O que estou lendo: Jéssica Balbino
PublishNews, Beatriz Sardinha, 07/08/2025
Escritora lançou livro 'Porca gorda' na Flip e participa da programação da Flipei, no sábado (9)

A escritora Jéssica Balbino lançou o livro autoficcional Porca gorda (Barraco Editorial) na Casa Queer, durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Na obra, ela debate gordofobia através de uma escrita combativa "em que cada palavra escorre com desejo, fúria, escárnio, dor e memória", buscando combater estigmas em torno do tema.

Jéssica é curadora da Festa Literária Pirata das Livrarias Independentes (Flipei) e colunista do jornal O Estado de Minas. No sábado (9), ela estará também na mediação do painel Mesa pelas margens: literatura de encruzilhada, na Flipei, junto de Wesley Barbosa e Lilia Guerra e Alessandro Buzo.

O PublishNews perguntou a Jéssica Balbino o que ela está lendo e esta foi a resposta:

"Nas últimas semanas me peguei atravessada por quatro livros que me empurraram pra esse lugar incômodo e necessário da leitura. Comecei por Batida só (Todavia), da Giovana Madalosso, que escreve como quem abre uma janela num prédio em chamas. É um livro que conta a história de Maria João e Nico, uma mulher que enfrenta uma doença no coração e não pode se emocionar e uma criança com câncer. Ambos em busca da cura, numa viagem cinematográfica a uma cidade de cura. Mistura amor, obsessão, fé, arte e prazer. Um romance que pergunta até onde a gente vai pelo desejo – e até onde o desejo vai pela gente.

Em seguida, reli em Um céu para os bastardos (Todavia), da Lilia Guerra, e fui levada por uma São Paulo de becos, sobras e filhos não reconhecidos pelo sistema. É um livro que não tem medo de ser marginal — no melhor sentido da palavra. As personagens de Lilia estão à margem, mas brilham feito estrela cadente, rasgando o céu de quem ainda insiste em ignorar o que pulsa do lado de fora. Em tempos de luta pelo fim da escala 6x1, é um livro urgente.

Na sequência, me joguei na estrada com Jamil Chade em Tomara que você seja deportado (Nós), e, olha… não tem como sair ilesa. É uma viagem pela distopia americana que, no fundo, é também nossa, é de todos nós que já fomos barrados, silenciados, invisibilizados. Um relato corajoso sobre fronteiras — as de verdade e as simbólicas — e sobre como a máquina de moer gente funciona com perfeição onde o capital reina.

Pra fechar, li Permanecer bárbaro: não brancos contra o império (Autônomia Literária), de Louisa Yousif, que é tipo um soco no meio do peito e um afago na alma ao mesmo tempo. Um manifesto que não baixa a cabeça, não modera o tom, não pede licença. Louisa escreve como quem dança no campo de batalha, com fúria, beleza e lucidez. É um livro que lembra a importância de continuar sendo mesmo quando tudo em volta exige silêncio.

Esses quatro livros me pegaram pela mão e me disseram: continua. Escreve. Lê. Sente. Se for pra resistir, que seja com literatura. Se for pra cair, que seja com os olhos abertos e o livro ainda na mão".

[07/08/2025 11:20:20]