Uma relação imprevisível
PublishNews, Redação, 25/11/2021
Em 'Kentukis' a autora Samanta Schweblin encarna o lado mais complexo e imprevisível de nossa relação com a tecnologia, renovando a noção de voyeurismo e conduzindo o leitor até o limite da intimidade e solidão contemporânea

Eles estão nas vitrines de Vancouver, Hong Kong, Tel Aviv. Nas lojas mais improváveis de Bangkok, Nova York, Oaxaca. O preço talvez pareça alto, mas os 279 dólares não têm sido um problema: os kentukis são a nova febre mundial. O consumidor escolhe a forma. Um dragão, um coelho, um corvo, de cores e características diversas. Em comum, apenas a câmera acoplada atrás dos olhos e uma condição sedutora, porém temerária: aquele que compra um kentuki aceita ser observado e cria, inevitavelmente, um laço com outra pessoa que, sob anonimato e munida de um tablet, controla o kentuki. A conexão é única, criada ao acaso e, se desfeita, perde-se para sempre. Ter um kentuki – e se transformar em seu “amo” – ou ser um kentuki, em posse de um cartão de conexão que permita seu controle à distância; é assim, com regras simples e de implicações sem precedentes, que o produto se espalha pelo globo. Em Kentukis (Fósforo, 192 pp, R$ 64,90 - Trad.: Lívia Deorsola), Samanta Schweblin constrói um catálogo de histórias privadas sobre um novo tipo de sociabilidade, em meio às virtualidades contemporâneas e encarna o lado mais complexo e imprevisível de nossa relação com a tecnologia.

[25/11/2021 07:00:00]