas, baseadas em alguns critérios, é o trabalho de uma loja. Hoje, uma editora tem obrigação de vender os seus livros no e-commerce. O que não pode acontecer é que a editora estabeleça um preço de capa, e venda o livro mais barato no seu site. É constrangedor eu ter que falar isso. Mas infelizmente isso é o mais comum que vem acontecendo atualmente. Quando isso acontece, não precisamos mais falar de Lei Cortez, nem de atuação do poder público nesse sentido, porque nós estamos nos destruindo”.
A economista Mariana Bueno, da Nielsen BookData, compartilhou parte de suas reflexões sobre as restrições estruturais da demanda por leitura no Brasil, que se relacionam diretamente com a estagnação e as quedas do setor editorial ano após ano. “No país, temos pessoas que não são leitoras, ou seja, não são nem parte da demanda para o mercado editorial. Por mais que o mercado editorial queira buscar essas pessoas, elas não tem capacidade leitora. Para isso, sim, a gente precisa de políticas de estado para formação de leitores”, explicou – para ela, a economia do livro tem um efeito multiplicador e uma relação direta com o desenvolvimento econômico e social do país.
Literatura e formas breves
O dia começou com um café da manhã promovido pela Editora Benvirá, seguido por um papo com a psiquiatra Maria Clara Silveira, conhecida como @psiqclara, que vai lançar um livro pela editora no ano que vem. Em seguida, Luís Henrique Pellanda (jornalista, músico e autor de O caçador chegou tarde, Maralto) e Maurício de Almeida (antropólogo e autor de Equatoriais, Maralto) conversaram sobre seus livros e as formas breves na literatura. Pellanda, natural de Curitiba (PR), contou como uma possível ausência de Dalton Trevisan, o contista maior da cidade (e possivelmente do Brasil), hoje aos 98 anos, pode desencadear uma série de acontecimentos imprevisíveis.
À tarde, os filhos do escritor João Carlos Marinho, Beto Furquim e Cecília Furquim, conversaram com Gustavo Tuna, do Grupo Editorial Global, sobre a edição de As joias desaparecidas, livro inédito do saudoso autor de literatura infantojuvenil. Uma leitora se emocionou durante a sessão: "Essa é a mesa mais importante de toda a Flip para mim. João Carlos Marinho é o motivo de eu ter me tornado leitora", disse.
Mais tarde, os temas se concentraram em assuntos estruturais do mercado editorial.
Eva-Maria Kretschmer (PoD Product Manager da Bookwire Alemanha) compartilhou os meandros do mercado editorial alemão e comentou, junto com o PoD Manager da Bookwire Brasil, Simei Júnior, paralelos e diferenças com o mercado de impressão sob demanda no Brasil.
Simei explicou que parte do seu trabalho é adaptar os processos europeus da empresa para o contexto brasileiro, “tropicalizando” os tópicos. “Aproveitamos muito a tecnologia que já desenvolvida por lá, mas por exemplo, na primeira versão, precisamos readaptar o sistema para ele calcular custos da orelha, porque na Alemanhã não tem”, explicou.
Ele compartilhou que a empresa vem desenvolvendo uma solução de PoD internacional, que vai poder atender pedidos em outros países para livros brasileiros. O desenvolvimento da ferramenta está avançado e a previsão é que ela comece a operar em algum momento de 2024.
Autopublicação
Autores e autoras da editora Labrador compartilharam suas experiências com a autopublicação, elogiando o modelo de autopublicação premium da casa. “Todo mundo sabe como é difícil enviar manuscritos para editoras tradicionais, as respostas demoram. Quero isso mesmo? Não ter autonomia nenhuma. Pensei em autopublicação, e uma pesquisa básica mostrava editoras com muitos problemas. Produto pago que não recebeu, sem qualidade. Fechei então com a Labrador, e a experiência foi ótima”, explicou Gisele Garcia, dramaturga e autora de Toada da terra de lá.
A mediadora Vanessa Passos ainda deu uma dica para os autores nessa situação. “É preciso entender que o livro não precisa ser lançado uma única vez. Promover eventos, rodas de conversa, é um movimento muito rico. Isso sendo feito no espaço da livraria ‘obriga’ o livreiro a trazer seu livro para frente. Todos podem organizar estrategicamente uma turnê”, comentou.
Audiolivros
O dia terminou com uma mesa sobre o mercado de audiolivros no Brasil e a chegada da Audible no país. “Novas obras já estão sendo adicionadas, e estamos expandindo negociações com as editoras. Temos demanda e consumo acima do esperado”, disse Adriana Alcântara, diretora-geral da Audible no Brasil, sobre os primeiros 45 dias de atividades da plataforma no país.
A coordenadora comercial da Planeta do Brasil, Cinthya Müller, deu dicas para as editoras se destacarem no ambiente digital. “Metadados impecáveis: não existe outra forma de mostrar a qualidade do produto digital que não seja essa”, explicou. “Outra coisa é cadastrar a pré-venda ao mesmo tempo, do livro físico e digital. E por fim, quem vende mais são os autores mais dedicados”, explicou.