Apanhadão: a trajetória best-seller de Taylor Jenkins Reid
PublishNews, Redação, 10/10/2022
Folha entrevistou a autora do fenômeno editorial 'Os sete maridos de Evelyn Hugo'; Globo publicou matéria sobre a nova biografia dos Rolling Stones que escancara uma suposta bissexualidade de Mick Jagger

Taylor Jenkins Reid | © Divulgação
Taylor Jenkins Reid | © Divulgação
No noticiário sobre literatura e mercado editorial publicado durante o final de semana nos grandes jornais, chamou atenção a entrevista na Folha com Taylor Jenkins Reid, autora de Os sete maridos de Evelyn Hugo (Paralela), que é sucesso ao inventar atrizes de Hollywood e cantores de rock que parecem reais. Celebridades de mentira são protagonistas dos livros escritos pela autora americana. Lançado em 2017 e ainda entre os dez mais vendidos nos EUA, Os sete maridos de Evelyn Hugo é até agora o oitavo livro mais vendido do ano no Brasil, segundo a Lista do PublishNews. No ano passado, o título foi o terceiro mais vendido na categoria Ficção, com mais de 45 mil cópias comercializadas. Antes de escrever. Reid trabalhava com seleção de elenco em Hollywood. Ela gostava tanto de personagens que resolveu criar seus próprios, iniciando a carreira com Para sempre interrompido, em 2013. Na entrevista, Reid conta que a ideia para Evelyn Hugo surgiu quando leu um livro de memórias da atriz Ava Gardner. O livro vai virar filme produzido pela Netflix.

Na coluna Painel das Letras, Walter Porto Valter anunciou que o escritor e jornalista Maurício Stycer está escrevendo a biografia do Homem do Sapato Branco, o pai do jornalismo mundo cão na TV, o estilo que hoje consagra José Luiz Datena. O livro vai contar a vida de Jacinto Figueira Júnior, precursor desses programas sensacionalistas, e deve sair pela Todavia. A expressão “mundo cão”, aliás, foi popularizada pelo próprio apresentador que, nos anos 1960, inseriu na TV os programas que mostram a ação da polícia, clamam pela punição violenta dos criminosos e destilam preconceitos. Quando escreveu Topa tudo por dinheiro, biografia de Silvio Santos, Stycer viu claramente como Jacinto foi importante para Silvio, a ponto do empresário ter resgatado o apresentador como um dos pilares de sua programação popular no SBT na década de 1980.

O Globo deu destaque a Um crime bárbaro (Autêntica), livro de Ieda Magri, escritora catarinense, hoje professora de Teoria da Literatura nos programas de graduação e de pós-graduação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Seu quinto romance conta o assassino brutal de uma garota de 13 anos numa pequena cidade do sul do Brasil, em 1981. O trauma do crime se estende a narradora, que na época tinha quatro anos. Ela volta para a cidadezinha para escrever sobre a morte. Um crime bárbaro remete aos limites da própria literatura, discutindo a ficcionalização de crimes reais, exibindo franqueza da narradora ao falar de sua hesitação diante do livro e citando nomes como Virgínia Woolf, Ricardo Piglia e Gustave Flaubert ,em um livro que faz referências a romances antes mesmo de construir totalmente as bases da própria obra.

Outra notícia publicada no Globo carregou um evidente componente sensacionalista. Falou de The stone age: sixty years of Rolling Stones, biografia lançada pela escritora e jornalista britânica Leslie Ann Jones, quando a banda inglesa comemora agora 60 anos de estrada. As atenções da imprensa estão voltadas para Mick Jagger, vocalista dos Stones, que é apresentado pela autora como um "ícone bissexual". Entre outras “revelações”, ela fala que Jagger teria tido um caso com sua alma gêmea musical Keith Richards e com mais um integrante dos Stones, o guitarrista Mick Taylor, que fez parte da banda entre 1969 e 1974. Ela acrescenta outros famosos que teriam tido relações com Jagger, como o o ator Helmut Berger e o cantor David Bowie. Para embasar a lista, a escritora contou com depoimentos de ex-namoradas do cantor, entre elas a cantora Marianne Faithfull.

O Valor publicou uma tardia mas bem interessante entrevista com a escritora e tradutora Pilar Del Río, viúva do escritor português José Saramago (1922-2010). Ela esteve no Brasil há mais de um mês, lançando A intuição da ilha: os dias de José Saramago em Lanzarote (Companhia das Letras), que narra o cotidiano do escritor e seus encontros com amigos no lugar onde o casal escolheu para viver, uma ilha do arquipélago das Canárias. A entrevista toca em pontos relevantes da obra, como a atitude da autora de não falar de si mesma no livro, atuando como uma narradora invisível de conversas notáveis de Saramago com amigos como o cineasta italiano Bernardo Bertolucci e o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Pilar Del Río também discute o feminismo na obra do português, um tópico bem pouco explorado no estudo de seus livros.

O Valor também trouxe crítica de um livro que conta a história recente da África do Sul sob o olhar dos preconceitos de uma família branca. Vencedor do Booker Prize de 2021, A promessa (Record), do escritor sul-africano Damon Galgut, aborda medos ligados ao apartheid. No enredo, uma mulher branca deixa como herança a promessa de que uma casa nos arredores de Pretória seja doada à sua criada de uma vida inteira, Salomé. A herança é apenas uma promessa feita no leito de morte e não uma determinação testamentária, porque na época era proibido no país transmitir propriedades a pessoas negras. Antes de morrer, a mãe convence a filha mais nova a manter a promessa, mas o resto da família se opõe. Quatro décadas são retratadas em torno dessa disputa sobre o destino da propriedade.

O Estadão trouxe entrevista com Alexandre Rabelo, falando de seu livro Miss Macunaíma (Record), com foco em Mário de Andrade como gay e afrodescendente. Um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, Mário de Andrade passou por um processo de embranquecimento, da mesma forma que Machado de Assis teve sua origem miscigenada ocultada. Em Miss Macunaíma, uma espécie de romance epistolar recria o livro homônimo do escritor paulista. Alexandre Rabello busca criar uma voz para um Mário de Andrade liberto das amarras sociais do século passado, em que o escritor discute de forma direta, por meio de humor e de ironia, suas origens africanas e a sexualidade.

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[10/10/2022 10:00:00]