Fernando Rinaldi nasceu em São Paulo (SP), é formado em Relações Internacionais (PUC-SP) e Letras (USP), e atualmente é mestrando pelo Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da FFLCH-USP. Desde 2016, trabalha na editora Companhia das Letras com o licenciamento de obras nacionais para tradução e para adaptação a outros formatos.
Na primeira história do livro, acompanhamos Hélio, psicanalista de meia-idade, escrevendo um diário alguns dias após a morte do filho. O personagem também se debruça sobre uma ficção – a princípio uma encomenda sobre a realidade brasileira que acaba se transformando na história de Eitor, um jovem que foi criado sem pai e que está em busca da própria identidade.
Na segunda narrativa, Heitor conta eventos marcantes de sua vida a partir dos seus sete anos, rememorando as descobertas do corpo, do sexo, e a consciência da morte. A certa altura, ele precisa desistir da invenção dos seus anos de formação e passa a narrar a história de Élio, que, em 1997, vai a um colóquio em Paris e descobre outras formas de desejo, enquanto sua esposa passa por dificuldades na gravidez do primeiro filho.
Temos, de um lado, um pai que perde um filho. De outro, um filho cujo pai não deixa marca alguma em sua vida e não se apresenta a ele senão como pura falta. Lidando com suas ausências, pai e filho escrevem sobre si e ficcionalizam o outro, de modo que são tanto narradores de si quanto personagens do outro.
Com essas duas vozes distintas, que acabam se transformando em quatro registros, o romance trata das possibilidades da expressão artística e da força da palavra escrita diante de relações interpessoais fraturadas. Para o escritor Julián Fuks, trata-se de “uma obra singular e intensa, carregada de momentos vívidos, atravessada de afetos, sexo, luto”.
O romance apresenta figuras femininas que despontam no quebra-cabeça das ausências dessas histórias sobrepostas e explora elementos artísticos – como música, teatro e a própria literatura – para a construção psíquica dos personagens. Em histórias marcadas por deslocamentos, busca por identidade e encontros homoafetivos, Fernando Rinaldi propõe uma investigação sobre o desejo e a tentativa de dar forma às ausências por meio da linguagem.