
Autora de Nomad Century: How climate migration will reshape our world (Flatiron Books), ainda sem tradução no Brasil, a jornalista resumiu de maneira franca – e portanto assustadora – o quadro climático em que já estamos inseridos enquanto humanidade.
“Esse ano não foi nada prazeroso, é o mais quente da história. Vimos fazer 50ºC em vários continentes, temos o superaquecimento de mares, secas prolongadas com efeitos trágicos, que exacerbam conflitos violentos e causam fome. A temporada de efeitos climáticos vai começar agora no Sul global. Todo mundo está sentindo os efeitos dessa crise, seja financeiramente ou de outras formas. Precisamos enfrentar essa missão, e sinto que finalmente os líderes estão pensando nesse sentido. E precisamos ser realistas: como vamos nos adaptar? Nenhum país está fazendo isso atualmente”, falou.
A jornalista fez uma defesa veemente da necessidade de planejar e preparar grandes migrações, movimento que ela enxerga como não apenas recomendável, mas fundamental para salvar a humanidade e o planeta.
“Eventos climáticos se tornarão mais frequentes e mais severos, ao mesmo tempo e em diversos locais. Isso enfraquece o ânimo das pessoas. No ano passado, 33 milhões de pessoas foram deslocadas no Paquistão”, explicou.
Na sua visão, as pessoas vão precisar se mudar para o “Norte”, por uma questão de habitabilidade.
“As mudanças climáticas são uma ameaça para a nossa espécie. Mas podemos sobreviver. Será necessária uma migração de um tamanho que nunca foi visto pela humanidade. Se trata da mudança não apenas de pessoas, mas de capital, de recursos, de indústria, de agricultura. É uma disrupção, mas também uma oportunidade. A migração bem planejada enriquece as sociedades. Providencia trabalho onde é preciso, sem contar as contribuições culturais. As economias são estimuladas por imigrantes”, afirmou.
Ela relatou ainda como o conceito de fronteiras e países é relativamente recente na história da humanidade. “Apenas recentemente deixamos de aceitar quem chega para trabalhar. Isso é incompatível com a realidade da mudança climática. A escala dos nossos problemas demanda uma resposta dinâmica. Precisamos pensar em uma comunidade global, pan-espécie, sobre onde a riqueza é distribuída. Até onde vão os limites das fronteiras?”, questionou.
Gaia Vince foi a primeira autora a falar nas cerimônias do dia. Ainda nesta terça-feira (17), a solenidade de abertura oficial da Feira do Livro de Frankfurt vai receber a presidente da Eslovênia, Nataša Pirc Musar, além da ministra da Cultura alemã, Claudia Roth, e talvez a intervenção mais esperada do dia: a do filósofo esloveno Slavoj Žižek.