Uma margem invisível entre dois mundos
PublishNews, Redação, 03/07/2023
Louise, surda oralizada desde os cinco anos, precisa preencher as lacunas provocadas por uma deficiência auditiva, atravessando o que descreve como “ondas movediças do silêncio”

Em Águas-vivas não têm ouvidos (Fósforo, 200 pp, R$ 69,90 – Trad.: Flavia Lago), os vestígios das palavras se transformam em presença, e da fantasia da protagonista emergem figuras que acompanham seus percalços para se ajustar às expectativas de um mundo que não a reconhece. Louise F. habita uma margem invisível entre dois mundos. Surda oralizada, desde os cinco anos precisa preencher as lacunas provocadas por uma deficiência auditiva, atravessando o que descreve como “ondas movediças do silêncio”. As horas que passou treinando leitura labial, interpretando, deduzindo e reconhecendo sons esparsos fizeram com que ela transitasse no mundo dos ouvintes, mas sem deixar de sentir as dificuldades próprias das pessoas com surdez. A falta de contornos não é limitadora, ao contrário, a partir da ambivalência da personagem, Adèle Rosenfeld constrói uma narrativa delicada e imaginativa, que oferece novas miradas sobre a realidade de Louise, que é também a sua.

Tags: Fósforo, romance
[03/07/2023 07:00:00]