Mais uma vez o livro fez uma bonita história em 2022
PublishNews, Vitor Tavares*, 23/12/2022
Vitor Tavares, presidente da CBL, faz um resumo dos principais projetos e conquistas da entidade no ano de 2022

Às vezes parece ser contraditório dizer que o Brasil é um país de não leitores. Não, não há como negar uma realidade conhecida de todos nós e comprovada pelos números da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, em 2019. A sondagem mostra que no intervalo de uma edição da pesquisa à outra, ou seja, de 2015, data da penúltima edição, para 2019, o país perdeu 4,6 milhões de leitores.

Falta de tempo ou o uso desse tempo livre para outras atividades como assistir TV ou navegar em redes sociais são algumas das justificativas para a queda no número de pessoas que têm o hábito de ler.

E, mesmo assim, o livro faz história. Nossa expectativa é de que o ano que se encerra possa fechar o ciclo de três anos de pandemia. Neste 2022, os números da Covid-19 foram mais brandos, a maioria da população está vacinada, e isso nos possibilitou a retomada dos eventos presenciais de forma mais consistente, como tínhamos até 2019.

A 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, por exemplo, voltou com força e foi batizada de “A Bienal das Bienais”. Após uma espera de três anos, já que em 2020 não foi possível realizar o evento por causa da pandemia, a Bienal deste ano foi especial. Os 660 mil visitantes deram a esta edição um crescimento de 10% em relação à de 2018, última vez que a Bienal do Livro foi realizada antes da propagação do coronavírus.

Em 2022, o mercado livreiro do Brasil voltou a marcar posição lá fora. A Feira de Frankfurt, uma das mais importantes do mundo no segmento, realizada em outubro, teve a participação de 21 editoras brasileiras, levadas por meio de uma parceria entre a Brazilian Publishers, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

Em volume de negócios, somente na feira, foram US$ 928 mil. Além de Frankfurt, o Brasil esteve presente em mais seis feiras internacionais, como a de Bolonha, Buenos Aires, Bogotá, Gotemburgo, Londres e Guadalajara.

Ao final dos trabalhos em Frankfurt, a cadeia do livro se reuniu para três dias de intensos debates sobre assuntos de interesse de todos os atores envolvidos desde a produção à venda do livro. Editores, livreiros distribuidores e gráficos puderam expor seus maiores desafios e pensar em soluções durante o Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos, realizado em Campinas. O evento reuniu mais de 270 participantes e contou com 40 palestrantes que falaram sobre os mais relevantes temas da atualidade.

Em novembro, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) foi à Indonésia receber o prêmio Innovation Awards, da International Publishers Association (IPA). O projeto Conexão Livraria, idealizado para que pequenos livreiros tenham acesso a grande estrutura de venda online, foi considerado uma inovação por colocar as pequenas livrarias no ambiente de e-commerce de venda de livros, fortalecendo as livrarias físicas, que desta forma têm a possibilidade ampliar sua área de atuação.

Dias depois, veio a Feira Literária Internacional de Paraty, e a CBL estava lá, discutindo o futuro do mercado livreiro e os atuais desafios do segmento.

Também avançamos na trincheira política. Antes do primeiro turno das eleições, a CBL e outras entidades parceiras na defesa do livro entregaram uma Carta Aberta aos candidatos e candidatas à Presidência da República, reivindicando, entre outras coisas, a garantia da manutenção da imunidade tributária ao livro e a criação de políticas de acesso à leitura, como a implantação do PNLL (Plano Nacional do Livro e Leitura) e de garantia de aquisição de livros para os alunos de todo o país. O livro precisa ter mais destaque no planejamento de políticas públicas e parte do nosso trabalho é atuar para conseguir ampliar seu protagonismo.

A CBL também atuou na defesa do mercado de livrarias. Afetadas pela pandemia nos últimos dois anos, elas representam uma significativa força de vendas e, segundo a pesquisa “Retratos da Leitura”, são a principal porta de acesso aos livros para 41% dos entrevistados. Além disso, elas representam oportunidade para geração de empregos e fomentam a bibliodiversidade em nosso país.

Também trabalhamos arduamente junto aos congressistas pela aprovação da Lei Cortez, que institui a Política Nacional do Livro e o equilíbrio de preços em todos os seus formatos.

Em paralelo a todos esses eventos e ações, o caminho para o Prêmio Jabuti ia sendo pavimentado para a entrega da premiação no dia da cerimônia. O evento deste ano também foi muito especial. O Prêmio Jabuti voltou a ser presencial, teve recorde de inscritos, com mais de 4.200 obras e foi realizado no Theatro Municipal de São Paulo, em homenagem ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, que também ocorreu no Municipal.

O mercado do livro tem tudo para se fortalecer nos caminhos que estamos trilhando. Para 2023, mais avanços: teremos a primeira brasileira à frente da International Publishers Association (IPA). A ex-presidente da CBL Karine Pansa foi eleita para o próximo biênio e assume a presidência da IPA em janeiro. O Brasil estará a frente da maior organização internacional do livro.

Com foco na manutenção da liberdade de expressão, a CBL passou a integrar o Wexfo (World Expression Forum), o maior fórum em defesa da liberdade de expressão, composto por 71 membros ao redor do mundo. Seguimos na defesa dos principais objetivos do mercado editorial e livreiro, como a defesa dos direitos autorais, da propriedade intelectual, a ampliação e o fortalecimento do hábito da leitura, o fortalecimento das livrarias físicas, o desenvolvimento do setor e a defesa do livro em todas as suas vertentes.

Enfim, são boas as perspectivas para o segmento, mas continuamos com muito trabalho pela frente.


* Vitor Tavares é presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Iniciou sua atuação no mercado editorial aos 17 anos na Editora Vozes de São Paulo, onde fez carreira. Em 1992, junto com um grupo de empresários do Setor e com o apoio da direção da Edições Loyola, inaugurou a Distribuidora & Livraria Loyola. Foi Diretor e Presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL) por dois mandatos, além de membro da Comissão em defesa do Livro, Leitura e Literatura. Conferencista em encontros organizados pelo Cerlalc sobre livros e livrarias, em São Paulo (Brasil), Bogotá (Colômbia) e México. Diretor e vice-presidente da CBL por cinco gestões. Bacharel em Administração de empresas com ênfase em Recursos Humanos - PUC-SP. Diretor geral da Distribuidora Loyola desde fevereiro de 2016.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PublishNews.

[23/12/2022 10:30:00]