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Tarde de autógrafos - as origens e a retomada
PublishNews, Gustavo Martins de Almeida, 02/12/2021
Gustavo Martins de Almeida participou de uma tarde de autógrafos na Livraria Janela e isso o inspirou a entender como essa moda chegou ao Brasil

Edimilson, Luciene e Gustavo na sessão de autógrafos na Livraria Janela | Redes sociais do autor
Edimilson, Luciene e Gustavo na sessão de autógrafos na Livraria Janela | Redes sociais do autor
Em setembro deste ano recebi a notícia do lançamento de livro sobre o bairro do Jardim Botânico, da historiadora Luciene Carris, a quem não conhecia. Morador e pesquisador da história desse arrondissement, entrei em contato com ela e marcamos um café na ótima Livraria Janela, creio que a única existente na região.

Lá, apresentei Luciene a Letícia Bosísio, uma das donas da Livraria, junto com Martha Ribas – ambas talentosíssimas, doces e obstinadas, pois a livraria foi inaugurada três dias antes da pandemia - e elas se entenderam.

Pouco tempo depois sou chamado para o lançamento do livro na Janela, com uma conversa, entre Luciene, seu orientador de pós-doutorado, Edmilson, e eu.

Resumindo, às 21h do último dia 23, a Maria Angélica parecia uma rua do interior, com cerca de 30 pessoas atentas, sentadas em cadeiras na calçada, em frente à livraria, atentas, ouvindo e contando histórias do bairro, tudo seguido de autógrafos da autora.

Desse momento especialíssimo veio a inspiração para assuntar a origem da tarde de autógrafos.

Em francês, séance de signature de livres; book signing event, em inglês; ou firma de libros, em espanhol, o evento tarde/noite de autógrafos não tem muitos registros históricos.

Lawrence Halleywell, n'O Livro no Brasil (Edusp, 2005) informa que a introdução desse costume no Brasil caberia a Carlos Ribeiro, da Livraria São José, no Rio de Janeiro, e a Livraria Teixeira de São Paulo, após a Segunda Guerra Mundial. Em nota de rodapé afirma que “o simples lançamento de um livro na presença do autor para autografar cada exemplar vendido foi introduzido pelo mega editor José Olympio, em 1934, com o romance Bangüê, de José Lins do Rego” (p. 276). Tal nota é confirmada a página 441 da mesma obra.

Ruy Castro informa que, em 1921, o Rio de Janeiro tinha várias livrarias-editoras, como Garnier, Laemmert, Briguiet, Francisco Alves Castilho, Quaresma, entre outras.

O fato é que várias matérias jornalísticas atribuem à autora Eneida Moraes a introdução do de lançamento de livros com a presença do autor assinando exemplares, hábito que ela teria trazido da Europa do Pós-Segunda Guerra Mundial.

Matérias da BBC e Estante Virtual contam que Carlos Ribeiro, da Livraria Quaresma, e dono da Livraria São José, teria “promovido a primeira tarde de autógrafos no Brasil em 1954, com o Itinerário de Pasárgada, de Manuel Bandeira” decorrendo daí um hábito crescente, noticiado cotidianamente nos jornais da década de 50. Germano, sucessor de Carlos, e um grande livreiro do Rio, conduziu a Livraria São Jose até o fim, mas não resistiu à concorrência das grandes cadeias e o desinteresse do público leitor pelos clássicos.

Registre-se que a Rua São José, no Rio de Janeiro era o paraíso das livrarias, desmantelado pela chegada de sedes de bancos e empresas, o consequente aumento de preços de aluguéis e a construção do Terminal Rodoviário Menezes Cortes.

Em pesquisa na Hemeroteca da Biblioteca Nacional, a busca pela expressão “tarde de autógrafos” nos jornais de 1920 a 1950 não mostrou resultado.

A partir dos anos 50, muitos lançamentos se deram em tardes/noites de autógrafos, no Rio de Janeiro, grande parte na efervescente Livraria São José. A edição do Correio da Manhã de 29 de novembro de 1959, por exemplo, publica anúncio de um evento de Jorge Amado:

Curioso o anúncio publicado no Correio da Manhã de 06 de janeiro de 1956 sobre tarde de autógrafos (muito mais frequentes que noites naquela época) na Livraria São José, com o destaque para o fato de que “remetemos livros autografados para todo o Brasil”.

Recentemente recebi livro novo pelo correio, acompanhado de cartões postais autografados pelo autor, sem noite de autógrafos, sem custo e sem grande charme.

As livrarias de rua permitiam aos passantes o prazer de apreciar a vitrine, assuntar e comprar diretamente no local.

E o livro autografado é o NFB, non fungible book, termo equiparado ao NFT da moda do momento. Bem infungível pela dedicatória e assinatura do autor.

A competição do mercado editorial é analisada pela revista piauí desse mês, e passa pelas questões tributária e da adoção, ou não, da lei do preço fixo. Compre na Livraria do seu bairro! Shop local!

Como fazer hoje? Transmissão de tarde de autógrafos on-line? Autógrafos pelo Zoom e a foto do autor e do leitor é incorporada ao arquivo do e-book? Se for audiobook, uma palavra de saudação do autor em arquivo de áudio é agregada ao arquivo da obra sonora? Em NFT?

Vamos voltar às tardes/noites de autógrafos! A da Janela foi memorável; um marco!

Gustavo Martins de Almeida é carioca, advogado e professor. Tem mestrado em Direito pela UGF. Atua na área cível e de direito autoral. É também advogado do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e conselheiro do MAM-RIO. Em sua coluna, Gustavo Martins de Almeida aborda os reflexos jurídicos das novas formas e hábitos de transmissão de informações e de conhecimento. De forma coloquial, pretende esclarecer o mercado editorial acerca dos direitos que o afetam e expor a repercussão decorrente das sucessivas e relevantes inovações tecnológicas e de comportamento. Seu e-mail é gmapublish@gmail.com.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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