Crescimento das livrarias virtuais começou no mercado editorial brasileiro antes da pandemia, aponta relatório
PublishNews, Guilherme Sobota, 29/08/2023
Paper divulgado pela Nielsen mostra como o salto vertiginoso da participação das livrarias exclusivamente virtuais no faturamento das editoras foi catalisado no período pandêmico

Paper da Nielsen analisa os resultados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro | © Nielsen
Paper da Nielsen analisa os resultados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro | © Nielsen
A grande novidade da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro – divulgada em maio por SNEL e Nielsen – era o fato de que as chamadas livrarias exclusivamente virtuais passaram a ser o principal canal de vendas de livros no país. Há pelo menos três anos, a Nielsen divulga um “paper” analisando os resultados. O deste ano, divulgado com exclusividade pelo PublishNews nesta terça-feira (29), aponta que essa mudança foi sim catalisada pelo período da pandemia, mas já havia se iniciado antes, com a crise das grandes redes de livrarias a partir de 2018.

Até porque o salto – vertiginoso – se inicia com os números já de 2019, que apontavam um crescimento de 300% neste canal de vendas. Ou seja, em 2018, as livrarias exclusivamente virtuais representavam 3,4% do faturamento das editoras segundo a PeV. Em 2019, esse número era de 12,7%, e em 2020, 24,8%.

Números da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro | © SNEL e Nielsen Book
Números da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro | © SNEL e Nielsen Book
“O período de pandemia tem forte impacto na indústria do livro e transforma a relação entre editoras e canais de distribuição, mas no caso brasileiro é interessante perceber que essa transformação já havia sido iniciada com a crise das duas maiores grandes redes de livrarias do país”, afirma o relatório. “É claro que não é possível afirmar que sem a ocorrência da crise causada pelo Covid-19 o resultado seria exatamente este, possivelmente não. Contudo, a crise das grandes redes obrigou as editoras a encontrarem outros meios para escoar a produção, consequentemente impulsionando alguns canais que não tinham presença tão significativa no ranking de participação no faturamento da indústria, o caso mais evidente é, sem dúvida, Livrarias Exclusivamente Virtuais”.

Segundo a análise, mesmo com o recuo de 2,6% em termos reais no faturamento do setor no ano, é preciso levar em conta o contexto. “À primeira vista o resultado pode parecer mais negativo do que efetivamente é, não só pelo comportamento distinto de cada um dos subsetores, mas também pelo alto grau de incerteza do período, além da crise econômica enfrentada pelo país desde meados da última década”, diz o texto.

A crise econômica é apontada pelos indicadores no relatório: “Apesar de apresentar alta, a variação do PIB permaneceu tímida, ficando em 2,9% em 2022. O índice de desemprego no país seguiu num patamar elevado, mesmo com a redução na taxa média de desemprego, que passou de 13,2%, registrado em 2021, para 9,3%. O endividamento das famílias apresentou alta de 7% em relação ao período anterior, fechando o ano com o número de recorde de 77,9% das famílias brasileiras endividadas”.

“Todos esses fatores geram impacto negativo no poder de compra e consequentemente na capacidade de consumo das famílias”, afirma o texto.

Subsetores

O relatório também analisa a novidade em relação a cada subsetor – o impacto das vendas virtuais varia entre eles.

Entre os livros didáticos, o canal de vendas que apresentou maior variação positiva foi Escolas e Colégios, “a principal alternativa encontrada por esse subsetor para driblar a crise das grandes redes de livrarias e a pandemia”.

As livrarias exclusivamente virtuais já correspondem a 50% do faturamento de editoras de obras gerais, o maior índice entre os subsetores. “De 2019 a 2022 Livrarias Exclusivamente Virtuais apresentam crescimento de 37 pontos percentuais na participação do faturamento das editoras de Obras Gerais”, aponta o relatório.

“É no subsetor de Religiosos que o canal Livrarias apresenta recuperação e alcança patamares ainda mais elevados que no período anterior à pandemia”, diz a Nielsen. “Livrarias Exclusivamente Virtuais apresenta crescimento significativo neste período e, ao que tudo indica, passa ocupar o espaço de porta-a-porta e catálogo, que apresenta queda substantiva desde 2020 e, segundo o mercado, sem expectativas de que volte ter no faturamento das editoras o grau de importância pré-pandemia”

Para o subsetor de CTP (Científicos, técnicos e profissionais), com números não muito animadores no cenário geral, a Nielsen aponta o crescimento dos canais on-line – livrarias exclusivamente virtuais e também sites próprios e marketplaces –, que já representam 53,5% do faturamento das editoras.

Clique aqui para ler o paper na íntegra.

[29/08/2023 09:10:00]