Apanhadão: Companhia das Letras pode passar a rejeitar o modelo de consignação, apura Folha
PublishNews, Redação, 28/03/2022
E mais: A retomada de romances ambientados no interior do Brasil; uma entrevista com Elisabeth Roudinesco; e o prelo das editoras

Num final de semana em que as editorias de cultura da grande imprensa estevam atarefadas em acompanhar as atrações musicais do festival Lollapalooza e a cerimônia do Oscar, sobrou pouco espaço para reportagens sobre literatura. Mas há coisas interessantes num resumo do fim de semana.

No Globo, uma grande matéria analítica sobre uma onda na literatura nacional que estaria fazendo as editoras apostarem em autores que voltam suas narrativas para o interior do Brasil. Entre os escritores citados estão Apague a luz se for chorar (Alfaguara), de Fabiane Guimarães; Sismógrafo (Macondo), de Leonardo Piana; Erva brava (Fósforo), de Paulliny Tort; e Dilúvio das almas (Todavia), de Tito Leite. Depois de uma urbanização de conteúdos de romances a partir dos anos 1970, esse movimento de retorno a um “Brasil profundo” é comentado por especialistas. Entre as razões, é cogitado o sucesso de Torto arado (Todavia), de Itamar Vieira Junior.

O Globo destacou também Jovens heróis da União Soviética (Objetiva), de Alex Halberstadt, neto de um guarda-costas de Josef Stalin. Criado em Nova York, o autor traça o passado de sua família durante a ascensão e a queda da União Soviética. Considerado intenso pela crítica, o livro ganha relevância maior quando se sabe que o avô do autor nasceu na Ucrânia. Algumas fraturas sociais entre russos e ucranianos são expostas no relatos, podendo ajudar num entendimento mais amplo da guerra que está sendo desencadeada agora.

Na Folha, segundo apuração da coluna Painel das Letras, começaria a correr entre livreiros uma preocupação após sondagens da Companhia das Letras para abandonar o esquema de consignação entre a editora e as lojas. Na consignação, os livros são deixados na livraria, que só paga sobre as unidades que conseguir vender, em contabilidades mensais. Pelo relatos obtidos pela Folha, a troca de método de venda seria gradativa e estaria, a princípio, excluída dos lançamentos. Procurada pelo jornal, a Companhia das Letras disse estar “impedida de se manifestar sobre suas negociações que estão sob acordo de sigilo. Entre os livreiros, a ação não chega a ser tratada como má notícia, mas sim um ajuste no modelo de mercado.

Ainda na coluna, o prelo das editoras: a Estação Liberdade lança em maio O marinheiro que perdeu as graças do mar, de Yukio Mishima; e Beleza e tristeza, do vencedor do Nobel de literatura Yasunari Kawabata, ambos com tradução direta do japonês. Até o fim do ano também deve chegar o inédito Mulheres, de Osamu Dazai. Já a Boitempo trará um livro de Angela Davis. The meaning of freedom: And Ooher difficult dialogues, ou o significado da liberdade e outros diálogos difíceis, foi publicado originalmente em 2012 e compila uma dúzia de discursos da feminista negra.

No caderno Ilustrada Ilustríssima, uma entrevista com a historiadora e escritora francesa Elisabeth Roudinesco. Em seu livro mais recente, O eu soberano (Zahar), ela tenta compreender o que chama de “derivas identitárias”, fazendo a pergunta: “Como os movimentos emancipatórios do século XX se tornaram o que são hoje?”. Ela explora as mudanças nos conceitos de gênero, raça e identidade para explicar as transformações na militância da esquerda e a questão identitária da extrema direita, baseada no nacionalismo e no ódio.

Lya Luft (1938-2021) foi destaque no Estadão. A discussão foi sobre seu surgimento tardio na cena literária, depois dos 40 anos, quando conseguiu publicar seu primeiro romance, As parceiras. Apesar de escrever desde muito jovem, os livros só chegaram ao público na maturidade o o sucesso veio apenas em 2003, com o best-seller nacional Perdas & Ganhos.

No mesmo jornal, o colunista Sérgio Augusto elogiou Quando deixamos de entender o mundo (Todavia), terceiro livro do chileno Benjamin Labatut, chamado de “obra perturbadora, fascinante e inclassificável”. Aos 41 nos, o autor é saudado como um das vozes mis promissoras entre os autores que escrevem em língua espanhola.

O Valor Econômico publicou crítica de Por que escrever? (Companhia das Letras), de Philip Roth (1933-2018). O volume traz conversas e ensaios publicados pelo autor entre 1960 e 2013. O texto comenta como a relação entre produção literária e vida pessoal, muito forte na obra de ficção de Roth, também fica evidente em suas discussões sobre o ato de escrever.

Outro livro resenhado no Valor é Água fresca para as flores (Intrínseca), de Valérie Perrin. Tratado como “uma história de amor no cemitério”, o livro tem como personagem uma zeladora de túmulos que conta sua vida entre as lápides e seu estranho relacionamento com quem está enterrado ali. Ela é mulher do consagrado cineasta Claude Lelouch e este seu segundo romance vendeu 1,5 milhão de exemplares apenas na França e a Itália.

[28/03/2022 09:00:00]