10 livros de Raimundo Carrero
PublishNews, Redação, 20/12/2022
Escritor pernambucano completa 75 anos como um dos grandes faróis e agitadores da literatura brasileira

Raimundo Carrero | © Divulgação/Sesc TV
Raimundo Carrero | © Divulgação/Sesc TV
Raimundo Carrero! O escritor pernambucano completou 75 anos nesta terça-feira (20), e segue ativo como sempre: um dos maiores formadores de escritores do país, com suas oficinas de escrita criativa desde 1990 e atualmente colaborador em diversas empreitadas, o autor lançou recentemente o livro A luta verbal, uma reedição em que repassa seus conceitos do fazer literário, lançada pela Iluminuras – editora que trabalha com a maior parte da sua obra atualmente.

"Os problemas sociais no Brasil se avolumaram de tal maneira que se tornou necessário criar uma estética que saísse do campo da beleza tradicional. A fome é urgente e reclama ação imediata. Daí o manifesto literário que o livro comporta", explicou o autor em entrevista ao Jornal do Comércio.

Para celebrar a data, o PublishNews selecionou 10 livros do incontornável autor:

  • Sombra severa (Iluminuras; edição original: 1986)

Sombra severa retoma a forte tradição do regionalismo, essa grande escola literária que o Brasil produziu. Embora sem conseguir esconder o sotaque, o romance de Carrero se filia a essa tendência exatamente por levar ainda mais adiante a simplificação e o despojamento que caracterizam o regionalismo, em oposição ao beletrismo vigente quando de sua aparição.

  • Viagem no ventre da baleia (Fundarpe, 1987)

Espécie de autobiografia imaginada, o livro rendeu ao escritor a distinção de Revelação do Ano no Prêmio Oswald de Andrade, no Rio Grande do Sul.

  • As sombrias ruínas da alma (Iluminuras; edição original 1995)

Nesta obra de Raimundo Carrero, reencontramos uma escrita cuja qualidade maior, além da literária, está em não fazer concessões, Nem ao leitor nem ao mercado. Recuperando uma dicção próxima a de Dostoievski e Kafka, e em que a confrontação com o Mal parece ser vital para a constituição de sua obra, o autor revela suas nuances mais emblemáticas no presente romance.

  • O amor não tem bons sentimentos (Iluminuras; edição original: 2007)

Este é um romance sobre a loucura. E conta a história de Matheus, um músico desencantado, que resolve matar a mãe, Dolores, e a irmã, Biba, porque elas são lindas e silenciosas. Mas não assume o crime e chega a imaginar que está delirando, mesmo depois de morto, porque acredita que foi assassinado pela mãe, num momento de profunda confusão mental. Amante generoso, nem sempre lúcido. Raimundo Carrero revela um personagem denso, às vezes cruel, às vezes lírico, possuído de um lirismo comovente, um lirismo brutal, de quem ama com arrebatamento e sem controle, capaz de ver em Biba o seu peixinho dourado, assim como descarrega a sua paixão desmedida sobre a menina e sobre a mãe.

  • A minha alma é irmã de Deus (Record, 2009)

Camila é uma jovem que quer ser santa para desfilar no exército das onze mil virgens do Paraíso. Numa tarde de domingo no Recife, conhece a seita Os Soldados da Pátria por Cristo por meio de seu criador, o pastor-músico Leonardo, que passa o dia tocando saxofone pelas calçadas. Juntos, os dois proclamam as maravilhas religiosas em meio à miséria, à bebida e ao misticismo. Seguem uma vida errante, até que o pastor desaparece e a mulher se transforma em lixo social, dormindo nos detritos, sem roupa e sem ter com que se cobrir, a não ser papéis e papelões nas ruas. Envolvida num misterioso sequestro, Camila implora ao pai que pague o resgate imediatamente para que ela possa subir aos céus, ao mesmo tempo que vaga pelas ruas da cidade, ao lado de Leonardo, que bebe em bares e barracas, enquanto ela brinca de bonecas e carrinhos de corrida, sentada no meio-fio. A metáfora de uma geração que precisa sobreviver, mas não encontra empregos nem ajuda, e tem que lutar sozinha para alcançar alguma posição social.

  • Tangolomango (Record, 2013)

Tia Guilhermina conhece, em sua trajetória de vida e de sonhos, todos os caminhos que formam e estruturam um povo. É possível que o leitor não se dê conta desta reflexão, cabendo a ele, sobretudo, seguir a festa e a solidão desta personagem extraordinária em cuja trajetória percebe-se asperezas e agitações que constroem a condição e a contradição humana.

  • Condenados à vida (Cepe, 2018)

Grande vencedor do IV Prêmio Pernambuco de Literatura, o livro apresenta um aspirante a escritor que ao conduzir sua narrativa se envolve cada vez mais, passando a viver a história, numa mistura de ficção e realidade. O livro, com elementos fantásticos e muita autoironia, brinca com os clichês dos romances policiais noir em um jogo metanarrativo com a própria estrutura do gênero, pondo em discussão o processo de criação e os limites entre o real e o ficcional.

  • Colégio de Freiras (Iluminuras, 2019)

Esta novela denuncia o tratamento cruel que sofriam — e ainda sofrem — as jovens brasileiras que amam o sexo, e conta a história de Vânia, que é condenada sem julgamento ou processo legal a viver numa Colônia penal do Recife porque perdeu a virgindade sendo então considerada a vergonha da família. O escritor Raimundo Carrero faz, assim, uma forte e definitiva crítica à sociedade pela maneira grosseira como trata a questão da mulher moderna e contemporânea.

  • Estão matando os meninos (Iluminuras, 2020)

“Não posso silenciar diante deste revoltante genocídio que se abate sobre o Brasil, com o assassinato de meninos e meninas, diariamente, em cidades e localidades onde são realizadas operações policiais em combate com traficantes e bandidos de toda ordem, dizem eles, atingindo, em geral, crianças que vão ou voltam das escolas. (...) Neste livro dou continuidade às “Cartas ao Mundo”, iniciadas no livro As sombrias ruínas da alma, ganhador do Prêmio Jabuti, onde aparecem as três primeiras, que explicitam a minha determinação de denunciar sempre as crescentes injustiças e agressões sociais no Brasil.”

  • A luta verbal (Iluminuras, 2022)

Este livro é um manifesto literário que se define como um grito de dor contra a fome, a miséria, o racismo, a discriminação e o preconceito de toda ordem, unindo a um só tempo a técnica e a expressão literária popular. É também uma proposta pedagógica destinada a levar a rua para dentro da sala de aula através de obras de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Marcelino Freire, Itamar Vieira Júnior, Jeferson Tenório, Sidney Rocha, Ney Anderson, Lima Barreto, Nivaldo Tenório, Cícero Belmar... escritores rebeldes em permanente confronto com a agressiva e violenta realidade brasileira. A Luta verbal é a segunda edição do livro A preparação do escritor, publicado em 2007, acrescido deste ensaio que enriquece o estudo da literatura brasileira.

[20/12/2022 18:00:00]