Apanhadão da semana: Herança de Carolina Maria de Jesus é caso judicial
PublishNews, Redação,19/08/2022
Netas da escritora confrontam tia na disputa pela remuneração da obra da avó, autora de, entre outros, 'Quarto de despejo' (1960), que tem traduções em 16 idiomas que já venderam 3 milhões de exemplares

Carolina Maria de Jesus | © Wikimedia Commons
Carolina Maria de Jesus | © Wikimedia Commons
No noticiário dedicado à literatura durante esta semana, surge uma polêmica fora das páginas escritas, revelada pelo G1: a herança de Carolina Maria de Jesus vira alvo de disputa. Quatro netas da escritora vão à Justiça para obter mais informações sobre o patrimônio da autora de, entre outras obras, Quarto de despejo (1960), atualmente publicado pela Somos. É uma das obras mais marcantes da literatura brasileira, que vendeu cerca de 3 milhões de livros traduzidos em 16 idiomas.

Carolina morreu em 1977, deixando dois herdeiros, os filhos Vera Eunice e José Carlos, pai das quatro mulheres que recorrem agora à Justiça. Com a morte de José Carlos, em 2016, a parte dele passou a ser depositada em juízo até a conclusão do seu inventário. O problema é que o processo foi paralisado, supostamente após as netas descobrirem que o inventário de Carolina não havia sido concluído. Elas afirmam que a tia, Vera Eunice, mentiu em juízo dizendo que a mãe não deixou nada de herança. A conclusão do caso deve demorar.

No Globo, Jeferson Tenório, autor do ganhador do Jabuti O avesso da pele (Companhia das Letras), publicou artigo motivado pelo atentado sofrido por Salman Rushdie. Segundo Tenório, a reação extrema a uma obra de arte reflete uma mudança de comportamento no que diz respeito à liberdade de expressão. “No Brasil, temos assistido já há alguns anos a casos de intolerância, censura e ameaças contra artistas e escritores, o que só comprova o quanto uma obra de arte exerce um papel importante na sociedade." O autor falou da necessidade de uma educação política que ajude a conviver com a divergência, para que um não trate o outro como inimigo ou queira o seu aniquilamento.

Na coluna de Lauro Jardim, também no Globo, está a informação que os versos de Paulo Leminski em Dor elegante, conhecidos nas vozes de Zélia Duncan Chico César, serão relançados na próxima semana numa versão da banda carioca Salvadores Dali. Seria só mais uma regravação, não fosse o vocalista do grupo ser Paulo Leminski Neto, músico de 54 anos que só descobriu aos 32 ser filho do poeta curitibano. A paternidade foi revelada na biografia O bandido que sabia latim, escrita por Toninho Vaz e lançada pela Record em 2001. Uma reedição do livro chega às livrarias em outubro pela Tordesilhas.

A Folha entrevistou nesta semana o desenhista Eddie Campbell, que falou sobre a HQ recém-lançada pela DarkSide, Palavras, magias e serpentes, obra que tem uma origem curiosa. A princípio, pode parecer mais uma colaboração entre Campbell e Alan Moore, este considerado por muitos o maior escritor de todos os tempos. Entre os clássicos escritos pelo britânico Moore, como Watchmen, V de Vingança ou Batman: a piada mortal, se destaca Do inferno, sua versão para a história de Jack, o Estripador, desenhada por Campbell. Mas o lançamento da DarkSide nunca foi um projeto de HQ para Moore. Adepto do ocultismo, o autor revelou em 1993 estudar magia a sério. Ele criou então performances em texto, para serem apresentadas com trilha sonora e outros recursos. Campbell pegou dois desses textos, Membrana fetal e Serpentes e escadas, e as transformou em HQ. Entre os temas tratados nas performances estão contracultura música, poesia, pintura, morte e crítica ao governo de Margaret Thatcher.

A Folha públicou também resenha de O funk na batida: baile, rua e parlamento, de Danilo Cymrot. O volume lançado pelas Edições Sesc propõe um olhar sobre um conjunto contraditório de eventos. Ao mesmo tempo que o funk brasileiro chega a uma consagração Internacional, com a ascensão de Anitta, trazendo dinheiro tanto a artistas marginalizados quanto para grandes corporações, segue uma repressão contínua que tem o funk como alvo, ilustrada em muitos exemplos no livro, como as prisões dos organizadores do Baile da Gaiola, no Rio, ou os nove jovens que morreram pisoteados numa ação policial em um baile funk de Paraisópolis, em São Paulo.

Também na Folha, Irineu Franco Perpetuo, um dos grandes tradutores do russo no Brasil, falou de Um país terrível (Todavia), de Keith Gessen. O protagonista do livro, Andrew Kaplan, é um judeu que migrou da Rússia para os EUA com a família, na infância. Especializado em literatura russa, ele busca um rumo para a vida e para a carreira durante a crise financeira de 2008, quando é convocado pelo irmão mais velho para ir a Moscou tomar conta da avó, com princípio de demênci. Ali ele encontra um cenário muito parecido com o de hoje, com a Rússia envolvida numa guerra contra um país vizinho, no caso a Geórgia, e a mídia tomada por propaganda bélica.

Na coluna Um livro por semana, no Estadão, Maria Fernanda Rodrigues falou de Correio amoroso: 20 cartas sobre paixões, encontros e despedidas. O volume organizado por Henrique Rodrigues e publicado pela Oficina Raquel reúne 20 autores convidados a escrever cartas, com total liberdade para encontrar sua maneira preferida de falar de amor. Entre os escritores que participam do livro estão nomes como João Anzanello Carrascoza, Natalia Borges Polesso e Edney Silvestre.

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[19/08/2022 09:00:00]