Novas livrarias de SP compartilham experiências no Papo de Mercado
PublishNews, Talita Facchini, 07/07/2022
Encontro aconteceu dentro da programação do Papo de Mercado da Bienal do Livro de SP e reuniu representantes das livrarias Nova Cidade, Pulsa, Brooklin, Cabeceira, Drummond e Selecta

Na tarde da quarta (06), o Papo de Mercado – espaço da 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo com programação voltada para o setor – reuniu as "novíssimas livrarias de São Paulo". Com mediação de Mônica Carvalho (Livraria da Tarde), o bate-papo contou com a presença de André Latorre (Nossa Cidade), Caroline de Souza Fernandes (Pulsa), Victoria Mantoan (Brooklin), Adauto Leva (Cabeceira), Diego Drumond (Drummond) e Deia Farias (Selecta) que falaram sobre seus novos espaços e sobre o desafio de trabalhar com os livros.

Conhecendo as novas livrarias de SP

A Livraria Nossa Cidade tem seis meses de "vida" e está localizada na Vila Clementino, na Zona Sul de São Paulo. André contou que decidiu abrir o espaço por sentir que o bairro precisava de um lugar diferente, dedicado à cultura e à leitura.

Livraria Pulsa
Livraria Pulsa
A Carol comanda a Livraria Pulsa junto com Fernanda. Elas contam com um espaço dentro de um bar e focam muito na curadoria - já que oferecem poucos títulos no local. A Pulsa conta ainda com um catálogo composto 100% por pessoas ou narrativas LGBT.

Já Victoria Mantoan comanda a Livraria do Brooklin com seu marido e conta ainda com a ajuda de seu pai. Ela abriu a empresa familiar no Brooklin por ter visto a necessidade do bairro de ter um espaço dedicado aos livros - assim como André. "Pessoalmente acredito que a livraria é muito um negócio de bairro, então atuamos muito tentando atrair um público cativo do local”, disse.

Também da necessidade de criar um espaço para os livros na Vila Romana, Adauto criou a Livraria Cabeceira. Em 2018, viu essa oportunidade no mercado, acentuada na época com a crise das grandes redes. No bate-papo Adauto frisou que também vê as livrarias como um negócio de bairro e compartilhou que no feriado de Corpus Christi, o movimento no local foi grande e todos os visitantes foram do bairro.

A ideia de Diego Drummond de abrir - em breve - a Livraria Drummond, também surgiu a partir da crise das grandes. “Se a gente não investir como editora e não acreditar no varejo esse negócio vai acabar. Vai acabar com a livraria e depois com as editoras”, pensou na época. Desde então, procurou os principais livreiros e distribuidores para tentar colocar a livraria de pé. “Se não colocarmos as editoras para apoiarem a ideia de adotar uma livraria esse mercado não vai pra frente”, acredita ele, falando algo parecido com o que é visto na França e que foi abordado na Convenção da ANL por João Scortecci.

E Deia, da Selecta, compartilhou que já trabalha com livros há anos, no mercado das grandes feiras. A pandemia acabou com o nicho de mercado dela e ela decidiu abrir uma livraria - que também será inaugurada em breve. Antes do espaço físico, Deia se adiantou no digital e está presente nos marketplaces, algo que ela disse ter salvado seu negócio.

Como cada uma trabalha a identidade da marca?

O André, da Nossa Cidade, queria um lugar essencialmente pequeno, para ser uma saleta de leitura contemporânea. São 40 m², com dois mil títulos aproximadamente. André também juntou a sua experiência como cenógrafo pra montar o espaço e driblar os altos custos. “A pessoa acha lá um mix muito cuidadoso de literatura, história, psicologia e artes”, contou. Segundo ele, o público que o procura vai atrás de indicações, não só dos bestsellers.

Na Pulsa, as pessoas vão no bar e encontram uma livraria, o que as surpreende num primeiro momento. Como já dito, a loja tem uma curadoria bem nichada, com foco maior no L, G e T e tenta também sair do eixo Sul-Sudeste na hora de escolher os autores das obras que serão vendidas.

Livraria do Brooklin
Livraria do Brooklin
Victoria, da Brooklin, compartilhou que a necessidade de se diferenciar e se destacar não é muito alta, já que é a única livraria do bairro. Victoria também confessou que gosta de livrarias que têm lugar pra sentar e quando foi pensar no espaço, era importante ter um lugar aconchegante pro público passar um tempo. “Tudo isso vai dando personalidade para o espaço e com o tempo vamos fazendo parte da identidade do pessoal do bairro e influenciando suas leituras", disse. Ela comentou ainda que um fator que a surpreendeu foi descobrir que os leitores ainda encomendam livros nas livrarias sem a pressa de que a obra possa demorar mais para chegar do que se tivesse sido comprada no on-line, por exemplo.

