Em 1911, uma escritora francesa desembarcou na então capital federal e mudou, sem saber, a forma como o mundo se referiria ao Rio de Janeiro. Jane Catulle Mendès — figura proeminente da cena literária parisiense e viúva do poeta parnasiano Catulle Mendès — quem chamou o Rio de “Cidade Maravilhosa”, impressionada com o pôr do sol visto da Baía de Guanabara. E foi também quem espalhou esse apelido pelo mundo.

Mais de um século depois, essa história quase apagada foi resgatada pelo jornalista Rafael Sento Sé nas páginas de A poeta da Cidade Maravilhosa (Autêntica, 224 páginas, R$ 69,80). Resultado de 13 anos de pesquisa em jornais, cartas e arquivos de bibliotecas até no exterior, a obra restitui à autora francesa o crédito pela criação do epíteto que se tornou uma das marcas mais reconhecidas da identidade carioca e revela histórias de como foi a sua passagem pelos trópicos.

"A leitura desse livro abre uma oportunidade para que todos os apaixonados pelo Rio conheçam os bastidores de uma viagem ocorrida há mais de cem anos e de enorme valor simbólico para a cidade, vivida por uma escritora que acabou completamente apagada da história. A obra faz esse duplo resgate: o de um capítulo pouco conhecido da memória carioca e o de Jane Catulle Mendès, uma autora que integrou uma geração de escritoras francesas talentosas e que, ao vir ao Rio, encontrou também mulheres brasileiras igualmente notáveis, mas esquecidas", afirma Rafael ao PublishNews.

Os dois primeiros lançamentos já estão marcados: No próximo sábado (1), a partir das 17h, o autor vai conversar com o público e autografar exemplares na Livraria da Travessa de Ipanema (Rua Visconde de Pirajá, 572 - Rio de Janeiro / RJ); e na terça que vem (4), às 19h, na Livraria Platô (Asa Sul CLS 405 - Bloco A, loja 12 - Brasília / DF).

“Com maestria literária e apoiado em notável pesquisa, Rafael Sento Sé nos oferece testemunhos da emancipação feminina nas primeiras décadas do século XX”, assinala a historiadora Mary Del Priore na orelha do volume. O livro traz ainda a tradução inédita dos 33 poemas do título La Ville Merveilleuse (publicado em Paris nos idos de 1913), que revelam o encantamento de Jane com a forma que foi rececida na cidade entre cartões postais, montanhas e praias deslumbrantes.

Nascida em 1867, Jane foi uma mulher de vanguarda: trabalhou em um jornal feito apenas por mulheres, conviveu com Sarah Bernhardt, Renoir e Jean Cocteau, e teve o filho Marcel Boussac, futuro financiador da Maison Dior. No Brasil, sua breve estada de três meses tornou-se um acontecimento cultural — com palestras, chá com jornalistas no Hotel dos Estrangeiros (num gesto precursor das coletivas de imprensa) e até caricaturas publicadas nos jornais da época sem a sua autorização.

Além de recuperar a trajetória de Jane, o livro ilumina a rede de mulheres com quem ela se relacionou no país, como Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), Gilka Machado (1893-1980), Leolinda Daltro (1859-1935) e Emília Moncorvo Bandeira de Mello (1852-1910), pioneiras também sujeitas a apagamentos históricos.