
No final dos anos 1960, o então jovem carioca pegou em armas para resistir à ditadura militar, ingressando na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), comandada por Carlos Lamarca. Após o cerco do regime apertar, ele saiu para o exílio, onde atuou como jornalista no diário Libération, em cuja redação conheceu Simone de Beauvoir e Jean Paul Sarte, que dirigia o jornal. Em 1973, quando Salvador Allende sofreu o golpe que daria início ao sangrento governo ditatorial de Pinochet, ele era correspondente no Chile. Mais uma vez, Alfredo precisou fugir. Depois de um ano em Buenos Aires, ele seguiu rumo a Portugal. E voltou ao Brasil apenas no final 1979, após a Lei da Anistia.
Até o fim da sua vida, 41 anos mais tarde, além de ter sido um dos fundadores do Partido Verde brasileiro, ele atuou como roteirista, político, ativista ambiental e escritor, tendo recebido o prêmio Jabuti pelo romance Os carbonários (1980), no qual relembrava seus dias como guerrilheiro na clandestinidade. É essa rica trajetória que a fotobiografia reconta, em edição bilíngue — português e inglês —, com imagens raras de acervos e de arquivo de família, em um retrato construído a partir do processo de luto de Borelli, que transforma a obra na despedida que não pôde dar ao marido, morto em um acidente de carro em 2020.
“É um livro fotobiográfico que registra a memória do grande ambientalista, que dedicou 52 dos quase 70 anos de vida à luta pelos direitos humanos, liberdade, igualdade, meio ambiente, sustentabilidade e mudanças climáticas”, resume Borelli, em texto introdutório. “Através desse trabalho de organização de seu acervo e edição da publicação pude, a cada dia, dizer: até breve, amor. E relembrar cada momento vivido, dividido, das causas em que militava, das vitórias que conquistava, do tanto que ele realizou, e das muitas batalhas que travou por um Brasil melhor. Essa foi a maneira que encontrei de viver o meu luto.”
Em suas 436 páginas, com textos de Roberto Ainbinder e Pedro Nogh, entre outros, “Alfredo Sirkis — Para você saber de mim” relembra uma grande figura brasileira e apresenta às novas gerações um homem que se dedicou sempre a buscar construir um país mais justo e um mundo que cuidasse de si mesmo, preservando sua natureza e toda a sua biodiversidade. “Fica a mensagem de que tudo vale a pena quando agimos com o coração. Essa era a sua bandeira e com ela sigo”, resume Borelli.