Já a Cabeceira tem uma organização diferenciada dos títulos nas estantes. "Tento dar a oportunidade do leitor tropeçar e não cair", disse Adauto. Com a organização diferenciada das suas estantes, ele acredita que o leitor pode achar uma obra que ele não esperava encontrar. "E uma coisa que ficou muito clara pra mim, é que quando o leitor sabe exatamente o que ele quer ler, a minha chance de concorrer com a Amazon é zero”. Por isso, ele aposta nesse "fator surpresa" e também no que ele, como leitor, pode recomendar. Adauto também compartilhou que sente que os clientes se sentem acolhidos e envolvidos no processo de comprar livros. “Esse mercado tem um componente emocional que só os livros e as livrarias possuem”.

Diego contou também que o principal objetivo da Drummond é ser uma grande vitrine para o mercado e que irão focar nos lançamentos. "Devagar o mercado – as editoras – foram percebendo que as livrarias são, sim, importantes", disse. "Na nossa mesa principal, a ideia é ter 100 novos livros toda semana e que o leitor encontre sempre o que o mercado editorial está lançando". A Drummond pretende também dedicar bastante espaço para eventos de lançamento. "O objetivo maior é transformar, refazer, o Conjunto Nacional como esse ponto cultural”.

E Deia, da Selecta, acredita que a livraria é formada pelo entorno. Pensando nisso, ela foi montando os seus clientes de uma forma pessoal, por ser uma leitora e conhecer bem o estoque de onde trabalhava. Ela acredita ainda que a livraria dela vai unir sua experiência com os livros aliada ao relacionamento mais próximo com os leitores.

Como as pequenas livrarias atentem os clientes? Quais canais usam?

André Latorre, da Nossa cidade, pediu ajuda pra quem tem conhecimento sobre o assunto e foi adequando tudo ao seu orçamento. Foi assim que conseguiu montar sua livraria. Depois de dois meses com a loja aberta, implantou a venda on-line, o que acabou não sendo uma boa experiência. Ele decidiu então, abandonar e apostar todas as fichas nos lançamentos e venda direta, isso porque apostar no digital sai caro e sua estrutura financeira ainda é frágil. A Nossa Cidade também vende pelo Instagram: o cliente pede uma obra e vai buscar.

A Pulsa começou primeiro com um site e presença no Instagram, mas Carol contou que depois da abertura do espaço físico, viu queda nas vendas online. "Temos um público que quer compartilhar experiências e o contato pessoal dá mais certo", analisou.

Livraria Cabeceira
Livraria Cabeceira
Victoria contou que na Brooklin, decidiram focar no físico, oferecer vendas pelo WhatsApp e investir em um canal de comunicação central. E escolheram o Insta. Eles ainda não contam com um e-commerce, mas a ideia é ter um site de conteúdo em breve. "Trabalhamos muito no físico, as pessoas do bairro encomendam e às vezes entregamos até a pé. O Instagram também converte muito para o próprio público do bairro", contou.

Adauto, da Cabeceira, pensa pensa em ter site, mas não está presente nos marketplaces. "A ideia é que esse site seja um espelho do que temos na loja, a mesma estrutura, a mesma organização. É uma aposta, porque acho que a presença on-line é importante”. Mas, por enquanto, apostam só no Instagram.

Na Drummond, o objetivo principal é oferecer a experiência sensorial para os leitores. "Queremos que eles peguem, cheirem os livros, queremos convencer as pessoas de que a livraria física tem força”.

Já Deia tem uma abordagem diferente: "Eu tenho um monte de canais”. Ela começou com as feiras porque antes, não tinha dinheiro pra abrir uma livraria física. Para driblar o problema, ela decidiu apostar no nicho de livrarias itinerantes. Mas com a pandemia, acabou descobrindo outros nichos: tratou de montar um site - que não vende bem, muito por conta do investimento -, então encontrou os marketplaces e apostou nas integrações. Deia tem também relação com escolas e buscou outras maneiras de vender livros. Então, para resumir, passado o pior momento da pandemia, ela voltou com as feiras, está com a loja que vai inaugurar, tem as escolas que atende, o site que vende pouco e ainda está presente em todos os marketplaces. “Não concorro com a Amazon, quem comprar comigo vai comprar com o preço que está lá”, frisou, acrescentando: “hoje o Mercado Livre, para mim, é considerado o melhor markeplace”, disse aconselhando os outros livreiros a apostarem nesse canal de vendas.

Por fim, um consenso entre todas as livrarias é a questão de estrutura. Segundo elas, é preciso escolher em que canais apostar porque livraria pequena não consegue dar conta de ter tudo.

E o que fica de lição é: livraria independente, pequena, de bairro, deve mesmo apostar na sua identidade e no relacionamento com o público do local.

[07/07/2022 09:00:00]